domingo, 9 de abril de 2017

Dez Perguntas Para: Marcelo Donolo


No comecinho dos anos 90, o argentino Marcelo Donolo (então tecladista do duo technopop Tek Noir) e o vocalista brasileiro Filippo Crosso - vislumbrando uma hipotética carreira internacional - escolheram os nomes artísticos Mark Rhiley e Phillip Ashley, apostando num possível sucesso além fronteiras de sua recém formada banda, o Tek Noir. Ambições à parte, não foi bem isso que aconteceu. A curta carreira do Tek Noir durou dois discos, Alternative de 1990 e Destination de 1993, e depois disso, nunca mais ouvi falar da dupla Rhiley/Ashley. Felizmente, encontrei Donolo (que está morando nos Estados Unidos) uns meses atrás da única maneira possível disso acontecer: pelo Facebook. Eu estava lendo um post do Front 242 (não por acaso, uma das paixões de Marcelo) e lá estava ele, comentando a respeito. Achei muita coincidência uma pessoa fã do grupo belga com o mesmo nome do cara responsável pelos sintetizadores e programações da nossa (sem medo de errar) melhor banda synthpop. Verifiquei o perfil. O próprio. Pedido de amizade aceito, pedido de entrevista aceito e aí está, com muito orgulho, Marcelo Donolo, do Tek Noir.

1) Como você e o Filippo se conheceram?

Uma amiga minha nos apresentou. O Filippo tocava numa banda cover e fui assistir o ensaio na casa dele depois de ter visto a banda numa festa, o meu "Prom". Eu tinha uma demo muito ruim que tinha feito num sintetizador Ensoniq ESQ1, mas logo compartilhamos ideias sobre o tipo de música que ouvíamos e o tipo que queríamos compor. Uma semana depois, formamos a banda. No próximo fim de semana, fomos assistir O Exterminador do Futuro no cinema - lembra da cena em que o Terminator mata quase todos numa discoteca? A discoteca chamava-se Tech Noir.


2) De onde partiu seu interesse por música e como surgiu a ideia de montar o Tek Noir?

Minha mãe tocava piano e tínhamos um em casa. Cresci ouvindo e tocando música clássica. No começo dos anos 80, ouvi três artistas que me influenciaram muito: O Duran Duran, o Kraftwerk e Jean-Michel Jarre. Logo descobri Human League, Depeche Mode, Pet Shop Boys, Front 242 e Nine Inch Nails. As ideias musicais que formaram o som do Tek Noir vieram, em grande parte, dessas influências.


3) Como foi a produção de Alternative, o primeiro álbum, dividida entre Dino Vicente e Mark Brydon?

Queríamos explorar dois lados da música eletrônica: o lado pop (Tek) e o lado mais experimental, ou "dark" (Noir). O Brydon tomou conta do lado A ("Beat the Rhythm", "Drawings of Sorrow", etc...) e o Dino do lado B ("In the Name of the Father", "Final Fall"). Os dois foram espetaculares e tinham estilos muito diferentes. O Mark preferiu reconstruir o som do Tek de acordo com o seu entendimento do que era o mercado Europeu naquele tempo. O Dino optou por usar o próprio ponto de vista da banda para melhorar a qualidade sonora e a composição, sem influenciar o caráter do nosso trabalho. O resultado foi interessante... o lado A parece muito o estilo do Mark. O lado B, do Tek. Ao fim do dia, acho que o Dino foi muito mais fiel em preservar o som da banda. Tenho tremendo respeito pelo Dino.


4) Para os shows da época, quais equipamentos vocês dispunham? 

Dois ESQ1 da Ensoniq, um DAT da Sony, a bateria TR-505 da Roland e um computador com Cakewalk. Os dois discos do Tek Noir foram feitos no ESQ1. Adorava esse sintetizador.


5) O debut Alternative tem um status cult hoje, você tem ideia de quantas cópias o álbum vendeu e o que poderia ter sido feito para que ele tivesse realmente estourado, considerando seu potencial?

Muito legal ter esse status cult! Acho que vendeu umas 75,000 cópias. O problema da Stiletto foi que não tinham paciência nem experiência ou tampouco sabiam como promover uma banda e os canais de distribuição eram poucos e novos na época. Faltou infraestrutura. A maioria das cidades onde o Tek tocou não tinham discos nas lojas. Nossos "managers" não tinham nenhuma estratégia. Os shows eram uma maneira deles ganharem dinheiro. Não tinham nenhum interesse no futuro da banda. Realmente uma pena.

Alternative, inteiro no Youtube:



6) O que você, avaliando hoje, faria diferente sobre Alternative?

O Dino devia de ter produzido o disco inteiro. "Beat the Rhythm", "Talk of Desire", e a "Drawings of Sorrow" eram muito mais interessantes antes da produção do Mark. Eu teria incluído mais uma faixa, a "Is This Devotion", que tínhamos em demo. Adorava aquela música, para sempre perdida... não sei onde foi parar o K7.

"Falling In My Arms", do segundo (e último) álbum, Destination (1993):



7) O segundo e último álbum, Destination, tinha planos de ser lançado pela Stiletto (que já havia encerrado atividades quando o disco foi lançado, em 1993)? Como foi o processo de produção/lançamento/distribuição desse álbum pelo selo Dance Xplosion e porque o Tek Noir acabou logo em seguida?

Eu já estava cansado das dificuldades de trabalhar com a gravadora e comecei a trabalhar numa empresa. Casei pouco depois de terminar o Destination e decidimos terminar o Tek. O Filippo conseguiu produzir o Destination pela Dance Xplosion, mas eu já estava nos EUA quando começaram uma pequena tour com outro tecladista amigo nosso.

"The Whole Of The World":


8) Tu tens ideia de como repercutiu o trabalho do Tek Noir fora do país? Teve notícia de algum hit em alguma rádio ou parada estrangeira? Quais países vocês se apresentaram na época?

Tocamos numa rádio em New York e a banda tocou no rádio na Argentina e no Peru. Não fizemos nenhum show fora do país.

9) Existe alguma possibilidade do Tek Noir voltar, para algo como uma série de shows comemorativos, reedição de seus dois álbuns, alguma coisa do tipo?

Eu faria um terceiro disco e uma mini tour, com certeza. Numa época, tentei convencer o Filippo de compor algo juntos, mas não deu certo. Fiz vários projetos solo depois de um tempo... o Khommand 45 e o ALTERSTÆT, que está no iTunes, Amazon, etc... Hoje em dia seria super fácil produzir um disco e distribuí-lo. Que tal a gente convence-lo?

"Serenity", do projeto solo de Marcelo, ALTERSTÆT:


10) O que tu tens ouvido e o que não sai do seu fone de ouvido nunca? Quais são suas músicas preferidas, eternas e atuais?

Legal essa pergunta! 

Eternas:
 
1. "Enjoy the Silence" e "World in My Eyes" - Depeche Mode
2. "Don't Crash" e "Headhunter" - Front 242
3. "Blue Monday" e "1963" - New Order
4. "It's a Sin"e "West End Girls" - Pet Shop Boys
5. "Seventh Stranger" e "Save a Prayer" - Duran Duran
6. "The Man Machine" e "Radioactivity" - Kraftwerk
7. "Oxygen" e "Zoolook" - Jean-Michel Jarre
8. "Coolesville" - Laurie Anderson
9. "Falling in My Arms"e "Twixt Land and Sea" - Tek Noir ;)
10. "Frozen" e "Bedtime Story" - Madonna
11. "Lack of Sense" - Tribantura  

Atualmente: 

1. "The Dictator Decides" - Pet Shop Boys
2. "Serenity" - ALTERSTÆT :)
3. "Where's The Revolution?" - Depeche Mode
4. "Oxygen 3"- Jean-Michel Jarre
5. "Kill Your Darlings" - Mesh
6. "Judge of My Domain" - Covenant
7. "Amor Fati" - Washed Out
8. "All is Full of Love" - Björk

Links:

Soundcloud
Facebook


Leia também neste blog:

Dez Perguntas Para: Simbolo
Dez Perguntas Para: DJ Memê
Dez Perguntas Para: DJ Renato Lopes
Dez Perguntas Para: DJ Fabricio Peçanha

19 comentários:

  1. Vi esses meninos aqui no Porto de Elis. Adorei!

    ResponderExcluir
  2. Ótimo post, Carlinhos. Sensacional!
    Parabéns a ti e ao Donolo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato, muito grato. São dois álbuns fundamentais na história do pop eletrônico feito por aqui, a cargo do nosso melhor representante technopop.

      Excluir
  3. eu tenho uma fita do alternative e tenho muito ciume por que a primeira vez que ouvir ficou na memoria

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rapaz... nem sabia que tinha saído no formato K7. Uma raridade. Acho que em CD nunca saiu, ao menos oficialmente, hehe. Grande abraço!

      Excluir
  4. Muito bom,poderiam voltar! Drawings of sorrow é uma ótima lembrança, do segundo não me lembro.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O segundo é muito difícil de conseguir hoje em dia. Eu dei sorte de comprar na loja assim que ele saiu, em 1993...

      Excluir
  5. Grande banda com futuro promissor. Uma pena que nao foi possível seguir adiante!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pra mim, a melhor banda eletrônica que o Brasil já teve - e digo mais: não vai ter outra igual.

      Excluir
  6. bem legal a entrevista, pena o duo ter se separado. sobre o trabalho, eu acho o Alternative "bonito", mas o lado B do Destination é de longe uma das melhores coisas ja produzidas por essas bandas nos anos 90. O Falecido Hansen sempre falava muito bem sobre uma noite que juntaram o Harry e o Tek Noir (o que deve ter sido uma noite fantástica para os fãs de música eletrônica em geral)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O Destination me soa mais experimental, mas muito bom, também. "Falling on My Arms" foi o hit em potencial mais injustiçado da história da música pop brasileira.

      Excluir
  7. Assisti ao show do Tek Noir aqui em Sorocaba. Em minha humilde opinião, digo que é um dos melhores, se não o melhor, grupo synth/tecnopop brasileiro. Boas lembranças e da vibe da época! Abçs a todos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo totalmente, Paulo! E como eu disse no comentário acima, não vai ter outra banda eletrônica igual...

      Excluir
    2. Paulo em também assisti o show em Sorocaba. Foi demais. Tenho o LP até hoje.

      Excluir
  8. Puxa vida, depois de décadas achei um vídeo deles no YouTube e de lá vi um link com essa entrevista, muito legal, trouxe muitas lembranças, na verdade nem sabia que o vocalista era brasileiro.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bacana! Melhor banda Synthpop brasileira de todos os tempos, na minha opinião, rsrs. Grato pela visita e pelo feedback!

      Excluir
  9. Assisti show deles no Victoria Pub, Sao Paulo. Na epoca estudava com o Marcelo, faziamos Publicidade. Legal ver essa materia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sensacional! Pra mim, a melhor banda eletrônica que o Brasil já teve! Abraço, grato pela visita!

      Excluir

Spam, get outta here!