segunda-feira, 31 de julho de 2017

I'm Like a Bird


Com uma abordagem muito particular sobre a música eletrônica - o que inclui o uso de alguns instrumentos nem tão convencionais ao gênero (como o sagrado trio baixo-guitarra-bateria) e outros que fogem a qualquer tipo de categorização (brinquedos e até um sincronizador de filmes 35mm) - o quarteto mezzo americano mezzo canadense baseado em Toronto, Holy Fuck, segue entortando o óbvio com seus experimentos que fundem ousadamente o orgânico e o sintético - a despeito do grupo dispensar formalmente o uso de computadores em suas composições.

Somando quatro álbuns na discografia (o mais recente, o elogiado Congrats, é do ano passado) e vários singles no currículo, a banda acabou de lançar o novo EP, Bird Brains, pelo selo californiano Innovative Leisure, gravado no esquema ao vivo do "1-2-3-4, valendo!". A faixa título foi disponibilizada no Youtube há alguns dias num curioso vídeo que traz a banda animando uma festa que "...explora a ideia da histeria em massa", segundo a diretora Allison Johnston. Investindo no lado mais cerebral da dance music numa canção que poderia ser definida como um mix improvável dos pioneiros Silver Apples com o injustiçado Add N To (X), "Bird Brains" pode não soar familiar ao ouvinte médio numa primeira audição, mas leva pouco tempo para a estranheza viajar do cérebro para os pés.

"Bird Brains": entortando a dance music.

domingo, 30 de julho de 2017

A Volta Do Que Não Foi


O duo synthpop Monarchy deu azar de ter começado a chamar atenção por volta de 2010, justo numa época em que todo mundo estava maravilhado com o Hurts. Com uma bem cuidada e misteriosa imagem e uma sequência empolgante de singles ("Gold in the Fire", "The Phoenix Alive") e até um lado B que causou frisson na blogosfera ("Black, The Colour Of My Heart"), o duo formado por Andrew Armstrong e Ra Black viu seu álbum de estreia (autointitulado) ser abortado pela gravadora Mercury Records, que rompeu o contrato com a dupla meses depois de tê-lo assinado. O bom debut só sairia no ano seguinte, com novo nome (Around the Sun) pelo selo 100% Records, quando o interesse pela sua música parecia ter diminuído. A dupla chegou a encerrar atividades um mês após o lançamento do segundo disco (o razoável Abnocto, de 2015), mas reconciliou-se pouco tempo depois, continuando a gravar (lançaram o fraco EP de covers Re|Vision, ainda em 2015) e fazendo shows. Armstrong e Black retornam em 2017 com um novo single, "Hula Hoop 8000", agora lançado pela Warner Music espanhola. A canção é um technopop límpido e de fácil audição, que assimila elementos de flamenco e que tem nos vocais em falsete de Ra Black um diferencial decisivo - fugir do modelo barítono/atormentado de Dave Gahan (Depeche Mode) é altamente positivo num campo minado de imitadores - além de, musicalmente, o Monarchy ganhar em sofisticação em relação à seus coirmãos do segundo escalão (especialmente o futurepop urdido por boa parte das bandas germano-escandinavas). Eles continuam bons compositores de pop sintético, num sentido Vince Clarke da afirmação e embora "Hula Hoop 8000" ainda esteja longe das encantadoras canções da primeira leva do Monarchy, não é de se descartar que seu apelo pop faça-os voltar à ordem do dia.

 "Hula Hoop 8000": o Monarchy emerge mais uma vez.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Anything Box


Um mix ralinho de New Order (fase Factory) e indie pop tristonho, com letras especialmente mal feitas e um visual constrangedor. Esse é o californiano Anything Box. Comprei o álbum Peace (1990) por causa do semi hit "Living In Oblivion", mas hoje não tenho paciência de ouvir. É ruim demais. A xerocada na banda de Barney Sumner é óbvia (ouça "When We Lie" e "Kiss Of Love" e comprove), mas o Anything Box chegou nesse som com pelo menos cinco anos de atraso em relação ao outro lado do Atlântico. Soa defasado pacas. E piegas. Estranhamente cultuado em alguns países da América do Sul (vez ou outra rola um live modesto por aqui), o Anything Box ainda está na ativa - provavelmente vivendo de um passado onde disputava um lugar no segundo escalão com gente como When In RomeCause & Effect.

"Living In Oblivion": o título diz tudo.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Novas Manobras Eletrônicas


Em 2018 o Orchestral Manoeuvres in the Dark completa 40 anos e por enquanto o grupo prepara o terreno para o lançamento de seu décimo terceiro álbum, The Punishment of Luxury, programado para Setembro. Reduzido ao duo - que sempre foi a espinha dorsal da banda - Paul Humphreys e Andy McCluskey, eles acabaram de lançar o segundo single que precede o álbum (o homônimo "The Punishment of Luxury"). O primeiro, "Isotype", saiu em Maio:

"Isotype":



Tanto a faixa título quanto "Isotype" equilibram-se entre o eletrônico e o pop; nem tão ousadas quanto as faixas do absurdamente criativo Dazzle Ships (1983), nem tão escorregadias quanto as canções do fraco Universal, de 1996.

"The Punishment of Luxury":



Em comunicado a imprensa, McCluskey disse que "... neste álbum, conseguimos fazer coisas lindas com ruídos e padrões repetitivos..." e é mais ou menos isso que se ouve nos dois singles e especialmente em "La Mitrailleuse" (bem mais experimental), outra faixa que o OMD liberou para audição há dois meses.

"La Mitrailleuse":



A banda começa amanhã (28/07) a turnê de divulgação de The Punishment of Luxury, primeiro pelas Américas do Norte e Central, depois Europa, estendendo-se, a princípio, com datas até Dezembro.  



terça-feira, 25 de julho de 2017

Bolo De Carne


Confesso que passei batido pela faixa "Bon Appétit" - talvez por estar no meio de um disco fraquinho como esse Witness, último da Katy Perry. Isso até assistir o vídeo, tardiamente (foi pro Youtube em Maio). São quatro pantagruélicos minutos em que Katy é sovada, temperada e levada ao fogo pra cozinhar em alta temperatura, num festival de metáforas que dão margem a uma série de piadas óbvias, inevitavelmente. A música, agora vista por mim de outra perspectiva (a que associa o som a imagem, claro) é - justiça seja feita - bom pop, vai. E Katy Perry está mais gostosa do que nunca, prontinha pra ser comida (não resisti).

"Bon Appétit": delícia.

domingo, 23 de julho de 2017

Andiamo Alla Spiaggia


Termoli, uma antiga vila de pescadores, fica na Costa Adriática na pequena região de Molise, Itália. De um lugar ainda não muito explorado pelo turismo desenfreado e que tem suas praias muito bem preservadas - assim como seu centro histórico - e que praticamente multiplica por três o número de habitantes durante o verão, é que o DJ e produtor Marcello Mansur foi buscar inspiração para seu novo single, "Termoli (The Cala Sveva Song)". A música é um pouco do que a pequena Termoli representa: a fusão do moderno com o tradicional, praticamente uma jam com os violinos incisivos do excelente músico Amon Lima (da Família Lima) e os teclados e programações de Meme, numa house baleárica e sonhadora. Encaixa-se confortavelmente ao lado de canções como a clássica flautinha disco de Van McCoy em "The Hustle" (1975) e os doces assovios de Frankie Knuckles na espetacular "The Whistle Song" (1991). À venda com exclusividade pelo Traxsource, "Termoli" saiu pelo selo de Meme - o Memix Recordings - e vem com quatro remixes adicionais, por David Penn, Danny Dee, Bruce Leroys e Sonic Future.

"Termoli": pra dançar sonhando.

domingo, 16 de julho de 2017

Good Good Mix


Ótima pedida o recém lançado quadragésimo sexto volume da Late Night Tales, série de coletâneas realizadas desde 2001 pelo selo independente britânico Night Time Stories Ltd. e que traz sempre alguém bacana na curadoria (artistas como Groove Armada, Nightmares on Wax, Sly & Robbie, Jamiroquai, Belle & Sebastian, Air e Fatboy Slim, já mixaram suas preferidas do fim de noite para a série). 


Desta vez a seleção ficou aos cuidados dos canadenses do BadBadNotGood e traz uma mistura bem eclética, mas que conversa muito bem entre si, como deve ser um bom set. Tem soul divino ("Don't Let Your Love Fade Away" de Gene Williams [1970], "Home Is Where the Hatred Is" de Esther Philips [1972] e "Oh Honey" do Delegation [1978]); reggae paleolítico ("People Make The World Go Round" de Errol Brown And The Chosen Few [1972]); o jazz-funk cabeçudo de Thundercat ("For Love I Come", de 2011); rock lisérgico ("Baby", dos ilustres desconhecidos - pra mim - Donnie & Joe Emerson [1979]); representantes de Gana, Etiópia e Camarões (Kiki Gyan, Admas e Francis Bebey, respectivamente); eletrônica experimental e retrô (Boards of Canada e Stereolab) e, para minha total surpresa, o groove sensacional de Erasmo Carlos em "Vida Antiga".

Conforme indica o próprio pessoal do BadBadNotGood, "...este mix vai te deixar em boa companhia numa noite tranquila, sozinho ou com amigos. Você pode ouvi-lo no avião, no ônibus, em uma longa caminhada ou em qualquer situação em que você queira uma trilha sonora para reflexão e meditação." Altamente recomendável.


Uma amostra do Late Night Tales do BadBadNotGood: numa nice, numa relax.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Sexta Feira Bagaceira: 2 Brothers On The 4th Floor


Mal comparando, a Eurodance foi o que a perigosamente rotulada EDM representa pros dias de hoje. Vejamos: apelativa, de fórmulas repetidas e com o olhar sempre desconfiado dos puristas. Hm. A receita da maioria dos projetos do gênero vindos - em sua maioria - da Alemanha, Holanda e Bélgica, continha ganchos fortes de sintetizador, refrão repetido ad nauseum, rappers disparando estrofes na velocidade da luz e um bumbo quicando quase sempre na casa dos 120 BPM. O 2 Brothers On The 4th Floor foi mais uma dessas armações, mas, ao contrário de gente como 2 Unlimited e Culture Beat, não teve lá um desempenho realmente digno de nota nas paradas. Apesar dos poucos hits, chegou a ser bem popular em pistas e rádios. O maior sucesso do grupo é "Dreams (Will Come Alive)", de 1994, que copia algumas ideias do single anterior, "Never Alone" (minha preferida). "Never Alone" não é nenhuma obra de arte, mas é bem feitinha, há de se reconhecer. Tem os vocais berrados (e muito competentes) de Desirée Manders, que, diga-se, era gata demais (confira no vídeo abaixo) e funde - ou dilui, depende do ponto de vista - house, hip-hop, Hi-NRG e pitadas de techno numa dance track, acima de tudo, eficiente. Bonitinha, vai.

"Never Alone": sonhos molhados.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

More Trumpet!


Começa a tomar forma o novo álbum dos californianos do Capital Cities. Em Setembro do ano passado rolou o bom single "Vowels" e há poucos dias os barbudos soltaram o EP Swimming Pool Summer, com quatro faixas zeradinhas e um remix. A faixa título tem tudo pra emparelhar com a excelente "Safe And Sound", de 2012 - até agora, o maior hit de Ryan Merchant e Sebu Simonian. "Swimming Pool Summer" repete o trompetinho característico do som do duo que pontua a bela melodia e a gostosa levada de violões e guitarras da canção. "Drop Everything" tem mais cara de EDM rasteira, mas os bons vocais da dupla e o trompete (ele de novo) provam que bate um coração electropop atrás da pilha de sintetizadores. Em "Drifting", a guitarrinha funky e as intrincadas harmonias vocais garantem um ponto a mais para o EP, enquanto que nem o vacilão Rick Ross consegue estragar a boa "Girl Friday". Por fim, um remix totalmente dispensável de "Swimming Pool Summer" (THCSRS Remix), que lima o trompete e o som de caixa da bateria e deixa a coisa toda meio cambaleante. Saldo final: meio synthpop e meio indie, o Capital Cities se destaca da manada pelo pop eletrônico bem feitinho, dançável e delicioso de ouvir. Eu aposto que voa alto, de novo.



"Swimming Pool Summer": esmero pop.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Príncipe das Trevas


Saiu hoje música nova do trip-hopper Tricky: "When We Die" tem vocais da sua ex-companheira de cama e mesa Martina Topley-Bird, que colabora com o músico inglês desde seu primeiro álbum (Maxinquaye, de 1995). A despeito do habitual (e muito bem vindo) clima soturno, a canção foi gravada em Berlim (onde Tricky vive desde 2015) e não nas catacumbas de Bristol e é tão boa quanto "The Only Way", lançada mês passado como o primeiro single do seu próximo álbum (Ununiform, que sai ainda esse ano). Promete.

"When We Die": doce melancolia.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Cutting The Air


Saiu no último fim de semana a nova dos australianos do Cut Copy, "Airborne". Pra você (como eu) que ficou mal acostumado com o alto nível do (synth)pop urdido pelo quarteto na boa estreia Bright Like Neon Love (2004) e, especialmente, no ótimo In Ghost Colours (2008) e viu a coisa flopar nos três álbuns seguintes, tenho que dizer que se "Airborne" ainda não lembra - nem de longe - aquele Cut Copy, ao menos é melhor que qualquer coisa que eles lançaram de 2011 pra cá. Guitarrinha funkeada com um baixo todo trabalhado no talento e vocais indie-verãozinho bem apreciáveis. Alentador.

"Airborne": mais uma tentativa.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

MahMiami


Depois do sensacional debut autointitulado, lançado em Maio do ano passado, a carioca Marcela Vale equilibra-se entre uma agenda cheia de shows e tempo pra gravar seu novo EP (que sai ainda em 2017), agora pela major Universal Music. A primeira faixa do trabalho, "Imagem", acabou de sair. No som, sai o synthpop oitentista e entra um Miami Bass relax, salpicado por timbres do clássico sintetizador Yamaha DX7 - o primeiro synth digital realmente bem sucedido da história, fabricado pela companhia japonesa entre 1983 e 1989. Quer dizer, se é um DX7 ou se é um synth virtual, eu realmente não sei, mas que a música é legal, é.

"Imagem": mais de seiscentas mil visualizações em menos de uma semana.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Londonbeat


Mezzo inglês mezzo americano, o quarteto Londonbeat parecia estar em todos os lugares em 1991. "I've Been Thinking About You" é uma espécie de Fine Young Cannibals houseificado e foi um hit devastador: chegou ao topo de mercados complicados como a Alemanha e Estados Unidos e a número dois na Inglaterra. Produzido por Martyn Phillips (The Beloved, Erasure), "I've Been Thinking About You" tem vocais soul num falsete afinadíssimo, piano sintético saltitante, guitarrinhas country & western e uma programação de bateria primorosa (repare na tenacidade de tapeceiro persa de Phillips ao encaixar os beats). São ingredientes que garantiram fácil o crossover rádios/pistas naquele inesquecível 1991, um ano especialmente foda para a dance music/eletrônica. Aqui no Brasil a febre durou mais uma temporada, quando a faixa foi incluída na trilha da novela O Dono do Mundo (exibida entre Maio de 1991 e Janeiro de 1992).

Computação gráfica paleontológica e muita cara de pau no vídeo do Londonbeat: