Os números impressionam. O carioca Marcelo Mansur tem uma carreira superlativa, construída desde que começou a discotecar, aos 11 anos de idade. São cerca de 150 remixes, 25 produções de singles, 23 produções de álbuns, 23 discos de ouro, 15 discos de platina e 3 discos de diamante. Vale a visita ao site de Memê, o djmeme.com.br, onde você pode ver a lista completa. Memê é um dos DJs mais conhecidos e respeitados do mundo, já trabalhou com nomes do quilate de Mariah Carey, Dido, Justin Timberlake, Lulu Santos, David Morales e Shakira. Gentilmente aceitou responder às 10 Perguntas do blog e o resultado é uma lição de produção, remixagem, discotecagem, bom humor e, principalmente, amor à música. Eis!
1) O que tu consideras como tua assinatura pessoal, aquilo que as pessoas ouvem e dizem:
"é o Memê na produção!"?
1) O que tu consideras como tua assinatura pessoal, aquilo que as pessoas ouvem e dizem:
"é o Memê na produção!"?
Hmmmm... temo errar na resposta,
porque isso não é algo que o artista percebe em si mesmo, mas normalmente parte
dos outros que dizem "QUANDO OUÇO ISTO OU AQUILO, JÁ SEI QUE É VOCÊ".
Eu apenas coleciono opiniões, e aqui vão algumas repetidas: além de
alguns acordes específicos que gosto de usar com 7a Menor, o som dos mixes que
eu mesmo tiro em estúdio já anda reconhecido pela parte mais antenada e sensível
dos fãs. Como sou eu mesmo que mixo tudo desde 1993, é natural que haja uma
assinatura em tal mixagem. Tem gente que só de ouvir os primeiros beats, já me
descobre ali.
Em um segundo estágio, percebo que o
meu uso específico de pianos numa região específica que escolho para tocar
dentro do arranjo, também já não passa mais despercebido. E para terminar, a
estrutura dos meus tracks (intro, verso, drops, etc...) também pode ser
identificada pelos bons ouvidos. O engraçado é que outro dia fiz um track
completamente diferente do meu usual e mudei o nome, mas... muita gente ficou
confusa, porque JURAVAM que era eu, e olhavam para o disco vendo um nome
diferente. Não sei se assinatura forte é bom ou não, mas tem funcionado há um
tempo.
2) Tu já tiveste interesse em produzir um álbum em que o foco não fosse a pista de dança ou a música pop e sim, experimental?
Sim, e penso em fazê-lo agora, mas a
ideia é tão real que não posso contá-la ainda ;-)
3) Até que ponto o gosto pessoal pode interferir na discotecagem? O feeling de pista basta pra saber se uma música nova vai funcionar ou não?
3) Até que ponto o gosto pessoal pode interferir na discotecagem? O feeling de pista basta pra saber se uma música nova vai funcionar ou não?
Essa é bem complexa. Vamos lá:
Eu acredito que existam diversos
tipos de DJs e cada um tem uma missão. Não há "verdadeiros" ou
"falsos" DJs. Nem melhores e nem piores, mas tais como um pintor, há
pintores de parede e pintores de quadros. Ambos são chamados PINTORES, mas com
acentuadas diferenças:
1 - O pintor de parede ouve do
cliente: "_ Olha, eu gostaria de pintar essa parede de vermelho e o teto
de verde." E assim será feito. Pinta, recebe e vai embora.
2 - O pintor de quadros chega e diz: "_
Senta aí. Quando eu acabar de pintar, você vê". E é exatamente para isso
que ele está sendo contratado, para dar a sua visão das coisas.
Eu sou um pintor de quadros, pois
parto SEMPRE da minha escolha pessoal, selecionando músicas o ano inteiro para
carregar meus pendrives com o que pretendo mostrar ao público... como uma
aquarela. Monto minha seleção de cores/músicas e procuro dentro da vibe daquela
noite, excitar a pista com a mistura certa entre elas para atingir o sentimento
que quero passar.
O DJ precisa ter feeling, claro.
Nenhuma noite é prevista, por mais comercial que seja o club. Sempre haverá uma
mistura nova ou um elemento novo a cada noite, então se você não tem tal
feeling, não saberá como usar uma música nova que acaba de chegar, e
provavelmente tocará um playlist de 2 horas, passando a bola para o próximo
depois.
Música transmite sensações, e é essa
a minha onda: surpreender o público, causando sensações inesperadas, e não
parecidas com a da noite passada. Claro que ás vezes o club não está exatamente
como você espera, mas em cada caso é preciso saber reequilibrar os
"temperos' de forma diferente, como se você estivesse misturando cores
para resultar em algo propício para aquele quadro.
Em minha visão pessoal, acho que se você
não surpreender o público... qual é a graça? Botar um hit atrás do outro, não
faz você ser lembrado no futuro, e nem fará de você um DJ diferenciado, mas... tem
seu lugar.
A escolha de qual DJ você quer ser, é
100% sua.
4) Para o DJ, hoje, ecletismo é a palavra-chave, ou com a ramificação absurda de gêneros, é melhor se especializar num determinado gênero?
Sou reconhecidamente um DJ de House, mas meu gênero preferido é, e sempre foi, um só: MÚSICA BOA! Aqui no nosso país, 90% diz que toca DEEP HOUSE ou EDM. Tirando os 10% de exceções, não existe mais nada na boca desse povo, mas... pombas, quem disse que o público só quer escutar isso? No meu caso, posso ir da House ao Tech, do Unreleased ao Clássico, do mais cabeçudo ao mais comercial, mas o importante ao final das contas é gerar a tal surpresa numa viagem musical que soe completa, com começo meio e fim, mas jamais um Frankenstein, em que os pedaços não fundem-se muito bem.
5) Tu compartilhas de um certo tipo de "romantismo saudosista" em lembrar que discotecar há duas décadas era mais difícil do ponto de vista técnico, mas com menos DJs aventureiros pra dividir o mixer na noite, ou vale o conceito "todo mundo é DJ" e tem espaço pra todos?
Pra começar, não sou saudosista. Nunca fui. Se fosse, minha carreira já estaria moribunda. Gosto do meu passado e orgulho-me de ter estado lá, mas sempre andei olhando para o que há de novo no outro lado do muro. Isso é o que me mantém vivo.
Na resposta nº 3 acima eu deixei
claro que todos os gêneros de DJ são válidos, e se tem respaldo do público, não
há sequer como contestar tal argumento. Gostar ou não de um ou outro, já é
íntimo e pessoal a cada um, mas... CLARO que é preciso talento.
Pense assim: nem todo mundo
saberá cozinhar. Nem todo mundo saberá jogar bola. Nem todo motorista é
piloto. Com DJ é a mesma coisa. Há um mito subliminar de que com a chegada
dessa tecnologia que facilita tudo, todo mundo pode ser DJ. Poder pode, mas
mesmo que você tenha dinheiro para comprar uma Ferrari, lembre-se que tê-la
como seu primeiro carro e com sua pouca experiência, essa "tiração de
onda" poderá resultar num belo desastre físico e financeiro. Não acho que
ninguém deveria querer e nem procurar algo parecido com um desastre.
A verdade é uma só: ninguém pode
fazer tudo ou qualquer coisa.
6) Qual foi o último disco de dance/eletrônica que realmente te deixou de queixo caído?
Eu ando gostando muito de um "cabra" sueco chamado CLAES ROSEN. Descobri há um tempo no Soundcloud e fui atrás de outras coisas dele. Ele tem uma pegada Techno, mas seu coração bate em harmonias e melodias da House. É um sueco do bem... rs. OOoops !
7) Dá pra escolher um filho preferido? Qual é o teu melhor remix?
Hahaha... um só, não dá, mas ando
preparando essa resposta há algum tempo. Aqui vai a minha seleção, mas não
necessariamente na ordem abaixo:
Depeche Mode – “Behind The Wheel 2014”
Shakira – “Estoy Aqui”
Davidson Ospina – “I Want It”
Fish Go Deep – “The Cure and The Cause”
Frankie Knuckles & Shapeshifters – “The Ones You
Love”
Kid
Abelha – “Fixação”
8) Com quem e porque tu gostarias de trabalhar e
por algum motivo, ainda não o fez?
Cara, tive a sorte de ir para
estúdio com uma gama tão diferente de artistas como Mariah Carey e Shakira;
Lulu Santos e Roberto Carlos; Frankie Knuckles e Vincent Montana Jr.; Volkoder
e Gabe. Entre todos que trabalhei, faltaram dois que eu gostaria MUITO por
razões ÓBVIAS, mas que não vai rolar mais: TIM MAIA e MICHAEL JACKSON. Imagina
a aula que eu teria????
Aprendi que o melhor que se tira
desses encontros é mesmo a honesta e saudável troca de expêriencia. Isso... nem
Mastercard compra, e acho que esse é o meu diferencial no mercado.
9) É preciso produzir, ou um DJ pode chamar atenção hoje em dia apenas tocando?
Olha, até pouco tempo atrás eu
espalhava para quem quisesse ouvir que "DJ é o cara que faz dançar. Quem
produz chama-se PRODUTOR", mas... o mercado mudou mesmo, e se você não
tiver um trabalho autoral, não será reconhecido dentro da categoria
'ARTISTA/DJ'.
Contra fatos não há argumentos. DJ
que não produz terá seu lugar sempre, mas numa escala menor. Se você não se
importa com isso, porque sabe que produzir não é pra você, seja feliz e faça o
povo dançar. Esta também é uma causa nobre.
10) Duas músicas: uma eterna (que não sai do case) e uma produção atual:
Vou pedir "licença poética"
para aumentar para duas de cada gênero:
Eternas:
Soul Central – “The Strings of Life”
Soul Central – “The Strings of Life”
Junior Jack – “Thrill Me”
Twitter: twitter.com/DJ_Meme
Facebook: facebook.com/DJ.Meme
Soundcloud: soundcloud.com/dj-meme
Muito BOM ................ o cara é MITO !!!!!! Ídolo !!!!!
ResponderExcluirGente boa demais e um baita profissional, Carlos! Fiquei muito feliz com a entrevista =)
ExcluirE acho que em todas as vezes que vi Meme tocar, ele tocou Strings of Life =) Ainda bem.
ExcluirTive o prazer de conhecer Meme e ter assistido alguns "shows" dele. Sempre fui fã. A entrevista foi bem bacana, parabéns!
ResponderExcluirValeu, Leandro! Grato pela visita, apareça =)
ExcluirSó posso resumir: Talento, humildade e muito feeling. Nota 1.000 . Abraços Dj Musk
ResponderExcluirAbraço, Musk. Grato pela visita =)
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