Madonna Louise Ciccone, 53 anos. Grande mulher de negócios. Ela é "a" artista pop. No topo há anos, se reinventa de tempos em tempos. Balela, não? Isso todo mundo sabe. E bom, ela não quer perder o bonde. Pra isso, mais uma vez, Madonna recrutou um batalhão de produtores pro seu disco lançado essa semana, MDNA. Olhando na ficha técnica do álbum, são 12. Se contar todo mundo envolvido de alguma maneira nesse disco (músicos, arranjadores, compositores, cantores, engenheiros de som), são perto de 120 nos créditos (!). E até pra um observador superficial, fica fácil perceber que não existe a "assinatura" Madonna no seu som - fora o timbre vocal - e até aí, é absolutamente normal. A música é o que o cara que apertar os botões da mesa do estúdio definir, mas claro que ela tem controle absoluto sobre tudo. Sabe quem quer atingir, e como fazer pra tudo dar certo. Sempre foi assim, ela sempre se cercou do melhor em sua época: Nile Rodgers em Like A Virgin, Babyface em Bedtime Stories, Stuart Price em Confessions on a Dance Floor, Timbaland e The Neptunes em Hard Candy... a nata. É justo dizer também que gente nova e talentosa sempre tem lugar nas suas produções. Pra mim, o francês Mirwais Ahmadzaï (Music e American Life) é sua melhor descoberta. Então, em MDNA, o time de produtores reflete sintomaticamente o que é o disco: dance-pop urgente e volátil, exatamente como a obra do pessoal envolvido no projeto. Não tem um tiquinho de audácia, de novidade... talvez a coisa mais ousada no disco foi ter chamado uma faixa de "I Fucked Up", o que deve ter garantido o carimbo de "Parental Advisory" na capa. OK, eu não esperava uma obra conceitual, uma aventura à la Björk, mas inventar um grito de guerra de cheerleaders e transformar isso em refrão como o do primeiro single "Give Me All Your Luvin'" (que ainda tem um trecho rapeado com toda a verborragia histérica de Nicki Minaj) ou não conseguir pensar em nada melhor do que "Ooh la la you're my superstar / Ooh la la love the way that you are" ("Superstar") é preocupante numa arte que depende demais desse trecho ganchudo da canção. Na segunda faixa escolhida como single, "Girl Gone Wild" (com sample de um trecho falado da letra de "Act of Contrition" de Like A Prayer) fica claro que o italiano Benny Benassi se intimidou ante Madonna e colocou terno e gravata num electro-house convencional que lembra muito o single "Get Together" de 2006. Em "I'm Addicted", Benassi arrisca um pouco mais nas timbragens ácidas dos synths e em "Best Friend" se dá melhor ainda com as baixas frequências num R&B modernoso. Já o francês Martin Solveig fez de "Turn Up The Radio" exatamente o que se esperava: o mesmo eurodance chiclete de seu trabalho autoral. Não que eurodance seja ruim, já que na boa "Beautiful Killer" ele acerta a mão com uma guitarrinha pegajosa e um arranjo sintético de cordas muito bem feito. É uma das melhores do disco (e só está nas bonus tracks da versão Deluxe). Quem não chega a comprometer é o veterano William Orbit, que participa em metade das faixas. Com sua finesse folk-eletrônica ele refina canções como "Love Spent" e "Falling Free" com detalhes acústicos e andamentos inusuais. E para os fãs mais xiitas, temo que a balada "Masterpiece" (composta para o filme W.E., dirigido por Madonna) seja uma das poucas absolvições frente aos muitos pecados de MDNA. Depois de ouvir o disco, fiquei pensando que não tenho certeza sobre qual meu álbum favorito de Madonna. Talvez Bedtime Stories, talvez Confessions on a Dance Floor. Mas o que menos gosto eu já sei qual é.
"Give Me All Your Luvin'": imagina acordar com a Nicki Minaj gritando no seu ouvido.
como eu adoro suas resenhas!
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