segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Segunda Class: Claudia Gerini


Atriz e dublê de cantora, a italiana Claudia Gerini comete um cover honesto do clássico (clássico?) "Maniac", de Michael Sembello. A versão de 1983 de Sembello foi parar na trilha de Flashdance e chegou a ser indicada pro Oscar de Melhor Canção em 1984, mas foi desclassificada por não ter sido escrita originalmente para o filme. A música tema da película - interpretada por Irena Cara - acabou levando a estatueta.
 

O lance aqui é despir os sintetizadores nervosos da original até sobrar só violão, percussão e uns tecladinhos bem discretos. E a voz de Gerini é pequenininha, mas honestamente, dá pra prestar atenção no que ela canta?

domingo, 28 de outubro de 2012

No Auge da Forma


Senhoras e senhores, acabou de sair um dos álbuns do ano.
Rupert Parkes - que assombrou o mundo do drum'n'bass com a frieza calculada de seus beats jazzísticos no incrível Modus Operandi (1998) - agora é um artista muito mais diverso. A transformação de sua música não deixou rastro qualquer do gênero que o consagrou, e foi resultar no seu mais recente álbum, KU:PALM - uma coleção irrepreensível de eletrônica corpulenta, mas não agressiva.

 
 Não há sequer uma faixa dispensável nesse trabalho. O clima tenso/robótico ronda as 12 faixas, e até quando o BPM sobe, ameaçando transformar-se em techno de pista (duas vezes: em "Oshun" e "One Of A Kind"), o Blade Runner sonoro de Photek não perde a intensidade. A produção é minuciosa e extraordinária, o som é forte e cristalino - mesmo com a espetacular profusão de batidas orgânicas em "Pyramid" (de inspiração oriental), dá pra definir cada kick de bumbo, cada ataque de prato, cada batida no aro e cada rufo de caixa. A trinca que abre o disco é de cair o queixo. A épica "Signals" é a "Papua New Guinea" (Future Sound Of London, 1991) de 2012, com seu bleep mântrico e subgraves de estourar os alto-falantes.

"Quadrant" substitui a caixa da bateria por palmas sintéticas, mas as pedaladas do bumbo garantem um ponto a mais para a variedade rítmica de KU:PALM. Em "Aviator", Photek cria um gancho absolutamente pegajoso e mutante de sintetizador, enquanto slaps de baixo e samples vocais fundem-se ao groove paquidérmico e à batida poderosa. "Shape Charge" é a prima dubstep de "Pyramid", com strings ameaçadores de teclado e clima opressivo. "Munich" surge no meio do álbum para o ouvinte respirar. É um tema plácido de piano conduzido por uma levada house downtempo. Photek desacelera ainda mais na base construída por um loop sintético em "Quevedo", mas retoma os quiques do bumbo no techno "Mistral". A melancólica "Sleepwalking" é a décima faixa, a primeira com letra. Com vocais da cantora búlgara Lina Larsson, é quase um blues eletrônico. "This Love" encerra o álbum de forma densa, com a voz rouca do cantor folk Ray LaMontagne acompanhada por sintetizadores pesados, batida estrondosa e oscilações de baixo típicas do dubstep.  
Photek conseguiu uma unidade difícil de alcançar em KU:PALM. O produtor britânico ganhou experiência necessária para garantir homogeneidade a um trabalho que não se prende a um rótulo, soa extremamente moderno e ainda assim não se rende às facilidades da dance music atual. Obrigatório.
 "Aviator": Photek no auge da forma.

Exageros à Parte

 
Rising & Falling - novo álbum da dupla britânica Layo & Bushwacka! - tem um título muito oportuno. O sobe e desce de BPMs está espalhado pelas 15 faixas; ora sob o domínio do bumbo 4x4, ora com vagas referências vocais imersas em sintetizadores fluidos ("Tender Love").

 
No meio disso tudo, Layo Paskin e Matthew Benjamin tem espaço de sobra pra experimentar: o carnaval eletrônico de "Born In The Backwoods" é uma das melhores coisas do disco; mixa com precisão a batucada digital ao prato sibilante da house music, enquanto "Emotional Intelligence" e "Close To Me" descem a frequência do baixo à níveis subterrâneos. O duo parece remar contra a maré da eletrônica de pista num gênero em que os singles visivelmente tem mais força que os álbuns. O fato é que nem tudo aqui é dançável, e a pergunta é se algumas faixas fazem sentido nesse contexto pra estender a duração do álbum à uma hora e vinte minutos. Fãs da veia mais rebolativa da dupla vão pular climas atmosféricos como "Thylacine" ou "Killer On The Loose", em favor de flertes com o pop ("Can't Hurt You", com vocais de Kim Ann Foxman) e beats engrenados como a sexy "Dancing In The Dark". Mesmo assim, a quebra do ritmo dançante de vez em quando serve como tomada de fôlego pra encarar o lado mais visceral de Rising & Falling.

"Can't Hurt You": house comportada.
LAYO & BUSHWACKA Can't Hurt You (ft. Kim Ann Foxman) by INgroovesmarketing

Norwegian Good

 
Não basta ser prolífico. Tem que ser produtivo em quantidade e qualidade. E os noruegueses Lindstrøm e Prins Thomas não param (de lançar coisa boa).  


 Lindstrøm soltou em Fevereiro desse ano o amargo Six Cups of Rebel, e já tratou de corrigir a rota agora com Smalhans. Seis faixas instrumentais com nomes impronunciáveis mixadas pelo chapa Todd Terje (também responsável por uma das músicas do ano, "Inspector Norse"). Conforme o single Ra-Ako-St / Eg-Ged-Osis (lançado em Julho) já indicava, os pés de Lindstrøm voltam pra pista de dança, mas a cabeça continua no espaço sideral. Sintetizadores analógicos a bordo, Smalhans tem timbres mais macios e amigáveis que seu antecessor, sem diluir a música.

"Faar-I-Kaal": uma das ótimas faixas de Smalhans.






Prins Thomas também embarca na vibe Mochileiro das Galáxias, mas vem um pouco mais progressivo e experimental em Prins Thomas II. Com beats que diferem do bumbo reto de Lindstrøm, seu álbum é um prato cheio de percussão eletrônica em variadas formas. As rajadas de bateria na abertura "Bobletekno (Pepkmiks)" e a suíte electrolounge de "Symfonisk Utviklingshemming" são duas amostras do talento de Thomas na programação de batidas que nem sempre induzem ao movimento. Não que produzir faixas dançáveis seja problema pra ele: ouvindo o baixo gordo de "Tjukkas Pa Karussel" e o techno cerebral de "Søt Kløt", dá pra reposicionar o termo IDM na música eletrônica (geralmente usado pra classificar material que passa longe da dance music). A única coisa que faltou mesmo em Prins Thomas II foi bolar uma capa melhor.

"Symfonisk Utviklingshemming": ladies and gentlemen, we are floating in space.
 
Prins Thomas, 'Symfonisk Utviklingshemming' by Mixmag

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

É Disco, Ó Pá!


Tem um gostinho indelével de melancolia no álbum de estréia do português Luis Clara Gomes, o Moullinex.
 

Flora é basicamente disco music revisitada, mas tem um vernizão electro cobrindo o trabalho. Só que a vibe aqui está mais pro abatimento light da Tina Charles do que pro escapismo do Chic. Fácil sacar o clima fim de festa em algumas faixas: na temática de "Take My Pain Away", no instrumental tristonho de "Darkest Night" ou nos vocais meio deprê de "Déja Vu". Mesmo assim, Moullinex fez um ótimo álbum de pista, com baixos memoráveis (a própria "Déja Vu", "Keep You Close", "To Be Clear"), composições caprichadas ("Tear Club") e momentos de pura euforia disco ("Sunflare"). Gostoso de ouvir pelos arranjos contidos, Flora não é dance music pra pular, mas sim pra manter os pés em movimento. Sacou a diferença?

"Darkest Night": melancolia light.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Deadstep

 
Oliver Jones chegou a 100.000 seguidores no Twitter e ao espoucar da champagne, achou que tinha a ver compartilhar com seus fãs essa compilação de sobras que estavam engavetadas em algum HD empoeirado. Gravadas no período 2006-2009, as faixas vem sendo convenientemente chamadas de "unreleased tracks", e assim fica mais charmoso, convenhamos. Com cara de coisa rara, material inédito. Uau.
 

Bom, aqui o que temos é o jovem londrino dando uma esmerilhada no seu Macbook Pro. Aí vem aquela onipresente e monocórdica batida arrastada do dubstep, timbres de teclado que arranham, derretem e viram do avesso e um subgravezinho que - se você tiver a caixa adequada - vai fazer a porta da sua geladeira dar uma tremidinha. Mas, vou te avisar, 100K Freeizm é um puta disco chato. É uma busca frenética por batidas inovadoras (mesmo sabendo que já não tem muito o que fazer pro dubstep soar renovado), mas zero melodia e zero emoção, o que torna a audição dos experimentos de Skream um exercício de paciência. Com muito, mas muito boa vontade, o dubismo da primeira faixa ("Lemon Drive") é algo que daria pra chamar de reggae futurista, e no encerramento do disco ("Hazey Mind"), dá pra notar que pelo menos rolou um esforço: as baterias apontam pra uma outra direção, tem um climinha de sintetizadores lá no fundo... e só. Esquece esse 100K Freeizm, é uma coletânea extremamente preguiçosa. Ou presunçosa: nego se acha o artistão porque manipula uns softwares e tal. Mas música que é bom... tsc, tsc.

"Fuckin Nutter": mérito pra quem conseguir chegar no fim da faixa.
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Segunda Class: The Beatles


Todo mundo tem um álbum favorito dos Beatles. Eu tenho dois: Rubber Soul (1965) e Revolver (1966). Tentar explicar com profundidade o absurdo criativo desses discos é tarefa pra quem manja de Beatles. Eu me contento em dizer que são meus preferidos. É de Rubber Soul a faixa "Girl", composta pela melhor dupla que a música pop já viu, Lennon e McCartney (mesmo que nos créditos do disco só apareça o nome de Lennon, Macca disse certa vez que duas frases da canção são suas). Enfim. O que importa aqui é a respiração profunda de John nos intervalos das frases, captada pelo microfone (insinuações sobre a presença de cannabis nos takes de gravação já rolaram), enquanto canta melancolicamente que "...ela disse que quando era jovem, a dor iria virar prazer". Pra quem - um tempo atrás - se conformava em segurar a mão da garota, esse mini-manifesto de desejo sexual foi uma mudança e tanto. E esse backing "tchu-tchu-tchu-tchu-tchu", abertamente influenciado pelos Beach Boys? E esse instrumental folk delicado, conduzido pelos violões de George Harrison? Que banda amigos, que banda.

"Girl": os Fab 4 sofrendo por amor.

domingo, 21 de outubro de 2012

Mofo Eletrônico

 
O holandês Tom Holkenborg apontou suas baterias eletrônicas para o big beat e ganhou reconhecimento pelos seus dois primeiros álbuns (Saturday Teenage Kick de 1997 e Big Sounds of the Drags de 1999), até chegar ao sucesso internacional com o single A Little Less Conversation, de 2002. A faixa é uma versão dance de uma canção quase esquecida de 1968 de um certo Elvis Presley, e Holkenborg teve a moral de ser o primeiro artista autorizado a fazer um remix do cantor americano. Em 2003, Junkie XL lança o ambicioso álbum duplo Radio JXL: A Broadcast from the Computer Hell Cabin e consegue reunir um time invejável de cantores que incluiu Dave Gahan, Robert Smith, Gary Numan, Chuck D (Public Enemy) e Peter Tosh (numa participação quase espiritual - Tosh foi assassinado em 1987), entre outros. Apesar de ser um bom disco (especialmente o CD 1), Radio JXL teve desempenho comercial modesto. E o Junkie XL desceu a ladeira.
 

"Nada mais antigo que o passado recente". A sentença matadora de Nelson Rodrigues é o lugar-comum mais adequado pra Synthesized, sexto álbum de estúdio do Junkie XL. A fórmula do rock eletrônico pra pista de dança que deu certo em alguns momentos, aparece embolorada nesse álbum: "Love Machine", "Kill The Band" (algo Gary Glitter) e "Gloria" (cover do Them, de Van Morrison) são três provas de que o tempo passa rápido demais. Holkenborg quase escorrega na house fuleira com a onomatopaica "Twilight Trippin" e a saraivada de riffs de "Klatshing!", perde a mão definitivamente com uma dance track que qualquer Ke$ha faria ("Off The Dancefloor") e fecha Synthesized com "The Art Of Luxurious Intergalactic Time Travel", uma viagem sintética longa na duração e no título, mas que não vai a lugar nenhum. Procurando bem, ali no meio do álbum tem o baixo elástico de "Leave Behind Your Ego", o pop com cara de vinheta radiofônica de "Synthesized" e uma faixa que lembra um Tears For Fears downtempo ("When Is Enough Not Enough"), mas temo que não seja suficiente pra dar um upgrade na carreira de Junkie XL.
 
"Off The Dancefloor": o pop ao alcance de todos.

Techno Irregular


Pascal Arbez perdeu a oportunidade de soltar um bom single em 2012. "Under Your Sun" daria um 12 polegadas bacana, com "Lucky Star" no lado B. Ao invés disso, o francês lançou um álbum cheio, mas o resultado de Rave Age (terceiro disco de estúdio do Vitalic) beira o decepcionante.


 O disco até começa bem, com o peso dos sintetizadores de "Rave Kids Go", cai pra um techno mundano com a distorção e o vocoder de "Stamina", ameaça se reerguer de novo com a levada pop de "Fade Away", mas desmorona a partir daí. "Vigipirate" é uma experiência com timbres ásperos e andamento marcial, "No More Sleep" repete a mediocridade eletrônica de "Stamina" e "The March Of Skabah" tem a melodia sintética mais inaudível do ano. Arbez perde o controle da situação com os vocais sinistros de "La Mort Sur Le Dancefloor" e encerra Rave Age tingindo com tons enegrecidos a morbidez de "The Legend Of Kasper Hauser" (Vitalic compôs a trilha para o filme de mesmo nome do diretor italiano Davide Manuli, nos cinemas este ano). A ótima "Under Your Sun" destoa do conjunto, com seu refrão esperançoso e uma certa aproximação com o synthpop gelado de grupos como o Covenant. "Lucky Star" é um mix honesto de house/techno/progressivo - boa dance track - mas junto com a faixa de abertura e "Under Your Sun", insuficiente pra manter a atenção na totalidade de Rave Age.

"Under Your Sun": uma balada em forma de iceberg.

sábado, 20 de outubro de 2012

Pop Song do Mês: Wanting


"Jar Of Love", da chinesa Wanting (ou 曲婉婷, em mandarim) foi disparada a canção pop mais legal de Outubro. Levadas de violão são infalíveis, deixam tudo com cheiro de verão no ar. E aqui nessa canção ainda tem uma quebradinha de reggae no meio da faixa pra acentuar o aroma. "Jar Of Love" está em Everything in the World, disco da moça lançado em Abril. Bom, desnecessário dizer que ela é uma gracinha, hm? Eu ia, fácil.

Wanting: "I would save all my love, in a jar..."
 

Zapping

 

Levam só 17 segundos (a introdução "Not Important" é a idéia manjada do ouvinte procurando a estação de rádio preferida) até o DJ e produtor francês Nicolas Chaix (I:Cube) ajustar a frequência e mandar 23 balaços no disco de festa que faltava em 2012. E vem tudo mixado num pacotão em que as faixas vão de um à, no máximo, cinco minutos: house, downtempo, synthpop, disco, techno...
 
 
Apropriadamente chamado de "M" Megamix, o álbum celebra em 55 minutos emoções que vão da euforia da pista multicolorida e barulhenta ("Transpiration") à pasmaceira chill out estatelada no sofá do lounge pós-festa ("Omamo", "SH 50 Storm"). Atenção especial ao baixo sedutor de "Bajo Bajo" (o pecado-mor de Megamix: a faixa dura só um minuto e meio!), a psicoléptica "Your Brain" (que te leva pra um rolê rapidinho pelos cantos do seu cérebro não visitados com muita assiduidade), o technopop instrumental de "In Alpha" e "Le Rocher Aux Singes", a daftpunkiana "Get the Fever", a afrodigital "Makossa Suspens" e o garage house de "Club Miniature". Ouvir "M" Megamix é como ter uma TV por assinatura com 24 canais completamente diferentes um do outro. E não precisa nem ficar zapeando pra encontrar alguma coisa boa.
 
"Bajo Bajo": Hein, Nicolas, rola uma extended version com seis minutos?
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: Tragic Error


"_ É tudo uma grande bosta comercial!". Era essa a abordagem do belga Patrick De Meyer sobre a dance music no final dos anos 80 e começo dos 90. Galhofeiro e fanfarrão - mas exímio produtor - De Meyer foi responsável por hits inesquecíveis e algumas das armações bem intencionadas mais divertidas do período. Patrick, o prolífico: T99, Black Kiss, Technotronic (é co-autor de "Pump Up The Jam"), Daisy Dee, 2 Unlimited ("Twilight Zone" é dele) e Tragic Error são exemplos bem sucedidos em sua carreira.  

 
Tanzen foi o terceiro single do Tragic Error, lançado em 1989. Inserida no movimento new beat, a faixa tem vocais trêbados (em alemão), linha de baixo ameaçadora, sintetizadores lúgubres e efeitos primários. Era fácil encontrar admiradores de gótico e technopop que não desprezavam o som do Tragic Error: tinha algo de sinistro por trás daquela muralha de gelo formada pelos synths. Agora, como é que uma música sem refrão, sem apelo radiofônico e um tanto dura de cintura como essa foi se transformar num hit de pista absurdamente popular, é uma pergunta que só Patrick De Meyer pode responder. Cheio daquela suprema ironia que lhe é peculiar.

"Tanzen": De Meyer caindo pelas tabelas.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Back To Acid




Mas o que é o novo EP do Groove Armada? Uma tentativa de retorno à house paleolítica?
 
 
Em No Ejector Seat EP, só faltaram aqueles pianos ensandecidos e vocais berrados por divas desesperadas. O restante da cartilha escrita por Frankie Knuckles está toda aqui: baixos entrelaçados à pratos sibilantes ("Always Take Me Higher"), uma certa sensualidade à Jamie Principle ("Don't Take Your Love Away"), timbres de sintetizador típicos da virada 80/90 ("Chicago Chicago") e freqüências de grave recortadas por riffs de teclado ("The Vicksburg Cut"). Ao contrário do último álbum do Groove Armada (Black Light, de 2010), No Ejector Seat EP não tem nem cheiro de crossover: vai ficar tudo restrito às pistas.

"Always Take Me Higher": aciiiid

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Oitava Maravilha

 
Durante um certo período, a britânica Patsy Kensit foi a oitava maravilha do pop (na Inglaterra, ao menos). Atriz e cantora, Kensit fez parte da banda Eighth Wonder de 1983 à 1989, com alguns hits de modesto desempenho nas paradas européias (exceto na Itália, onde tiveram dois singles no topo da parada local) e maior reconhecimento (sabe-se lá porquê) no Japão. Com o fim do grupo, a moça abandonou o microfone pra se dedicar à interpretação (em 1989, participou de Máquina Mortífera 2, com Mel Gibson e Danny Glover). Numa disputa imaginária com a nossa Gretchen, já casou quatro vezes: Jim Kerr (Simple Minds) e Liam Gallagher (Oasis) estão entre as vítim... digo, entre os ex-companheiros de cama e mesa. Até aqui no Brasil, a patsymania (putz!) respingou: a finada revista Bizz chegou a profetizar numa matéria de capa em 1986: "Te cuida Madonna, Patsy Kensit vem aí!".
 
 
Beleza, ela é bonitinha, fez uns papéis secundários no cinema, canta pelas narinas... mas, e daí? Oras, há pouquinho tempo atrás - para minha total estupefação - descobri que os Pet Shop Boys compuseram e co-produziram "I'm Not Scared" para La Kensit e o seu Eighth Wonder, em 1988. Logo depois, a dupla incluiu sua própria versão da música no álbum Introspective. E ninguém perguntou, mas minha opinião é a de que a versão do Eighth Wonder é tão boa quanto a de Tennant e Lowe. Groove mais lento, mais sexy, baixo disco-sintético, sintetizadores dramáticos, climão ítalo e o vocal fake juvenil de Kensit credenciam a canção à uma das melhores coisas do segundo escalão dos anos 80. Olhaí como vale a pena redescobrir essa (ou não, como diria o Caetano):
 
"I'm Not Scared": playback, tomara-que-caia e a cafonália do Sanremo.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Segunda Class: A-ha

 
Uma caminhada pelo pier, ondas quebrando, Morten Harket lamenta-se - sussurrando - que o verão está se indo e ele está só, e o trio norueguês comete uma canção na medida pra um fim de tarde sem a menor pressa. Quase uma bossa nova futurista, "October" trouxe uma agradabilíssima fusão de metais, cordas, bateria eletrônica e sintetizadores, numa levada prá lá de preguiçosa.
Pra quem dizia que o A-ha praticava uma mesmice pop insistente, "October" foi uma surpresa e tanto. Está no álbum Scoundrel Days, lançado em Outubro de 1986.

"October": "down, in the city..."
 

domingo, 14 de outubro de 2012

The Pacific Age

 
Engraçado como o som do Presets parece estar sempre no limite em Pacifica, terceiro álbum da dupla australiana. "Youth in Trouble", primeiro single (lançado em Junho) e faixa que abre o disco, é assim. Uma turbina de sintetizadores chegando à aceleração máxima, mas sem decolar. Fica taxiando na pista, ganha terreno, acelera de novo. E, metáforas à parte, a pista é o melhor lugar pro Presets mesmo. Seu electropop de refrãos ganchudos e instrumental forte é um energético e tanto pra mexer o corpo, em doses moderadas ("Fall") ou mais intensas ("Surrender").
 
 
 Julian Hamilton (voz) e Kim Moyes (teclados) formam (sem conotação sexual), um belo casal. Os arranjos de Kim mantém domesticados os vocais por vezes extremos de Hamilton (em "Ghosts", por exemplo), com linhas de synths harmoniosos que fazem o contraponto perfeito para o esforço do vocalista. Em "It's Cool", é o contrário: Julian suaviza o ataque para a base sombria da canção. Pacifica dosa em medidas certas pop ("Promises"), audácia ("A.O.") e eletrônica sem concessões ("Push"), num dos lançamentos mais sólidos do ano no gênero. Não é à toa que Hamilton e Moyes aparecem algemados na capa.

"Youth In Trouble": melhor na pista.

sábado, 13 de outubro de 2012

Gata da House

 
Nina Kraviz é DJ, cantora e produtora. Nascida na Sibéria, mudou-se para Moscou em 1999 para estudar odontologia. Acabou escrevendo sobre música numa revista local, trabalhou numa agência promotora de eventos e começou a discotecar em clubes da cidade. Esse background todo fez com que Nina chegasse ao primeiro EP em 2009 ("Pain In The Ass") e ao primeiro álbum (auto-intitulado) agora em 2012.  
 

  Fã de sintetizadores analógicos e colecionadora de vinis, Nina definitivamente não é só mais um rostinho bonito no inflado mundo eletrônico. Seu álbum é um mix sexy de deep house e soulful techno, com várias camadas de teclados atmosféricos ("Walking In The Night", "Working", "4 Ben") e foco mais concentrado nos beats simples (bumbo, palmas e cowbells sintéticos ) do que no baixo. Seus vocais ás vezes não ultrapassam a altura do sussurro ("Best Friend"), mas sua produção é cristalina, minimalista e hipnótica. Nina Kraviz é um debut de deixar coçando o queixo: é dance music pro fone de ouvido ou ambient house pra pista de dança?

"Love Or Go": um dos poucos momentos com o baixo em primeiro plano.

 
Além do talento musical facilmente perceptível, Nina Kraviz é excepcionalmente bonita. Dá um confere:
 

 Bom gosto pra música e linda desse jeito... perfeição?
 



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: Corona


Não, Corona não é o nome da moça acima. O nome dela é Olga Maria de Souza, carioca, ex-bancária. Não sei como ela foi parar na Itália, mas Olga era a cara do Corona, projeto bolado pelo produtor e picareta Francesco Bontempi. Bontempi já havia tido alguns hits gravando hip-house como Lee Marrow, mas em 1993 deslanchou com o single "The Rhythm Of The Night": um milhão de cópias vendidas mundo afora. Curiosamente, nossa Olga tampouco cantava nessa faixa. Cantora, dançarina e vinda de uma família de músicos, ela foi contratada apenas como performer, dublando a música no vídeo e no palco. Os (ótimos) vocais de "The Rhythm Of The Night" - e de várias outras faixas dance de sucesso do período, como "Lady Don't Cry" (Red Velvet) e "The Summer Is Magic" (Playahitty)  - são da italiana Giovanna Bersola. Confirmando a vocação antropofágica da dance music (e a esperteza de caras como Francesco Bontempi), "The Rhythm Of The Night" foi baseada em "Save Me", hit underground do grupo Say When! e tem samples de "Playing With Knives", dos britânicos do Bizarre Inc. O Corona ainda está na ativa, e seu lançamento mais recente é o single "My Song (La Lai)", do ano passado - desta vez com Olga de Souza nos vocais.

"The Rhythm Of The Night": lip sync.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Killing The Killers

 
Eu nunca entendi muito bem o significado da expressão "coxinha". "Fulano é coxinha", "são um bando de coxinhas", etc... Parece que a pecha tem mais de um sentido, mas acho que tem mais a ver com o cidadão que é comportadinho, certinho, chatinho. Mais ou menos como o Killers 2012.


Battle Born, o quarto e recém lançado álbum da banda, é exatamente assim. Um som extremamente trabalhado, polido, esforçado. Há um tratado de não-agressão no disco. Nada aqui incomoda, tudo flui com um positivismo a um passo do irritante. Chavões são distribuídos à rodo, os sintetizadores são exagerados, a música é grandiloqüente e épica e os refrãos miram os estádios por onde a banda deve passar com a próxima tour. Não admira que Battle Born soe assim, com gente como Steve Lillywhite (Rolling Stones), Stuart Price (Madonna) e Daniel Lanois (U2) na produção. The Killers virou a banda que a mamãe quer pra genro, o branco que a família merece. E ainda assim, uma boa banda. Qual o pecado em ser um cara comum? Brandon Flowers é meio caretão, suas letras ficam naquele lenga-lenga de "c'mon baby, the stars are shining", mas isso combina com a imagem de bons moços e com o som quase inofensivo do quarteto. Battle Born é curtível, sim. Tanto quanto um álbum do U2 seria em 1987 - com o messianismo em estado febril de Bono e tudo. Brandon Flowers parece saber exatamente onde atingir seus fãs com canções emotivas como "Be Still", que certamente vai figurar rapidinho entre as favoritas dos seus admiradores. A gente já viu esse filme várias vezes. Foi assim com o 10cc, com o Hootie and The Blowfish e, ops, olha o Killers se infiltrando no grupo aí. Nada a reclamar. Viva os coxinhas.
 
"Runaways": "...the stars are shining". 
  

terça-feira, 9 de outubro de 2012

No Balanço Polar


Bossa nova com letra em alemão executada por um grupo francês? O mix insólito é "Eisbär" do Nouvelle Vague, cover do obscuro grupo suíço Grauzone, originalmente gravada em 1980. A versão dos franceses está no segundo álbum da banda, Bande à Part (2006), um coquetel lounge com versões caipirinha para bandas que vão de Yazoo à Cramps, sem o menor constrangimento.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Segunda Class: Mads Langer


Versões acústicas de faixas radicalmente eletrônicas geralmente mostram que por trás daquela pilha de sintetizadores existe uma canção. A tentativa do dinamarquês Mads Langer foi de despir "You're Not Alone" - hitaço de 1997 do Olive - até sobrar apenas violão, piano e percussão. E ficou sensacional.
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Miko

 
Uma pena que um cara que cravou alguns singles tão legais (ok, foram só dois na verdade: "Relax, Take It Easy" e "Rain") agora apareça com um terceiro álbum tão sem graça.

 
The Origin Of Love tem arranjos de cordas que fariam Bach desistir das sinfonias e tentar a vida como alfaiate ("Make You Happy", "Heroes"), rimas constrangedoras ("Emily, are you stuck or by you gay / If you are, then that’s ok", de "Emily") e uma overdose daquele falsete afinado e irritante (depende do ponto de vista). Duvido muito que esse disco seja tão popular quanto sugere a pretensiosa "Popular Song": "You were singing, all the songs I don’t know / Now you’re in the front row / Cause my song is popular". É um mundo de conto de fadas, onde a fada é, obviamente, Mika.
 
"The Origin Of Love": Mika explica.
 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Hard Bass

 
Não faço idéia de onde vem esse projeto de nome curioso, mas fazia tempo que eu não ouvia uma linha de baixo tão furiosa como essa de "If I Had a Nickel". No EP, ainda tem estilhaços de Kraftwerk em "I Twist You Turn" e mais três faixas curtas e experimentais que dá pra pular sem culpa. O 12" saiu pela Maybe Tomorrow, distribuído pela Kompakt.  

"If I Had a Nickel": se eu tivesse 7,80 €uros, compraria esse vinil.  

    


Segunda Class: Nightmares On Wax

 
"Les Nuits" é o single mais incrível do Nightmares On Wax, projeto do britânico George Evelyn.

 
Baseada em "Summer in the City" de Quincy Jones, a faixa foi lançada pela Warp originalmente em 1999. O que temos aqui é uma espécie de easy listening multifacetado, com um arranjo de cordas macias e deslizantes. Beats secos de bateria e um baixo de reggae formam a base para pequenas espetadas de piano elétrico e órgão Hammond, enquanto uma voz feminina indecifrável flutua pela canção. Obrigatório. Agora, deixa eu me esticar no sofá.

"Les Nuits": muito além de Café del Mar.