domingo, 20 de junho de 2010

A Segunda Vinda

Novembro de 1985: sai o divisor de águas "Psychocandy", do Jesus and Mary Chain. Tido como um bombom recheado de cereja e ácido sulfúrico, o álbum dos irmãos escoceses Jim e William Reid trazia a idéia absolutamente original de soterrar lindas melodias pop sob toneladas de  distorção, feedback e reverb. É imensurável o tamanho do estrago que canções como "Just Like Honey", "You Trip Me Up" e "Never Understand" causaram. De My Bloody Valentine à The Raveonettes, a partir do agridoce "Psychocandy"  (impossível escapar do chavão), o rock nunca mais foi o mesmo. Na receita requentada de Paul Baker e John Fedowitz do Ceremony, o Jesus and Mary Chain é o ingrediente principal. Está tudo aqui, etapa por etapa, a começar pelos medidores de nível de sinal de áudio batendo no vermelho em quase todas as faixas - até estourarem definitivamente em "Don't Leave Me Behind", uma ode ao ruído e à microfonia. As baterias eletrônicas (que os irmãos Reid começaram a usar a partir do segundo disco, "Darklands", de 1987) disputam espaço com os vocais no meio do turbilhão de guitarras distorcidas (o wall of sound versão Ceremony), e até arriscam uma programação mais dançante em "Someday", com o mesmo baixo peterhookiano do New Order - algo que o Jesus também tratou de explorar em "April Skies", outra canção de "Darklands". Então, baseado nesses fatos, dá pra considerar "Rocket Fire", terceiro álbum da dupla da pequena Fredericksburg, Virgínia, um mero pastiche do som criado pelo Jesus And Mary Chain? E se o Ceremony reclamasse para si as mesmas influências que levaram os Reid a forjar sua música (Beach Boys, Velvet Underground, Phil Spector, Bo Diddley, Stooges), ao invés de simplesmente trazer para 2010 uma fórmula revolucionária de 25 anos atrás? Bom, a verdade é que o Ceremony - assim como os Mary Chain - quase destroem a música, o que é um tanto estúpido ou divino. E a diferença é que agora a dupla americana dispõe de mais tecnologia pra fazer com que as guitarras soem com esse veneno todo. E acima de qualquer discussão sobre a linha tênue que separa a influência da cópia, o disco merece ser ouvido. Porque sem modismos, adequação ou concessões, "Rocket Fire" é muito bom. Ele equilibra barulho e melodia em doses onde algumas vezes o resultado final é admirável e melhor apreciado nas  músicas onde a drum machine não está tão veloz e os vocais mais inteligíveis, como na faixa de abertura (a empolgante "Stars Fall") e de encerramento (a belíssima "Regret"). E também em "Someday", onde a temática do álbum que gira em torno de "Hey baby, look at the sky, the stars are shining" fica bem evidente. E como no doce psicótico de Jim e William Reid, é no recheio de "Rocket Fire" onde justamente  estão os três melhores exemplos do noise pop do Ceremony: a trinca "Marianne", "Silhouette" e "Don't Leave Me Behind" traz amplificadores prontos pra explodir desafiando tímpanos mais sensíveis. E esse duelo é sempre muito interessante.

Nota: 7
Pra quem gosta de: Ride, Lush, Cocteau Twins, Galaxie 500, Sonic Youth
Links: MySpace, Discogs, Youtube

"Regret":

Um comentário:

  1. hummm...deu vontade de conhecer, valeu pela dica..depois posto minhas observações!!Beijo, Carol!

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