segunda-feira, 20 de julho de 2015

Smart Monkey



E aquela piada que diz que se você entregar 100 TB-303 para 100 chimpanzés, vão sair ao menos 70 boas faixas de acid house? O exagero do percentual é proposital, claro. Uma sacanagenzinha vinda de gente que acha que o emulador de baixo da Roland faz tudo sozinho. Originalmente produzido para acompanhar guitarristas em suas práticas solitárias, o sintetizador/sequenciador foi um fracasso de vendas. Adotado por produtores e DJs da então emergente cena house de Chicago, tornou-se a máquina que mudou a cara da música de pista no meio dos 80. John Frusciante começou a mexer a sério com este e outros instrumentos eletrônicos há cerca de oito anos. Os primeiras registros das experimentações só viriam quase um ano depois, até chegar no EP Sect In Sgt, de seu projeto eletrônico Trickfinger, em 2012 - uma colagem desordenada de samples e beats com resultado superficial e cansativo.

O álbum de estreia do Trickfinger, autointitulado, saiu no começo de Abril e comprova que o ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers é um aluno aplicado. Completamente diferente do EP anterior, as oito faixas mostram uma franca evolução em relação a aridez experimental de três anos atrás. São faixas instrumentais com estrutura definida e uma certa obsessão por ferramentas vintage - o que deixa tudo com cara de house e electro oitentista. O problema é que não sei dizer se é bom um disco que causa uma sensação de déjà vu constante, mas que foge completamente da memória pouco tempo depois. São ensaios interessantes com riffs, batidas e texturas, mas, verdade seja dita, não fazem mais do que imitar as produções de subgêneros de eletrônica de quase trinta anos atrás e, em alguns momentos, soam como mero pastiche, mesmo. Por esse aspecto, melhor fuçar no catálogo da Trax Records, que as surpresas vão ser mais agradáveis, garanto.



A falta de diversidade e a repetição de temas quase me convence de que a piada do começo do texto não é tão absurda assim - especialmente em faixas que beiram o amadorismo, como "Sain" - embora eu entenda que não dá pra exigir muita variedade com o uso de tão pouco equipamento. E é aí que entra o talento e a criatividade do cara envolvido no processo pra construir um Empire State Building com número reduzido de tijolos. As tentativas são dignas de admiração, mas na maioria das vezes evidenciam que Frusciante ainda tem um caminho longo a percorrer até chegar a algo convincente.


Não que eu ache que as melhores coisa do disco sejam mero acaso: a linha de baixo monocórdica com arpejos acontecendo em segundo plano de "After Below" é fruto de uma mente que pensa em como a combinação desses elementos e a escolha certa dos timbres pode soar bem aos ouvidos.



Trickfinger só causa algum espanto em desavisados como eu por ter sido produzido por um cara que até bem pouco tempo, só esmerilhava objetos de seis cordas. A frustração diz respeito ao fato de John Frusciante não ter conseguido repetir com os botões o incrível talento que tinha pra compor melodias simples e certeiras na guitarra do Chili Peppers.

"85h": um dos poucos acertos de Trickfinger:

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