domingo, 13 de dezembro de 2015

Discos do Ano: LA Priest


Ex-guitarrista e vocalista da finada banda britânica de dance-punk Late Of The Pier, Samuel Eastgate assumiu seu alter ego LA Priest, abraçou suas influências de David Byrne, Prince e Arthur Russell e lançou (no meio do ano) um dos melhores discos de 2015. Com doses muito bem calibradas de experimentalismo e pop, Inji (Domino) encaixa-se em várias categorias, mas não pertence a nenhuma, especificamente. A primeira metade do álbum é arrebatadora. O funk em câmera lenta da abertura "Occasion", com seus solos lânguidos de guitarra, órgãos sacros e vocais lascivos soam mais Prince do que qualquer coisa do último álbum (HITnRUN phase one, lançado em Setembro) do geniozinho de Minneapolis. "Lady's In Trouble With The Law" é como se Terence Trent D'Arby tivesse ressuscitado da morte artística e lançado um dos singles mais bacanas de soul/pop dos últimos tempos. A desolação instrumental de "Gene Washes With New Arm" parece um pequeno e sintomático reflexo sonoro do atual isolamento de Eastgate num pequeno vilarejo do País de Gales: timbres irregulares de instrumentos indefiníveis que há alguns anos seriam incluídos facilmente sob o guarda-chuva da world music, mas que hoje pedem um novo nome (Ambient, Downtempo, você escolhe). Ainda sem pular nenhuma faixa, talvez a grande canção do disco, "Oino" ("Oh I Know", sacou?) continua com a desafiadora tarefa de tentar descrever que música é essa. Na minha cabeça, parece um reggae muito distante de Kingston, tocado por argelinos. "Party Zute / Learning To Love" é disco torta, com uma linha de baixo brilhante, mudanças de andamento e oito minutos de euforia prontos pra serem consumidos nas pistas menos cafonas. Pra completar, Inji ainda tem a sonhadora "Fabby", a house comportada "Night Train" em BPM baixo e teclados escolhidos, literalmente, a dedo e a progressiva que não dá sono "A Good Sign". O pop atual precisa de mais gente como Samuel Eastgate: ousado, talentoso e com um senso melódico apuradíssimo. Não à toa, cravou um dos álbuns do ano.

"Oino": inclassificável, mas de fácil digestão.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ritmo da Chuva



Tinha tudo pra ser só mais um remix bagaceira, mas a versão reggae de Junior Blender pro hit "It Will Rain", de Bruno Mars, ficou demais. Metais reluzentes e uma melodia que parece ter nascido pra casar com o ritmo caribenho. Blender, aliás, tem uma batelada de boas versões enfumaçadas pra hits fáceis de gente como Adele ("Rolling In The Deep"), Cee Lo Green ("Fuck You") e até Commodores ("Sail On"). Vale o confere na página do cara.

"It Will Rain": ritmo da chuva.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Disco Vegana


"My Mind's Made Up", nova do trio holandês Kraak & Smaak, é puro boogie pós-disco, algo 1982. Guitarra funky escovada convive em harmonia com bassline sintético e slaps reais; timbres de teclados com console de madeira emolduram os bons vocais de Berenice (quem?). Quanta gente tem a manha de produzir um negócio assim, tão bom e atemporal, que passa à léguas do pastiche? Bem pouca.

"My Mind's Made Up": disco orgânica.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Lo-Fi Dub


Chiptune é um negócio meio limitado musicalmente e enche a paciência rapidinho. A minha, ao menos. Dei uma segunda chance pro gênero (?) depois de ouvir No Broken Hearts On This Factory Floor, debut do DJ britânico Jackson James Bailey. O fato de Bailey discotecar com fitas cassete já é esquisito por si só, imagina gravar um álbum inteiro de dub reggae em versão 8 bit. É algo como se Lee "Scratch" Perry tivesse comprado um Nintendo do começo dos 80 e resolvesse tirar um som com o bichinho. A faixa de abertura "Helix Dub", com ruídos e ecos tipicamente Perry, deixa isso bem claro:



Basicamente instrumental, No Broken Hearts traz 16 faixas - seis inéditas e dez lançadas anteriormente em singles (Bailey está nessa desde 2009), remasterizadas especialmente para o disco. Única com vocais (de Vernon Maytone), "Old Pan Sound" não fica nada a dever à matriz jamaicana:


A ideia me parece muito original (nunca ouvi falar em chiptune dub, pelo menos) e o melhor, funciona muito bem. Tem melodias lindas e baixos rechonchudos providenciados por tecnologia fora de linha ou, vá lá, por softwares que recriam com precisão esses timbres datados. No Broken Hearts On This Factory Floor é divertido e altamente apreciável, um disco com faixas que raramente chegam aos três minutos - tempo mais do que suficiente pra Bailey abusar da criatividade com os parcos recursos que dispõe. Por enquanto, é meu disco preferido de reggae de 2015.

sábado, 31 de outubro de 2015

Drumba News


Não se assuste. Ringo e Paul não gravaram um disco de jungle. A figura é meramente ilustrativa. Negócio é que o drum'n'bass nunca estourou em escala planetária e ainda mantém-se muito popular no Reino Unido, mas com focos espalhados em doses homeopáticas no mundo todo. O que, de certa forma, é saudável para o gênero, já que superexposição mata, sem dó. Abaixo, alguns bons lançamentos que me chamaram atenção recentemente.

"Revolve-Her" > Alix Perez



Na ativa desde 2005, o belga Alix Perez já lançou uma batelada de singles e dois álbuns. Sua faixa mais recente, "Revolve-Her", não foge do liquid funk a que seu nome está constantemente associado. Teclados atmosféricos e enxertos vocais filtrados são adicionados de forma moderada, numa track boa pro sofá e pra pista.

 Dreamz Dub EP >  Calibre


Calibre (o irlandês Dominick Martin) mantém o alto nível de suas produções com mais um EP excelente. Dos vocalizes oníricos da abertura "Another" e do encerramento "Believe It" ao clima opressivo que os sintetizadores da faixa título sugerem, Calibre não se apega à mesmice das batidas, explorando o potencial das baterias na mesma medida em que forra tudo com graves que desafiam o capacidade dos alto-falantes.

Savage Circle EP >  Klute



Não é de se estranhar que o DJ e produtor britânico Tom Withers também seja compositor, baterista e vocalista da banda de punk/hardcore The Stupids (onde ele assume o alter ego Tommy Stupid). Seu recente EP Savage Circle saiu pelo histórico selo Metalheadz (fundado no meio dos anos 90 por Goldie e pela dupla Kemistry & Storm) e alterna momentos de fúria ("Westernized", "Mirror") com passagens totalmente ambient ("Arboretum"). A linda "Just What You're Feeling", funde os ataques brilhantes de percussão com a calmaria das cordas sintéticas.

Velocity EP > Nexus & Tight



Outro artista vindo da Bélgica, Tim Cox não se prende somente ao drum'n'bass: já tem no currículo lançamentos que incluem deep house, progressive, techno e até lounge. Seu alias Nexus & Tight (que é somente o nome do projeto, não uma dupla) assume a faceta drum'n'bass com muita competência. Velocity EP saiu em Setembro - a despeito de constar como Radar EP no Soundcloud, vai entender. O que temos são três faixas com nítidas influências de Netsky e Alix Perez, claramente direcionadas para o liquid funk. "Velocity" tem um riff/gancho de sintetizador repetido ad infinitum, enquanto "Prism" e "Spectrum" vem com baixíssimas frequências sustentando as variações da melodia.

 Flashbulb EP > Technimatic



Formado pela dupla inglesa Pete Rogers and Andy Powell, o Technimatic trabalha com as batidas velozes do drum'n'bass envolto em paisagens sonoras cinematográficas e detalhistas. Seu EP mais recente é Flashbulb (saiu em Julho) e traz a participação da misteriosa Lucy Kitchen na ótima "Secret Smile". A faixa título namora o dubstep, mas em "Dirty Hands" e "Remember You", a lenha queima com vontade.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Shampoo


Mas quem é que lembra do Shampoo? Foi uma dupla londrina formada no começo dos 90 por duas colegas de escola, flertaram com a marolinha feminista Riot Grrrl, mas com um ataque sonoro equivalente a um mix entre Boyzone, Salt-N-Pepa e Generation X. Um punkzinho de butique mezzo eletrônico, inofensivo e com uma forte imagem kitsch atrelada. O maior hit da banda, "Trouble" (1994), não pegou nem Top 10 no Reino Unido e tampouco beliscou a parada americana - apesar da campanha bolada pela EMI, que distribuiu 15 mil fitas cassete do single no país, o que serviria como uma espécie de cupom para o álbum completo (We Are Shampoo, lançado em seguida). A faixa ganhou uma sobrevida promocional no ano seguinte, quando entrou na trilha do filme Mighty Morphin Power Rangers: The Movie e garantiu uma certa popularidade para o duo também no Japão. Aqui no Brasil, lembro bem da Transamérica FM tacar no playlist e insistir por semanas com essa música. "Trouble" tem um refrão bem chiclete, um riff mediano de guitarra e um rap simplesmente intragável. O Shampoo lançou mais três álbuns (todos flopados) e acabou em 2000. 

Shampoo: "Uh-oh, we're in trouble..."

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Auto Cover


"Rat Is Dead (Rage)" foi o primeiro single do segundo álbum do Cansei de Ser Sexy, Donkey, lançado em 2008. Adriano Cintra (ex-produtor, baterista, guitarrista, baixista e vocalista da banda) resolveu retrabalhar a faixa e do limão docinho original ("quase grunge", como ele mesmo afirmou à época), fez uma limonada bubblegum eletrônica. Não que a matriz do CSS seja ruim, mas achei que melhorou muito. Participa a dupla curitibana Subburbia nos vocais.

O original:



A nova versão:

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Boogie Nights


Conversando com Marcello Mansur dia desses sobre o lançamento e a ótima repercussão do seu single Son Of a Gun (sob seu novo alter ego house, Mansur) e já sabendo que a próxima faixa de trabalho de seu selo Memix Recordings viria numa encarnação disco (dessa vez, creditado como DJ Meme), sentenciei: "Certeza que aqueles lindos strings disco, habituais em outras produções suas, vão vir nesse single". Aí o resultado. Está tudo em "Disco Knights": uma sessão de cordas com jeitão de MFSB, uma guitarrinha à George Benson, bassline forte e percussão esparsa. Um lindo pedaço de disco-house, versão 2015. Maravilha.

"Disco Knights": disco sublime.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Shania Twain


"I'm Gonna Getcha Good!" já valeria só pela capa. Pra galera da mão direita, claro. Mostra uma sporty Shania de munhequeira e boné de golfista. Uh. Bom, ela podia. Com esse abdômen chapado e no topo do mundo em 2002 (o álbum que contém a canção, Up!, chegaria à casa dos vinte milhões de cópias vendidas), ela poderia estar vestida com todo mau gosto do mundo que não faria diferença. E olha que ela caprichava no visual nos shows e vídeos, do tipo que mergulha no guarda-roupas e sai do jeito que puder. Tecnicamente, "I'm Gonna Getcha Good!" é country, mas também é tão, tão pop, que invadiu outras paradas da organizadinha Billboard. E do resto do mundo, claro. Recomendo a faixa para aquele inevitável momento da sua festinha em que se constate que o limite de 6 decigramas de álcool por litro de sangue já foi ultrapassado, as gravatas estão na cabeça e os scarpins num canto da sala. Não vão faltar cenas lamentáveis, incluindo air guitar e mãozinhas rodopiando no alto simulando uma montaria de rodeio. É sério. Experiência própria.

"I'm Gonna Getcha Good!": futurismo jeca.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Caras Novas: Barotti


A gravadora alemã Gomma Records vende seu novo peixe como um mix de Funkstörung, James Blake e peças sinfônicas. Um blend entre eletrônica e música clássica. E, talvez com um certo exagero, diz ainda que o músico e artista multimídia Barotti "criou seu próprio gênero de música". É techno esquisitinho e nubladão, mas nada que o martelo da Pampa Records já não venha batendo há um tempo. Seu single de estreia She Once Knew é, de fato, bem interessante. Tem a faixa título mais afeita à pista de dança (turbinada por um bom remix de Massimiliano Pagliara) e um lado B quase ambient, com beats quebrados e belas intervenções de cordas. Não é nenhuma revolução, mas é uma brisa fresca para os cansados ouvidos dos clubbers do planetinha. Periga emplacar.

Barotti: das galerias de arte para o estúdio.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

Moço de Fino Trato


Altamente recomendável o segundo volume da série Quantum Physical EP, do multi homem Sam Sparro. Cantor, produtor, compositor e talentoso remixador, também, Sparro é elegância pura na abertura "In Your Heaven", que instrumentalmente revive os áureos tempos do M People. "Hands Up" e "On My Mind" evidenciam os vocais soul do australiano, em levadas dançantes de house charmosa e orgânica. A baladona "We Won't Need Anything but Love" encerra o EP e resume o trabalho: classudo e muito bem produzido. Sparro há muito vem mostrando que é um cara acima da média no pop atual. Merece bem mais reconhecimento.

"In Your Heaven": finesse.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Papa Winnie


Daqueles caras que a ala xiita do reggae ama odiar. Talvez não por acaso, Winston Carlisle Peters (natural da pequena ilha caribenha de São Vicente e Granadinas) fazia um reggae pop bem rasteiro, mesmo. Escorou-se em meia dúzia de covers e chupadas na cara dura pra ganhar alguma popularidade em alguns cantos do globo no começo dos 90 - Brasil incluso. Seu primeiro hit, "Rootsie & Boopsie" usou como música incidental a tradicional canção americana "You Are My Sunshine". Depois vieram "Sorry" (nada mais do que uma versão para "Baby Can I Hold You", de Tracy Chapman) e "I Can't Stop Loving You" (famosa na voz de Ray Charles). Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos o truque que o UB40 usou pra ganhar fama mundial. De Papa Winnie, gosto de pouca coisa. Entre elas, a boa "Roots And Culture" (do álbum You Are My Sunshine, de 1989), que o refrão quase pôs tudo a perder. Não sei o que ele faz atualmente (seu último disco é de 2005), mas de seus shows mais recentes que fiquei sabendo, Winnie foi vendido como "...um dos grandes nomes do reggae mundial". Menos, gente.

 
"Roots And Culture": picaretagem rasta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Boring Creations


Pouquíssima inspiração no mais recente EP do meio chefão da Hot Creations, Jamie Jones (que, curiosamente, saiu pelo selo Cajual Records, de Chicago). This Way EP foi lançado somente em versão digital e divide-se em três faixas de tech house bem ordinário. A faixa título tem um riff de sintetizador que não faria feio num disco do 2 Unlimited. "Baloo" é dance genérica, house de linha de montagem tipo Jay Lumen. A soporífera "Ikki" é pra causar debandada geral na pista, mesmo. O próximo, Jones.
This Way EP: tudo errado.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Zumbizeira


Depois de dois álbuns pela 4AD (os ótimos Dedication, de 2011 e With Love, de 2013), o produtor britânico Zomby assina com a XL Recordings (que tinha no Prodigy uma de suas moedas fortes, até 2004) e, de cara, já programa dois EPs que vão ser lançados no formato doze polegadas no finalzinho de Outubro: Let's Jam 1 e 2.

Let's Jam 2
é o Zomby habitual, um geniozinho eletrônico dubstepeando em graves absurdos e fazendo chover estalactites de sintetizadores no seu fone de ouvido.

Let's Jam 1 é a prova do talento e da versatilidade de um dos caras mais interessantes da música sintética atual: experimentos com
beats irregulares ("Slime") e acid house (as outras três faixas), resultam numa das melhores músicas já gravadas por Zomby: "Surf I". Com um baixo sedutor, teclados circulares e um sample vocal cavernoso, é também uma das dance tracks mais fortes que ouvi em 2015.

"Acid Surf": uma das oito inéditas de Zomby em 2015.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Real Midas Touch


Dias atrás saiu um remix de Lindstrøm para "I Know There's Something Going On", da ex-ABBA Frida. Como dizem, gostei, mas não amei o resultado. Achei um tanto cabeçudo pra acessibilidade que o som da sueca tem por natureza. Pois agora o produtor e notável remixador francês Fred Falke também retrabalhou a faixa. E ficou demais. Falke subiu o BPM, perfumou tudo com sintetizadores vintage, colocou as guitarras funkeadas em primeiro plano e bolou uma linha de baixo rechonchuda. Quem sabe, sabe. O que eu não sei, ainda, é o motivo dos remixes. Tem outro sensacional e bem mais radical (mezzo Electro) feito por um tal TORN, que saiu semana passada. Vem EP reunindo as plásticas em "I Know There's Something Going On" por aí?

TORN Remix:



Fred Falke Remix:

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Children's Day


Ele não é exatamente uma criança, mas já pode comprar a última versão do iPhone sem encher o saco dos pais. O rapper adolescente de Atlanta Ricky Lamar Hawk tem 17 anos, lançou seu primeiro single usando o pseudônimo Silentó em Maio deste ano e - daquelas coisas que não se explica no pop - arrombou a banca. "Watch Me (Whip/Nae Nae)" é um rap de temática infantil e, vai saber porquê, foi pro alto do paradão da Billboard (vendeu quase dois milhões de cópias nos EUA) e vai bem no resto do mundo, também. O vídeo, já passa de trezentos milhões de visualizações no Youtube (!). A letra é uma daquelas bobagens "MMMBop", com sintetizadores de videogame e uma base tipo LL Cool J circa 1987. É divertido, vai.

"Watch Me": Kris Kross versão 2015.

sábado, 10 de outubro de 2015

New New Order


Em 1992, o New Order queria (e precisava) se reinventar, mais uma vez. Da nova ordem proposta após o fim trágico do Joy Division, até então, o grupo já tinha cinco álbuns gravados e havia se consolidado como a banda independente mais importante dos anos 80. Somente no debut Movement (1981), um produtor direcionou o trabalho (o genial Martin Hannett, também responsável pelo pós-punk apocalíptico registrado nos dois álbuns lançados pelo Joy Division). A postura autônoma também em relação ao som e a progressiva aproximação do quarteto com a dance music (que tem no divisor de águas "Blue Monday", de 1983, sua mais clara evidência), definiu o New Order como um grupo que adotava uma postura parecida com a que Andrew Fletcher usou para explicar o modus operandi do seu Depeche Mode, em 1989: "Fazemos música para o quarto, para a sala de estar. Se for tocada nas discotecas, ótimo. Mas nunca chegamos a entender isso." Embora o New Order nunca tenha direcionado seus discos exclusivamente para os quadris dos fãs, cada novo single lançado ganhava fácil as pistas do mundo e a participação esporádica de gente ligada ao electro e hip-hop como John Robie e Arthur Baker foram parte importante do processo. Em Republic (1993), os integrantes - depois de quatro anos afastados e com vários projetos paralelos em andamento - sentem que precisam de alguém para organizar tantas ideias e opiniões diferentes e voltam a trabalhar com um produtor na mesa de som. Tentam com Pascal Gabriel (que havia ganhado prestígio com os primeiros singles de S'Express e Bomb the Bass, na explosão da acid house britânica, alguns anos antes), mas o resultado (segundo o que a tecladista Gillian Gilbert relatou na época), aproxima o New Order do techno hardcore, o que desagrada a banda e a parceria é abortada. O experiente Stephen Hague (OMD, Erasure, Pet Shop Boys) é chamado e seu inconfundível verniz eletrônico borrifado no indie dance do grupo faz de Republic um ótimo álbum dançante, sem perder o costumeiro espírito sombrio que permeia a obra da banda.

Em 2015, a história parece se repetir. Depois de atravessar um longo período com álbuns apenas medianos e poucos singles dignos de nota - mesmo trabalhando com vários produtores diferentes - o cenário agora traz como principal obstáculo a ausência do baixista original (Peter Hook) e o New Order necessita renovação. A adição do substituto Tom Chapman e sua convincente performance no disco novo, esvaziaram minha desconfiança desde o anúncio do lançamento de Music Complete (lançado pela nova gravadora, Mute Records), que dizia respeito ao desfalque de Hook. Só o bassline da linda abertura "Restless" já foi suficiente pra me deixar otimista. No resto do álbum, me rendo ao talento. Mesmo com o fantasma do Capitão Hookie rondando as palhetadas nas quatro cordas de "Nothing But A Fool", o impressionante groove propulsor de "People On The High Line" (uma das duas faixas em que La Roux aparece nos vocais) é todo baseado no baixo de Chapman e seu minuto final, absolutamente sublime (o mesmo acontece na levada italo-disco de "Tutti Frutti"). O baixista mantém a pegada de post-punk dançante na inspiradíssima "Academic" e ainda acompanha com precisão os hi-hats na velocidade da luz de Stephen Morris, em "Singularity".


Outro ponto importante, finalmente, em
Music Complete, é a banda assumir novamente o controle no estúdio. Das 11 faixas, somente duas tem produção do Chemical Brother Tom Rowlands e uma conta com uma polida adicional de Stuart Price. Uma das respostas para o que faz o disco soar tão diverso pode estar nas diversas participações contidas nele. Desde a ficha técnica com gente como Richard X, Steve Dub (engenheiro de som e parte fundamental do sucesso por trás do Chemical Brothers) e Daniel Miller (boss da Mute) incluída, até as colaborações efetivas de La Roux, Iggy Pop e um contido (ainda bem) Brandon Flowers, em "Superheated". A faixa (com Stuart Price regendo o trabalho), coincidentemente, é uma das poucas que não me empolgou em Music Complete. Já Iggy Pop, é um caso a parte. Sua participação em "Stray Dog" celebra um longo ciclo de admiração mútua iniciado em 1977, quando os membros do Joy Division participaram de um show do vocalista do Stooges em Manchester, até a retribuição de Iggy numa aparição do New Order no 24th Tibet House Benefit, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, ano passado. Vale dizer também que o álbum The Idiot, de Iggy (1976), foi o último que Ian Curtis ouviu antes de cometer suicídio e na década de 1980, o New Order costumava tocar o clássico "The Passenger", durante as passagens de som. Um dos pontos altos do disco, a música traz Pop narrando um poema escrito por Barney Sumner, sobre uma base reaproveitada a partir de uma faixa instrumental do Other Two (projeto paralelo do baterista Stephen Morris e da tecladista Gillian Gilbert).  



Há de ser comemorada, também, a volta de Gillian Gilbert, depois de um período de dez anos afastada das gravações com o New Order (de 2001 à 2011). Suas intervenções aparecem em
Music Complete ora criando a atmosfera propícia para as luzes frenéticas de uma pista de dança (como no segundo single do disco, "Plastic"), ora entrelaçadas à brilhante participação do conjunto de câmara britânico Manchester Camerata, notadamente na colisão dos efeitos dos sintetizadores com o belo arranjo de cordas em "The Game". "Plastic", aliás, usa como referência os arpejos clássicos de "I Feel Love", de Donna Summer (produzida por Giorgio Moroder e Pete Bellotte) e reverencia mais uma vez a eurodisco, numa história iniciada com "Blue Monday" e suas inconfundíveis socadas de bumbo da programação de bateria, inspirada em "Our Love", também da trinca Summer/Moroder/Bellotte.


O saldo final é altamente positivo. O New Order conseguiu se recriar, mesmo não oferecendo nada de realmente novo. O que vale aqui é a qualidade das composições, o teor pop em potencial e o instrumental inspirado que sustenta as canções. Se parte dos LPs lançados pela banda nos 80 indicavam claramente uma faceta mais roqueira e outra mais dançante (literalmente divididas entre Lado A e Lado B), a saudável mistura que a banda oferece neste disco (post-punk, italo, house, disco, synthpop) garante diversidade sem que isso afete uma das principais características de sua música: o definitivo e pioneiro cruzamento entre rock e dance music. O (agora) quinteto gravou um disco excepcional e todas as menções à Music Complete que o indicam como "o melhor álbum do grupo em décadas", não são exagero.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Kelly Key


Não se engane. Por trás dessa voz infantojuvenil e da temática aparentemente pueril, Kelly de Almeida Afonso Freitas realizou em 2001 um single pioneiro. Seu debut "Escondido" fundiu pop e R&B de um jeito que o Brasil ainda não tinha ouvido. Produzida, arranjada e executada pelo experiente DJ Cuca, a faixa tem vários elementos que a emparelham com gente grande da gringa da época (Christina Aguilera, Britney Spears), muito bem distribuídos em seus três minutos e meio: do Auto-Tune usado com moderação à guitarrinha funkeada no segundo plano, dos scratches (do próprio Cuca) à ótima programação de bateria, da citação do grupo TLC no loop de violões ao rap deliciosamente desengonçado de Kelly. E não foi só isso. A letra foi na contramão do caminho romântico-fantasioso trilhado pela angelical e soporífera Sandy, falando abertamente sobre sexo e independência pra uma manada de adolescentes que espelhavam exatamente o que o vocal doce e de notas suaves de Kelly relatava. Recém contratada da Warner, "Escondido" ganhou alguns narizes torcidos assim que foi lançada (um excessivo e hipócrita sentimento de pudor pela maneira clara com que o tema foi tratado) e só foi estourar de fato depois que o segundo single de Key, "Baba", tornou-se um dos maiores hits de 2001. Meio sem querer, Kelly Key acabou abrindo caminho pra uma geração que inclui Ludmilla, Anitta e Perlla - mesmo que elas (ou seus respectivos produtores) tenham optado pelo funk carioca como linguagem. Hitaço.

"Escondido": "A inveja mata os impuros de coração..."

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Fake Scottish


Toda vez que eu penso em como a tech house anda decadente, aparece um negócio desses. "Taps Aff For Glasgow" seria uma resposta ao megahit de 2006, "Put Your Hands Up 4 Detroit", do holandês Fedde le Grand? Não sei, mas a música tem a linha de baixo mais simplória que alguém poderia gravar na dance 2015. Minimalista, enxuta e com pouca variação melódica, a faixa pega mesmo pela tonteira que seus movimentos circulares causam. Só lá pelos quatro minutos uns teclados sombrios interrompem o entra e sai de bleeps techno. A parceria entre os DJ alemães Gerd Janson e David Moufang (Move D) rendeu uma das dance tracks mais legais do ano.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Gino Latino


Hoje em dia é difícil entender como é que o Gino Latino foi tão popular nas pistas no final dos 80. Projeto de estúdio pegando carona na forte onda Italo House que varreu o planeta na virada 80/90, o som do Gino Latino era um amontoado de samples (James Brown, Herbie Hancock, Rose Royce e até trechos de um discurso de Malcolm X eram algumas das amostras) enfileirados por cima de bases econômicas e repetitivas, sempre acabando num riff-gancho bem ordinário de sintetizador. Acabou estourando dois singles nos clubs e raves ("Yo" e "Welcome"), mas nunca teve bom rendimento nos paradões, ao contrário dos conterrâneos 49ers, Capella e em quase tudo que o trio de produtores Limoni/Davoli/Semplici (Black Box, Starlight) meteu a mão. Talvez a escassez e pouca variedade de ideias tenha feito com que o Gino Latino não durasse nem meia dúzia de singles. Mas tem gente que, hoje, chama "Yo" de clássico. Há controvérsias.

"Yo":



"Welcome":

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Sun Is Shining


Lembra do Sunscreem? Ingleses de Essex, o grupo teve em "Love U More" um hit bem expressivo no biênio 1992/1993. A faixa entrou no Top 40 do paradão americano, ganhou alta rotação nas FMs e pistas e foi sucesso também aqui no Brasil. Na colada veio o bom debut O₃, com um mix bem dosado de trance, house e breakbeat. Era uma visão pop do techno e funcionava muito bem tanto nas raves quanto nos fones de ouvido. O₃ envelheceu dignamente, tanto que o novo álbum do quarteto (com sua formação original), Sweet Life, lembra bastante a estreia da banda. A comparação não é depreciativa. Prova que o Sunscreem não perdeu a habilidade de compor belas canções dançáveis utilizando inteligência e criatividade nos arranjos ("What Will The Sun Say" é um ótimo exemplo), que a voz de Lucia Holm continua adorável (ouça a arrepiante faixa título) e que é possível abrir mão das soluções fáceis disponíveis na dance atual e apostar num tipo de som em que o grupo realmente acredita: o que privilegia melodias, beats que fogem do lugar-comum, basslines poderosos e construções eletrônicas especialmente bem feitas. A faixa de abertura, "Here's The Summer", poderia fazer as vezes de uma "Love U More" atual. Mas tenho quase certeza que isso não vai acontecer. A razão é simples: ainda há, sim, gente que se preocupa com noções como talento e inventividade na hora de ouvir ou dançar. Questão é que essa fatia do bolo é tão pequena hoje em dia que é incapaz de fazer com que o Sunscreem sequer tenha Sweet Life clicado de forma relevante num serviço de streaming qualquer. Imagina voltar a ter um desempenho comercial digno de nota. Se você puder, não desperdice.

"Shut Up":


sábado, 26 de setembro de 2015

Back To The Jungle


Está sendo exibido desde 14 de Setembro, pela TV de entretenimento britânica Watch, a ótima série Singing in the Rainforest, que leva artistas ingleses pra uma trip de uma semana por algumas das comunidades mais isoladas do mundo. Dia 21 de Setembro, foi a vez do Happy Mondays. Levados para o Panamá (onde conheceram a tribo Embera Drua), a experiência culminou na apresentação de uma faixa inédita da banda, "Ooo La La To Panama", pra uma plateia que nunca ouviu falar dos Mondays, mas interagiu da forma mais espontânea possível, recheando o rock grooveado do grupo com percussão e vocais de apoio. O resultado é sensacional. A música já está disponível para download no iTunes e parte do lucro com as vendas será revertido para a tribo. Palmas.

"Ooo La La To Panama": mancunianos na floresta.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Paula Abdul



Olha, eu era louco por essa mulher. Cantava direitinho, era excepcionalmente bonita, dançava pra cacete e balançando essa franja repicada aí, Paula Abdul atiçava a galera da mão direita na virada dos 80 pros 90. Forever Your Girl - seu arrasador debut de 1988 - vendeu algo em torno de 12 milhões de cópias mundo afora e combinando pop, dance e R&B, gerou sete singles, quatro deles no topo do Hot 100 da Billboard. Nada mau. Minha preferida da moça é "Straight Up", um sacolejo new jack swing pontuado por um trompete sintetizado e um refrão absolutamente certeiro.

"Straight Up": dançava pouco.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Caras Novas: Torul


Torul é uma banda eslovena de electropop liderada pelo compositor, produtor e fundador do projeto, Torul Torulsson (o da esquerda, na foto acima). Na ativa desde 2010, o grupo vem lançando singles e álbuns por micro selos alemães (Low Spirit Recordings, Infacted Recordings), ganhou alguma rotação na MTV alemã com o vídeo stop-motion para a faixa "Try" (2011) e já está no quarto álbum (The Measure, lançado em Março deste ano). Não difere muito do synthpop germânico atual, mas explora bem as influências de tons cinza escuro de Torulsson (The Cure, Siouxie and the Banshees, Dead Can Dance) sem resvalar na caricatura, além de ter uma mão boa pra compor boas canções pop de plástico. Conheci a banda através de uma das faixas de The Measure, a ótima "Difficult To Kill" (também lançada como single). Os vocais de Jan Jenko são meio canastrões, mas a música é bem feitinha, algo entre The Twins e Clan Of Xymox - o que sempre tem boas chances de acertar em cheio os ouvidos de novos e velhos fãs de bandas dark/góticas que não dispensam o uso do sintetizador. Vale o confere.

"Try":



"Difficult To Kill":

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Whole Lot Of Soul


A despeito da predominância chacundum/sintética deste blog, a nova música de Duffy merece o registro. "Whole Lot of Love" é o primeiro single da cantora galesa em cinco anos e a faixa está também no thriller Legend, já em cartaz na Inglaterra e que estreia nos cinemas americanos no começo de Outubro (Duffy também atua no filme). Raízes fincadas no soul, "Whole Lot of Love" tem o lindo timbre de Duffy entre uma linha de baixo demolidora, guitarras sinuosas e metais certeiros no refrão. É uma bela canção de amor que também pode ser um eficiente estimulante pra pista de dança. A ótima baladona "Dear Heart", que está no lado B, não fica muito atrás: Duffy desfila sua voz com a pequena porcentagem de rouquidão necessária pra provocar arrepios sob a flor da pele junto com o vai e vem sedutor do arranjo de cordas e as levadas jazzísticas das guitarras semi-acústicas. A única reclamação sobre "Dear Heart" é o constrangedor fade out em 02:30. Negócio é esperar pra ver o possível desfecho da canção num provável novo álbum. Por enquanto, a sede por Duffy está saciada.

"Whole Lot of Love":



"Dear Heart":

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Chromesthesia


É assim: do nada, de alguém que você nunca ouviu falar, cai no seu colo uma das músicas mais legais já ouvidas nesse 2015. Horixon é a dupla de produtores Andrew Armstrong e Joe Sambrooke, oficialmente eles tem só dois singles lançados até agora (Lifeline, pela Kitsuné, em 2013 e Hold It Like I Own It, pela Eskimo Recordings, de 2015) e acabaram de soltar faixa nova, a incrível "Colours" (com Else Born ao microfone). Lindos strings, baixo picotado e vocais emotivos. Gostei na hora.

"Colours":

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

No Midas Touch


Não sei. Alguma coisa não deu certo nesse remix do cultuado produtor norueguês Hans-Peter Lindstrøm pra faixa "I Know There's Something Going On", lançada originalmente em 1982 (com produção de Phil Collins) por 1/4 do ABBA, a vocalista Anni-Frid Lyngstad (aqui no Brasil, saiu na trilha da novela Louco Amor, um ano depois). OK, Lindstrøm imprime seu carimbo no trabalho (arpejos mil e uma certa suntuosidade space-disco), mas os vocais de Frida não me soaram casadinhos com essa base que ele montou. E esse solo de guitarra fazia todo sentido na pegada roqueira-de-mentirinha do original, mas me pareceu despropositado e totalmente deslocado na versão de Lindstrøm. Ouvir é uma experiência bacana. Dançar é tão excitante quanto assistir uma horinha de TV Câmara.

O original:



O remix:

domingo, 20 de setembro de 2015

Comeback Celebration


Nas bravas lojas de discos que ainda restaram, o Beborn Beton provavelmente ocupa um lugar na prateleira ao lado de De/Vision, Wolfsheim e Camouflage. Você sabe, são aquelas bandas bem intencionadas que, segundo os detratores, sonham em ser confundidas com o Depeche Mode, exploram o lado menos cerebral do synthpop e dificilmente vão conseguir um lugar melhor do que o segundo escalão do gênero. O que chega a ser injusto, porque a persistência destes alemães é admirável: eles seguem lançando discos (estão nessa desde 1989) e, mesmo sem hits, excursionam e mantém uma carreira relativamente estável. O recém lançado A Worthy Compensation (décimo álbum da banda - com belíssimo projeto gráfico, diga-se) veio depois de um hiato de dezesseis anos sem material novo. Talvez não seja uma obra-prima como alardeia o release da gravadora Dependent Records, mas me surpreendeu. E muito.

A faixa de abertura, "Daisy Cutter", é um bom exemplo. É pop eletrônico de antigamente numa linguagem que explora as facilidades técnicas atuais, com a escolha muito feliz dos timbres dos teclados e uma composição que não desperdiça a oportunidade de colocar um bom refrão, no lugar certo.



O Beborn Beton afasta-se do future pop voltado pra pistas alternativas e mais ligado à EBM - como o urdido por gente como Covenant e VNV Nation - e mantém o foco num technopop puro e limpo, sem quaisquer bizarrices de tons gótico/industriais. O que rende faixas realmente inspiradas, como "Last Day On Earth".



As surpresas não param por aí. Há quanto tempo eu não ouvia uma música emocionante, que contraria argumentos infundados dos difamadores do gênero - que alegam que o synthpop carece de sentimento e musicalidade - como "She Cried"? Desde o último do Mesh (Automation Baby, 2013), talvez? A faixa é um dos pontos altos do disco. Tem a dose certa de melancolia - expressa tanto nos vocais de Stefan Netschio quanto na variedade dos sons extraídos dos sintetizadores - e mesmo assim, não esbarra na pieguice.


Em "Terribly Wrong", harmonias vocais bem trabalhadas encaixam-se perfeitamente ao aparato eletrônico, em mais um refrão digno de grudar na memória.



Menção honrosa para a levada pop emoldurada por uma cascata sintética no refrão de "I Believe", para a produção esmerada da faixa título (que é também a única música do álbum que não dispensa formalmente o uso da guitarra) e ainda para a incrível construção épica/futurista de "Who Watches The Watchmen", com suas dramáticas aparições de piano, cordas sombrias e programações de baixo e bateria realmente impressionantes.

Produzido com a ajuda de Olaf Wollschläger (Mesh, Yello), A Worthy Compensation deve ser, mesmo, o disco que o trio anunciou, em caixa alta, no site da gravadora: "...THE BEST ALBUM WE WILL PROBABLY EVER MAKE." Eu, que nunca prestei muita atenção no som do grupo, fiquei surpreso com a qualidade e o nível das composições apresentadas - e a edição de luxo ainda tem sete faixas extras; incluindo remixes, versões alternativas e uma ótima versão de "Folsom Prison Blues", de Johnny Cash. A falta de modéstia ou o bom senso marketeiro da banda justifica-se: a volta do Beborn Beton foi composta e planejada por mais de sete anos, o que resultou nesse que é, disparado, o melhor álbum synthpop que ouvi em 2015, até agora.

"Folsom Prison Blues": Johnny Cash, da penitenciária às pistas de dança.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: Tiësto


Primeiro ponto: eu odeio o Tiësto. Não, pera. Eu odeio a música do Tiësto. Nem conheço o holandês direito, mas - a julgar por algumas entrevistas e pela pose estudada enquanto discoteca - ele tem a maior pinta de maleta sem alça, mesmo. Enfim. Seu trance rasteiro nunca me interessou. Fora aquele remix que tirou o Delerium do anonimato ("Silence", 2000, com vocais da ótima Sarah McLachlan), não tem nada de seu trampo autoral que me chame a atenção. Ah, sim, tem "Who Wants To Be Alone", também. Inclusa no álbum Kaleidoscope, de 2009, a faixa foge da tecladeira épica e dos beats acima de 130 BPMs, característicos do DJ e produtor - como, aliás, boa parte das faixas do disco, que atira em vários alvos e erra quase todos. Com um batalhão de vocalistas convidados (Calvin Harris e Kele Okeleke, entre eles), Kaleidoscope foi uma tentativa de Tiësto provar que nem só de trance vive o homem atrás das pickups. Entrando com os dois pés num pop dance pra lá de descartável, o plano não deu muito certo. "Who Wants To Be Alone" é quase o oásis do disco. Em termos mercadológicos, o single foi um fiasco. Mas ouvindo bem, merecia melhor sorte. Tem a voz anasalada de Nelly Furtado e uma levada boa o suficiente pra manter os pés em movimento. Induz o tamborilar de dedos naturalmente e Nelly deixa o fogo bem aceso durante os pouco mais de quatro minutos e meio de duração. Gosto muito.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

AlunaGeorge + ZHU


O produtor Steven Zhu une forças com a talentosa dupla britânica AlunaGeorge e o resultado é um estouro. "Automatic" sai por esses dias como single e deve estar também no segundo EP de Zhu, o colaborativo Genesis Series (que traz ainda Skrillex, A-Trak e Bone Thugs-N-Harmony). "Automatic" tem o refinamento UK garage do AlunaGeorge, mas quase não consigo perceber a mão EDM de Zhu aqui. A faixa dá uma quebrada no minuto final, o que uma edição pra pista pode limar sem culpa.

domingo, 13 de setembro de 2015

Lições De Um Remix


Imagine a cena: você é um DJ que já tem boas horas de experiência na cabine, mas ainda está dando os primeiros passos no estúdio. Então a gravadora te convida pra fazer um remix de uma faixa estourada nacionalmente. O material que ela te disponibiliza consiste em Gillette, régua e fita adesiva.

Por mais estranho que isso possa parecer hoje em dia, era esse o cenário nos anos 80. A música em questão é "Ela Não Gosta de Mim", da boy band brasileira Dominó - uma versão em português do hit "Standing In The Twilight", da dupla holandesa Maywood. Softwares de edição em computadores ainda não eram nem sonhados e a dificuldade em editar um remix de forma praticamente artesanal era enorme. O DJ e produtor Sylvio Müller, que foi incumbido da tarefa (junto com os DJs Cabello e Grego) de levar o Dominó das rádios e TVs para as pistas de dança, explica - entre um e outro "Mansss!", seu inconfundível bordão - como foi o processo.

De quem partiu o convite pro remix?

O primeiro Dance Mix (série de coletâneas de remixes de faixas do pop nacional dos anos 80, iniciada em 1985) foi um projeto da CBS (atual Sony Music), no qual o DJ Grego foi o encarregado de convidar os DJs para participar do empreendimento. Na época da Pool FM, nós já fazíamos remixes pra tocar na programação diária da rádio, mas para profissionalizar mesmo a situação dos remixes no Brasil, a CBS colocou o Grego para dirigir esse projeto e eu fui convidado pra fazer o remix do Dominó, junto com o DJ Cabello, porque era realmente um remix muito complicado. Já havia acontecido o primeiro remix que foi um sucesso nacional, "Loiras Geladas" (RPM) e o segundo também teria que ir pro mesmo caminho. Então o Grego convidou a mim e o Cabello porque nós editávamos vários gêneros de música - do rock ao pop, soul, black e dance em geral. Topamos editar o Dominó, mas com a condição de que no próximo trabalho tivéssemos o poder de escolher o remix a editar. Nesse Dance Mix nós fizemos o Dominó e uma faixa do Ritchie, "Tele Notícias", também. A faixa que escolhemos pra trabalhar na próxima edição da série foi "Olhar 43", do RPM. A curiosidade sobre o Dominó é que foi uma produção vinda da Espanha, feita por Oscar Gomez, que era um grande produtor musical e nós fizemos as novas mixagens pra música com uma master de muita qualidade (a letra em português foi feita pelo cantor, compositor, maestro e pesquisador Edgar B. Poças, pai da cantora Céu e de Diogo Poças). Na edição, deixamos a música bem pop, pra pista mesmo. Assim, conseguimos dar continuidade a esse tipo de trabalho por aqui e esse remix foi muito importante pra história do remix no Brasil.



E os sintetizadores e baterias eletrônicas adicionais, foram vocês que fizeram, também?


O master
era muito bem feito. Oscar Gomez era um ótimo produtor e nessa época ele já usava sintetizadores, sequenciadores e beats eletrônicos. Na época usávamos a bateria eletrônica LinnDrum. Nosso trabalho com o remix era de deixar a música com um formato mais adequado pra tocar na pista. Então realçávamos as baterias, o groove, deixando os elementos da parte rítmica em evidência. A partir da edição, temos a montagem, que faz com que a música adquira consistência. Esse método de edição que usávamos era do mesmo nível de um Shep Pettibone, Arthur Baker e John Jellybean Benitez, grandes produtores e remixers que nos ensinaram como deixar a música com características próprias de pista. Na edição e montagem da nova versão tínhamos que ter uma sensibilidade muito grande para saber o que cada música precisa e o Dominó foi uma música muito complicada de fazer. O resultado está aí e depois de 30 anos, dá orgulho de ouvir.


E o método disponível na época eram as masters em tape de rolo, Gillette, régua e fita adesiva, mesmo, ou já pintava alguma coisa via computador?

Não tinha computador, não, mans. Nessa época a gente pegava a fita master de duas polegadas, onde havia os canais separados. Fazíamos uma nova mixagem da música e então tirávamos todos os elementos: bateria, baixo, teclados, guitarra, voz, etc... Depois, resolvíamos tudo na edição. Não tinha computador na época. Esse era o segundo estágio. A primeira parte da nova mixagem era abrir o master e só depois ia pra edição, onde fazíamos o chamado half mix, que era pra não ficar quebrando a cabeça no estúdio e ficar gastando muita grana (porque o estúdio era caro). Então fazíamos num gravador Akai o half mix, que era uma prévia do que iríamos editar no estúdio, pra daí então entrar nas máquinas de estúdio. Vale ressaltar que a CBS nos deu suporte pra fazer o trabalho nos melhores estúdios da América Latina, que eram os estúdios da Transamérica. A gravadora nos oferecia engenheiros de som e equipamentos de alta qualidade, depois, era tudo com a gente: cortar literalmente a fita com a Gillette e colar com todos os elementos (vocais acapella, instrumentos) sendo disparados diretamente do tape de rolo. Não tinha nada de software.


O remix chegou a sair numa versão 12" pro mercado ou foi incluída exclusivamente nessa compilação?

Todas as versões que foram incluídas na série Dance Mix, saíram também como promos, mas não foram colocadas à venda. Existe o 12" em vinil e a versão que saiu na compilação era o remix oficial mesmo, idêntica ao promo.

Tu tinhas a informação da lista de equipamentos usados na gravação original da música? Qual sintetizador, drum machine?

Sim. Quando abrimos a master onde estão os canais separados da faixa, a produção do estúdio coloca a lista de equipamentos utilizados, para que possa ser aberto em outros estúdios. Na época era o começo do Yamaha DX-7, dos sintetizadores polifônicos. Eram recursos analógicos que já tinham como ser colocados no sistema de sincronismo que chamamos de SMPTE, que sincronizam as máquinas onde você pode ajustar o tempo de uma bateria eletrônica com um gravador de rolo. Obviamente que nós, como DJs, já sabíamos a diferença entre os sons de um MiniMoog, Hammond, Fender Rhodes... os timbres, tanto de teclados como de outros instrumentos e principalmente de baterias eletrônicas, já estávamos bem informados. Sincronizar, colocar tudo funcionando foi uma etapa de engenharia de áudio, que nós passamos a aprender. Fomos as cobaias desse processo.

 Esse foi, de fato, um dos primeiros remixes feitos no Brasil. Qual foi a repercussão entre DJs, produtores, jornalistas? A faixa chegou a fazer o crossover das pistas pro rádio, chegou a popularizar essa versão nas FMs?
Olha, mans... esse remix foi realmente uma zica (risos). Essa música era muito complicada. Nenhum DJ queria pôr a mão e muito menos tocar. Esse remix fez com que ela entrasse nas pistas e fosse depois, naturalmente, pro rádio. Deixar ela com uma cara de pista de dança é que foi um trabalho de dedicação que tivemos, porque não havíamos feito algo assim anteriormente. Não tínhamos referência, esse foi o primeiro, mesmo. Pegar um grupo super pop e deixar ele adequado pras danceterias foi um laboratório e tanto, onde nós fomos as cobaias e o Dominó, nosso produto (risos).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sexta Feira Bagaceira: F.R. David


Na França dos anos 70, o tunisiano Elli Robert Fitoussi havia tentado emplacar com bandas de rock de garagem, progressivo e até como vocalista em alguns álbuns do Vangelis. Acabou dando certo quando ele saiu em carreira solo, embarcando na onda synthpop do começo dos 80 e assumindo o pseudônimo F.R. David. Com um visual característico (os onipresentes óculos escuros) e a Stratocaster branca em punho, cravou um dos maiores sucessos do biênio 1982/1983: o single "Words" vendeu mais de oito milhões de cópias. Na Europa, bateu no primeiro lugar nas paradas de 13 países (foi número dois na Inglaterra) e, só na França, foram mais de um milhão de cópias comercializadas. Aqui no Brasil, a novela Guerra dos Sexos tratou de popularizar a faixa. Não é minha favorita do artista (mais próxima à italo disco, "Take Me Back" - do álbum de estreia de David, Words - tem minha preferência), mas é uma música bacana. Mesmo com os vocais altíssimos e meio enjoados de Fitoussi, é uma baladinha que funcionou bem nas danceterias da época. E volta e meia aparece no playlist das Antenas 1 da vida.

"Words":



"Take Me Back":

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Memê In The Mix


MEMIX Recordings é o novo selo de dance no mercado "dedicado exclusivamente à música de qualidade influenciada por House e Disco" (conforme definição no Soundcloud). Cria do imparável DJ Memê, a gravadora debutou com o single "Son Of A Gun", creditada como Mansur (sobrenome de Memê). A faixa é uma house robusta com bassline forte (feito num sintetizador Yamaha TX81Z, circa 1987), vários chamados pra pista e sample do Technotronic (um dos synths memoráveis de "Pump Up The Jam"). Planos para lançamentos futuros incluem o próprio DJ Memê (com seu som mais orientado para disco-house clássica) e o misterioso Mordechai, com ênfase na eletrônica.

"Son Of A Gun" está à venda exclusivamente no Traxsource, onde ocupa o segundo lugar no Top 100 do site, com pouco mais de uma semana de lançamento. Promissor.

"Son Of A Gun":

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ilha Techno


Isolée (o produtor e DJ alemão Rajko Müller) lança single novo pela Pampa Records (do DJ Koze). Sai oficialmente dia 11 de Setembro. Não sei qual a relação com a "ilha da magia" catarinense, mas o lado A chama-se "Floripa" (o B, "Favouride"). "Floripa" encaixa-se confortavelmente na onda da Pampa: é tech house com alta variedade percussiva, texturas ligeiramente sombrias e várias camadas de sintetizadores sobrepondo-se. Já "Favouride" tem mais a ver com o estilo minimal e engrenado de Müller. Ambas excelentes.

"Floripa":



"Favouride":

domingo, 6 de setembro de 2015

Química Previsível


A culpa é, de certa forma, do próprio Chemical Brothers. Quando Ed Simons e Tom Rowlands conceberam a obra-prima Dig Your Own Hole (1997), eles certamente não poderiam prever que nada que viesse depois iria superar esse álbum. Substituir parte das baterias cruas do big beat enérgico que estourou o som da dupla mundo afora pelo technão 4X4 que tomou metade do trabalho seguinte Surrender (1999), foi não só uma correção de rota ou busca de novos limites pra sua música, mas também uma clara (e louvável) tentativa de fugir de estereótipos, autorreferências e comparações. A atitude deixou vários órfãos entre os fãs, arrebatou tantos outros (especialmente por causa do hit "Hey Boy Hey Girl") e foi muito bem recebida tanto pelo público quanto pela imprensa especializada. A marca indelével no som do grupo, porém, ficou bem definida e o que não dá pra ignorar é que a partir daí, cada vez que se fala em disco novo do duo, a gente já consegue prever - com bom índice de acertos - o que vem a seguir. O mix de rap, funk, house, psicodelismo e rock não pega ninguém de surpresa. E é aí que está o pecado (perdoável) dos Brothers, independente dos altos e baixos na sua discografia. Em compensação, penso não decepcionar nem quem os acompanha há algum tempo, nem quem está descobrindo a química dos irmãos postiços somente agora. O que vale, claro, é deixar-se levar pelas suas criações que muitas vezes desafiam classificações possíveis, num entra-e-sai de gêneros que fundem-se entre si até gerarem coisas como o big beat - que teve no debut Exile Planet Dust (1995), seu marco zero. Em seu oitavo álbum, Born In The Echoes, lançado mês passado, não é diferente.

 Como sempre, o disco traz cantores convidados e aqui a bola da vez é Annie Clark (St. Vincent). É fato que Rowlands e Simons tem essa certa predileção por artistas cool, mas não vi nada que fizesse diferença em sua participação tímida na gravação de "Under Neon Lights" - ao contrário de gente que já esteve nos créditos de seus álbuns, como Hope Sandoval e seus vocais particularíssimos, por exemplo - fora a impressão de que o fator "queridinha do momento" da musa indie ganha em relevância no que tange ao respeitável fole vocal de uma Beth Orton, outra colaboradora frequente da dupla.

Ali Love também se sai mal. O cantor britânico, que já tem uma faixa (a razoável "Do It Again", de 2009) com os Brothers no currículo, aparece messiânico e irreconhecível no techno "EML Ritual", o que tanto pode ser uma prova de versatilidade do vocalista quanto uma simples adequação à temática proposta (eles sabem o que estão fazendo, mas abrir mão do falsete agradável de Ali é subaproveitar seu potencial).

Já Q-Tip (do A Tribe Called Quest) casou muito bem sua excepcional qualidade de parecer rapear com um prendedor de roupas no nariz com a levada empolgante de "Go!", talvez a melhor música do disco (ele também se saiu magistralmente em outra colaboração com o duo, "Galvanize", de 2005), a despeito do vídeo tenebroso:

Uma das faixas mais legais é a que menos soa Chemical Brothers. A melancolia reluzente e a simplicidade eletrônica de "Wide Open" (com vocais de Beck) lembram um hipotético Hot Chip com um vocalista decente.


O que me dá um certo receio é perceber que eles precisam, eles fazem questão, de destruir boas ideias com alguma minúcia que pareça pretensamente artística. Tome o funk hipnótico de "Let Us Build a City" (incluída como uma das bonus tracks da Deluxe Edition), como exemplo. Precisava mesmo aqueles sintetizadores tocados com os cotovelos? Não sei se é uma estupidez jogar fora uma linha de baixo preciosa como essa com umas bobagens atonais com jeitão de improviso ou se é isso que faz seu som tão particular.


A esquisitice da simplesmente intragável "Taste Of Honey", é uma ode à chatice, mesmo. Trôpega e incômoda, dá pra clicar no botão skip sem a menor culpa. O mesmo vale para "I'll See You There", mais uma faixa inspirada em "Tomorrow Never Knows" (Beatles), assim como "Setting Sun" e "Let Forever Be". "Born in the Echoes" é um bom pedaço de rocktrônica do álbum e a psicodelia de "Radiate", cumpre a função habitual de desacelerar por instantes o andamento quase frenético dos seus discos.  

A remissão de Rowlands e Simons é um clichê surrado, mas válido: a falsa expectativa por material inédito produzido pela dupla é encoberta pela certeza de que os Brothers nunca embarcaram - mesmo - em nenhuma febre de pista qualquer pra se manter "atualizados" e não seria depois de sete discos que isso iria acontecer. Por outro lado, é covardia comparar Born In The Echoes com trabalhos anteriores. Mas é, também, inevitável. Enquanto produto dance/eletrônico, o álbum mantém-se corpos à frente da manada vigente. Tratando-se de um disco da dupla, o resultado desta vez é apenas mediano.

"Sometimes I Feel So Deserted": bleeps techno à exaustão.