sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sexta Feira Bagaceira: DJ Ross & Double You


Isso é de uma picaretagem que dá gosto. Quando todo mundo achava que não dava mais pro Double You, DJ Ross (o italiano Rossano Prini) mais o vocalista William Naraine gravaram cinco singles em parceria no período 2005/2009. "Get Up" e "Beat Goes On" foram as faixas que se saíram melhor.  


Tanto Ross quando Naraine tem um talento admirável no que tange à manufatura de dance que não dura mais do que um verão. Algum problema? Nenhum. "Beat Goes On", por exemplo, é um primor. Uma obra eurodance de inspiração house que resvala num techno dissolvido em timbres manjados, com letra facinha e um truque que não falha em produções rasteiras como essa: o baixo sintético/emborrachado, de poucas notas, mas que arremessa o refrão pra estratosfera numa levada disco. Porra, se funcionou.

"Beat Goes On": se ficar na sua memória o resto do dia, problema seu.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Acesso Restrito


Dono de um dos discos de eletrônica mais elogiados do ano passado - R.I.P., terceiro do músico britânico Darren Cunningham - Actress voltou à ativa recentemente com um single que faz jus à esquisitice do seu som.


Silver Cloud é inclassificável. "Voodoo Posse Chronic Illusion", a primeira faixa, passeia por longos onze minutos entre estática, ecos de industrial e um um riff canhoto que parece extraído das teclas de um velho Motorola PT-550 que estava esquecido em alguma gaveta. "Floating In Ectasy" (título sugestivo) é um réptil techno movendo-se lentamente num pântano de sintetizadores. "Silver Cloud Dream Come True" não melhora muito as coisas. Tome sete minutos arrastados num minimal andamento ritualístico, com algumas intervenções misteriosas (gritinhos abafados, disparos).

Actress não me convenceu. Admiro quem ainda insiste em percorrer caminhos sem pavimentação no macrocosmo da música eletrônica atual, mas transformar isso em algo audível ou minimamente aceitável é uma tarefa ingrata. Silver Cloud deve seduzir a crítica pela inacessibilidade. É uma leitura rasa, eu sei, mas pra mim, não passou de duas audições.

"Voodoo Posse Chronic Illusion": glitch ambient?

Muito Além Da Selva


Chroma Chords - o segundo álbum de Alix Perez - expande o horizonte drum'n'bass do DJ e produtor belga, flertando naturalmente (e nem sempre acertando) com dubstep, e ainda experimentando com electro, hip-hop e UK garage.



De longe, os melhores momentos rolam quando Perez investe no som que o consagrou: liquid funk plácido, com vocais exalando soul por todos os poros: "The End Of Us", "We Could Have Been" e "Feelings Of Regret". De quebra, uma faixa obrigatória no case de qualquer set drum'n'bass recente: "Playing Games" (com sample dos synths de "Swimming Pool", de Kendrick Lamar).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Caras Novas: Cosmetics



Cosmetics é o casal Nic M (sintetizadores) e Aja Emma (vocais), de Vancouver, Canadá. O som é synthpop na linha do prestigiado selo Italians Do It Better (Chromatics, Glass Candy): sexy, romântico, docemente sinistro.


O Cosmetics soa antigo, mas não envelhecido. Não perde em modernidade para o Crystal Castles, mesmo que desenhe suas linhas de sintetizador com as mãos nos teclados, e não com o mouse em punho.

Seu Olympia EP foi gravado em Abril de 2011, mas a dupla - não convencida do resultado do trabalho - engavetou o projeto por dois anos. Só depois de ouvir novamente as mixagens e praticamente começar do zero, o mini álbum de seis faixas foi lançado, no começo de Agosto.

  Sintetizadores na linha de frente, Olympia EP tem faixas como "Heartbeat", que soa mais Goldfrapp do que o Goldfrapp 2013:



"Black Leather Gloves" é outra ótima canção do EP. Minimalista, traz os sussurros entediados da platinada Aja Emma entre distorções sintéticas, arpejos e beats econômicos de bateria eletrônica:



"Breathless" é um momento mais leve e dançável da dupla:



Minha preferida é "Honey Honey". É o vocal lânguido de Aja, filosofando: "o paraíso é frio como o gelo", sob navalhadas de sintetizador:



Segundo o duo, há um álbum sendo gravado, e ele vem em breve. Nível mantido, entra por antecipação na minha lista de melhores do ano.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Segunda Class: Mayer Hawthorne


Esqueça aquele Mayer Hawthorne do primeiro disco, o sublime A Strange Arrangement (2009). Aquela postura tímida de vocais pequenininhos e falsetes afinados, que captava brilhantemente o soul sessentista da Motown de boa cepa, ficou pra trás. Agora, no seu terceiro álbum (Where Does This Door Go, saiu mês passado), Hawthorne justintimberlakequizou seu som e aparentemente tenta posicionar-se no mercado ao lado do ex-'N Sync e Robin Thicke. 

 
 É R&B de beats moderninhos (tem Pharrell Williams no time de produtores), salpicado de extravagâncias reggae ("Allie Jones") e hip-hop ("Crime", com Kendrick Lamar). Não sei se vai pegar, mas Where Does This Door Go é uma beleza de disco.

"Her Favorite Song": eu não nasci de óculos, eu não era assim.

domingo, 25 de agosto de 2013

Post-Punk De Arena


Big TV (o terceiro disco do White Lies) é rock vigoroso que chupa os ossos do pós-punk, mas compensa com refrões empolgantes e instrumental impecável, cobrindo as composições altamente melódicas com um manto grandiloquente de sintetizadores. Confirma e credencia o trio londrino à um lugar ao lado de Interpol e Editors como um dos melhores álbuns lançados do nem-tão-recente-assim post-punk revival.



Plágio, pastiche, uma das maiores enganações de 2013? Besteira. Provavelmente o White Lies já tomou a posição que o Killers ocupava (só o do primeiro disco), e retoma a sonoridade que em algum lugar dos 80 já serviu de set pra festa gótica, de Echo & The Bunnymen à Gene Loves Jezebel.

Admito que depois de ouvir a ótima "Getting Even", nunca foi tão bom ser enganado desse jeito.

"Getting Even": post-punk de arena.

sábado, 24 de agosto de 2013

Bob Moderninho


Em sinal de desconfiança, meus olhos se espremeram involuntariamente quando fiquei sabendo desse álbum de remixes do padrinho do reggae. 


A compilação Legend (1984) é o disco de reggae mais bem sucedido comercialmente de todos os tempos. O álbum reaparece agora em versões atualizadas para 2013, então seria natural esperar que os clássicos de Marley fossem transformados em dubsteps fuleiros, ou - pior ainda - house bagaceira. Não foi bem isso que aconteceu, mas o resultado também não é pra acender um pra Jah.

Legend Remixed é bastante irregular. Stephen Marley é a prova viva de que o talento não está no sangue. Ele fuçou em quatro faixas e só não conseguiu estragar "Three Little Birds", porque não alterou muito a estrutura da música. Agora, acelerar os vocais de "No Woman, No Cry" pra encaixá-los numa batidinha xinfrim (que vira um vira um negócio meio Skrillex, logo depois), não tem perdão.

Os melhores resultados são os mais previsíveis na lista de remixadores: "Get Up, Stand Up" foi maravilhosamente envenenada pela dupla Thievery Corporation (muito chegada no som da Ilha), "I Shot The Sheriff" parece ter sido feita na medida pro drum'n'bass nervoso de Roni Size, Photek leva "One Love / People Get Ready" pra uma outra dimensão, e a dance orgânica do RAC (Remix Artist Collective) para "Could You Be Loved" acerta pela economia e eficiência.

Já o Pretty Lights experimentou (e errou) demais com "Exodus", a "Is This Love" de Jason Bentley (chupando a batida de "Plastic Dreams", de Jaydee) peca pela falta de inventividade e a quebradeira esquisofrênica do Beats Antique pra "Satisfy My Soul" talvez seja a pior coisa do disco.

Ziggy Marley escreveu nos créditos que "Nada nunca vai ser melhor do que os originais". Uma obviedade tão desnecessária quanto seu remix sem graça para "Stir It Up".

"Get Up, Stand Up (Thievery Corporation Remix)": requer um ajuste nos graves do seu player.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Headshop


Cria do produtor germânico Olaf Pozsgay, o Headshop foi um projeto de três singles lançados no período 1993 / 1995. "Xenomorph" está no debut 4 Sale!, semi-hit que não transcendeu as pistas nem chegou ao airplay significativo, mas fez um estrago considerável pelos clubes mundo afora, vinte anos atrás.

"Xenomorph" capta o hardcore techno num momento especialmente popular (1993). A base tensa sustenta a espetacular profusão de sintetizadores carregados de flanger, num beat lento, que dura até um minuto e meio. A partir daí, o BPM sobe alucinadamente e leva tudo por diante, e - incrível - é uma faixa irresistivelmente dançante, mesmo sem linha de baixo.

Imagine o céu se abrindo de ponta à ponta entre trovões ensurdecedores e relâmpagos cegantes.
"Xenomorph" é isso aí.
 "Xenomorph": marco do underground.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Daqui Para A Eternidade


 Era inevitável. Exatamente como aconteceu com Nile Rodgers, agora é a vez do leviatã da eletrônica Giorgio Moroder oportunamente lançar uma coletânea escorado no recente sucesso de sua parceria com o Daft Punk.


Não sei qual foi o critério usado para a seleção das faixas, mas a lista de Best of Electronic Disco é bem estranha. Começa OK na segunda metade dos 70, sem pular monumentos do bigodudo como "From Here to Eternity" e "E=MC2", mas quando entra nos 80, as coisas ficam esquisitas. Há quatro faixas com o cantor Joe Esposito (incluindo a baba "Lady, Lady, Lady", da trilha de Flashdance) e duas canções com Paul Engemann (a lamentável "Shannon's Eyes" e a pavorosa "American Dream").

Dificuldade em licenciar músicas com gravadoras, privilegiar algumas pérolas obscuras como "I Wanna Funk With You Tonight" (de 1976), fugir das obviedades (Donna Summer / "I Feel Love", Irene Cara / "What a Feelin'", Philip Oakey / "Together in Electric Dreams", Berlin / "Take My Breath Away"), qualquer que tenha sido o motivo para a escolha destas 19 faixas presentes em Best of Electronic Disco, não alivia o veredicto: metade delas são totalmente dispensáveis.

Mesmo sendo Giorgio Moroder.

"First Hand Experience In Second Hand Love": vocoders e arpejos.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Sylvester


Sylvester James foi one hit wonder. Vai ser lembrado por várias gerações pelo hit "You Make Me Feel (Mighty Real)", disco de 1978 que já mostrava as primeiras eletronices do Hi-NRG, tão popular nas pistas no começo dos 80. "Dance (Disco Heat)" do mesmo ano chegou mais alto no paradão americano, mas o legado de "You Make Me Feel" é bem maior - incluindo aí um cover notável feito por Jimmy Somerville (Bronski Beat, Communards), em 1989. Pra lembrar um pouco da obra de Sylvester (que faleceu em 1988), acabou de sair a coletânea Mighty Real: Greatest Dance Hits, que compila dez singles do cantor de falsete potente, mais um remix honesto de Ralphi Rosario pra "Mighty Real". O som datou deveras, mas é um bom documento de uma época em que dançar até se acabar é o que motivava o povo à ir pra boate, e não aparecer na fotinha do Face pós-balada.

"You Make Me Feel (Mighty Real)": vai, diva.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Rihanna


Em Outubro do ano passado, Robyn Rihanna Fenty - tenros 25 aninhos e apenas nove de carreira - foi escolhida pela Billboard "a artista mais importante das duas últimas décadas", baseando-se no número de vezes que a cantora barbadense entrou na parada oficial americana, boa parte em primeiro lugar.

Rihanna tem bons singles, inegável. "Umbrella", de 2007, por exemplo, já é um clássico pop. Ganhou versões de mais de 30 artistas, incluindo Mike Shinoda (Linkin Park), Manic Street Preachers e My Chemical Romance.


Minha faixa preferida dela é "Disturbia". Um electropop de refrão perfeito, vocal com auto-tune discretinho, backings lindos, chiclete, eufórica. E ela - como sempre - está absolutamente deliciosa no vídeo. Um espetáculo.

Pena que voltou pro Chris Brown, mesmo depois de ter tomada um esfrega bonito desse imbecil em 2009. Vacilona.

"Disturbia": vem ni mim, Rihanna.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Quarta do Sofá: Zucchero & Paul Young


Esses italianos. Apaixonados, passionais, exagerados... o carcamano Adelmo Fornaciari - nome artístico Zucchero - compôs e interpretou "Senza Una Donna" em 1987, e em 1991 decidiu chamar o multi-platinado Paul Young para regravá-la em inglês numa parceria que rendeu um hit nos lugares mais altos das charts de onze países europeus (ouro na França e Suécia). Aqui no Brasil, bastou entrar na trilha da novela Perigosas Peruas pra invadir as rádios pop e garantir execução eterna na frequência adulto-contemporânea.

"Senza Una Donna (Without a Woman)": sem mulher.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Black Music


Zomby raramente expõe a fuça em aparições públicas ou fotos, o que tanto pode significar uma ação de antimarketing a favor do marketing quanto um lembrete pros seus fãs se concentrarem na música. E o som desse britânico merece atenção.   


Seu terceiro álbum, (With Love, bela capa acima) saiu mês passado e flagra Zomby pulverizando suas ideias em 33 faixas que unem-se umas às outras na trombada, numa mixagem propositalmente conflitante.

É como se você passasse uma noite inteira sambando numa discotecagem e colidindo faixas que não tem absolutamente nada em comum, como o garage seco da abertura "As Darkness Falls" chocando-se com a refrescante "Ascension" - que merecia bem mais que seus 59 segundos de duração - ou o techno "This One" batendo de frente com a ambient "Vanishment". E é assim, sem fade out, sem quatro segundos de intervalo, sem o menor pudor de unir músicas tão diferentes a força.

O que não dá pra reclamar desse disco é de falta de diversidade. Zomby ataca em praticamente todas as frentes do underground dance inglês, indo do jungle casca-grossa ("It's Time", "Overdose") até o dubstep mais recente ("Orion", "Digital Smoke"). No caminho, eletrônica lúgubre (na boa linha de baixo de "Isis"), drum'n'bass enlouquecido ("777") e vocais sem sexo definido ("Rendezvous"), tudo pontuado por bumbos que levam as baixas frequências às profundezas.

With Love oferece vários aspectos sonoros, mas mantém uma linha condutora facilmente identificável: suas composições não sentem-se confortáveis à luz do sol (sintomaticamente, é o segundo álbum de Zomby que sai pela 4AD) e funcionam muito melhor no fone de ouvido.

"As Darkness Falls": bleeps hardcore.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Segunda Class: Flunk


Novo álbum do bom quarteto norueguês Flunk, Lost Causes saiu no final de Abril.


O som não difere de seus discos anteriores: é folktronica com climinha de trip hop noventista valorizando os sempre agradáveis vocais sussurrados de Anja Oyen Vister.

Nada que vá mudar sua vida - e nem é essa a intenção de uma banda inofensiva como o Flunk - mas é o tipo de disco pra deixar tocando sem se importar, que ele cumpre bem o papel de trilha pra preguiça. Pra segunda à noite, recomendo.

"Lost Causes": saudade dos 90.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Erasure


Fãs de carteirinha do ABBA, o Erasure seguidamente visitava o repertório do grupo sueco nos shows, até "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)" entrar em The Two Ring Circus (compilação de remixes e faixas ao vivo de 1987).  


Foi somente cinco anos depois que a dupla britânica decidiu registrar num EP quatro covers em formato synthpop para clássicos de Björn Ulvaeus e Benny Andersson, e o resultado foi certeiro: Abba-esque era o primeiro single do Erasure a chegar no topo da parada inglesa. 

"Take a Chance on Me" é a melhor faixa aqui, technopop reluzente de batida nervosa, que se transforma em raggamuffin no trecho rapeado pela MC Kinky.

Kitsch, cabaré, sintetizadores, dance music, ABBA e rap parece uma mistura indigesta, mas lá no meio de 1992, o Erasure conseguiu transformar em música boa e diversão.

"Take A Chance On Me": gatinhas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sexcrime (Two Thousand And Thirteen)


Desta vez, nem o Google conseguiu. Não arrumei nenhuma informação a respeito desse misterioso inS (inSolence). Esse projeto atiçou minha curiosidade (desde que ouvi o EP Loveheadshot, neste último final de semana de Julho) e minha libido (desde que assisti o vídeo pra faixa título do EP). 

"Loveheadshot" é um cruzamento entre R&B e soul music apoiado numa base eletrônica de graves bombados, vocais lascivos (ainda não descobri se a voz é masculina ou feminina) e uma batida que se arrasta vagarosa e comportada, até te desorientar por completo numa síncope rítmica que envolve rufos, loops e efeitos, nos últimos trinta segundos.

INS - LOVEHEADSHOT from Alexander Tikhomirov on Vimeo.
Agora, imagina que as duas bonus tracks ("Dreamz" e "Nosuffer") de Loveheadshot são tão boas quanto a faixa principal, e temos o melhor EP do gênero em 2013, até agora:

Sexy as hell. Pra lista de melhores do ano, já.