Em 1998 era praticamente impossível que eu tivesse ficado sabendo do lançamento de Nedi Myra, o primeiro álbum do norueguês Bjørn Torske. A internet ainda engatinhava por aqui, a Bizz agonizava e a MTV já tinha deixado de ser relevante há pelo menos uns cinco anos, então, como é que eu ia saber que esse disco saiu naquele ano pela minúscula Ferox Records - selo britânico de techno de propriedade do DJ e produtor Russ Gabriel? Bom, o importante mesmo é que agora, em 2015, ele acaba de ganhar uma reedição remasterizada, pela gravadora norueguesa Smalltown Supersound. E é uma maravilha.
A primeira constatação é que, passados 17 anos de seu lançamento e levando-se em consideração o cenário em 1998 e o atual, Nedi Myra não perdeu um pingo do seu frescor. A segunda é (re)descobrir um disco que merecia e muito, ter saído do anonimato.
Torske explora house music e ambient de tal forma, que a osmose sonora acontece naturalmente e a separação de ambos torna-se impraticável em suas oito faixas. Com a ajuda de um bom fone de ouvido, é fácil se deixar envolver por sons que induzem o ouvinte às paragens geladas do Ártico, tanto na cinematográfica abertura de "Limb Fu" (com sua linha de baixo orgânica e solos de flauta que atravessam a música) quanto nos sintetizadores nebulosos de "Eight Years", um breakbeat entrecortado por teclados de movimentos tão repentinos quanto a dança das luzes da aurora boreal. Jazzy e elegante, Nedi Myra acerta em cheio na escolha dos timbres - seja nas emulações de órgãos de "Beautiful Thing", na magistral sessão de cordas e no xilofone do aparentemente improvável encontro da deep house com o easy listening de "Fresh From The Bakery" (esta ainda com uma notável e minuciosa variação de hi-hats) ou nos efeitos borbulhantes dos synths de "Smoke Detector Song", encharcados de wah-wah.
As batidas apresentadas em Nedi Myra são um caso à parte. Não se resumem ao esquema bumbo e caixa de um 4x4 entediante: há desde as criativas viradas de bateria de "Beautiful Thing" até a polirritmia de "Eight Years", a levada sambística da bossa lounge "Ode To a Duck", os beats de hip-hop de "Smoke Detector Song" e a programação de "Station On Station" - uma percussão com toques de industrial que lembra os ataques estridentes de "Metal On Metal", do Kraftwerk.
Nedi Myra transpira musicalidade, é altamente criativo e, principalmente, uma delícia de ouvir. De quebra, mostra que Bjørn Torske - além de colaborador frequente do Röyksopp - é um produtor talentosíssimo que merece estar num lugar no mundo da eletrônica ao lado de gente como Lindstrøm e Todd Terje. Redescubra já.
"Limb Fu": cinematográfica.
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