domingo, 13 de dezembro de 2015

Discos do Ano: LA Priest


Ex-guitarrista e vocalista da finada banda britânica de dance-punk Late Of The Pier, Samuel Eastgate assumiu seu alter ego LA Priest, abraçou suas influências de David Byrne, Prince e Arthur Russell e lançou (no meio do ano) um dos melhores discos de 2015. Com doses muito bem calibradas de experimentalismo e pop, Inji (Domino) encaixa-se em várias categorias, mas não pertence a nenhuma, especificamente. A primeira metade do álbum é arrebatadora. O funk em câmera lenta da abertura "Occasion", com seus solos lânguidos de guitarra, órgãos sacros e vocais lascivos soam mais Prince do que qualquer coisa do último álbum (HITnRUN phase one, lançado em Setembro) do geniozinho de Minneapolis. "Lady's In Trouble With The Law" é como se Terence Trent D'Arby tivesse ressuscitado da morte artística e lançado um dos singles mais bacanas de soul/pop dos últimos tempos. A desolação instrumental de "Gene Washes With New Arm" parece um pequeno e sintomático reflexo sonoro do atual isolamento de Eastgate num pequeno vilarejo do País de Gales: timbres irregulares de instrumentos indefiníveis que há alguns anos seriam incluídos facilmente sob o guarda-chuva da world music, mas que hoje pedem um novo nome (Ambient, Downtempo, você escolhe). Ainda sem pular nenhuma faixa, talvez a grande canção do disco, "Oino" ("Oh I Know", sacou?) continua com a desafiadora tarefa de tentar descrever que música é essa. Na minha cabeça, parece um reggae muito distante de Kingston, tocado por argelinos. "Party Zute / Learning To Love" é disco torta, com uma linha de baixo brilhante, mudanças de andamento e oito minutos de euforia prontos pra serem consumidos nas pistas menos cafonas. Pra completar, Inji ainda tem a sonhadora "Fabby", a house comportada "Night Train" em BPM baixo e teclados escolhidos, literalmente, a dedo e a progressiva que não dá sono "A Good Sign". O pop atual precisa de mais gente como Samuel Eastgate: ousado, talentoso e com um senso melódico apuradíssimo. Não à toa, cravou um dos álbuns do ano.

"Oino": inclassificável, mas de fácil digestão.