"Remix é super interessante porque é a ideia que outra pessoa tem sobre um trabalho que não importa quem fez. O jeito que fica é que é importante. Cada um tem um jeito de contar a mesma história."
Assim nosso camaleão mor do pop nacional Lulu Santos sabiamente definiu na vinheta de onze segundos "Speech", seu disco Eu E Memê, Memê E Eu, produzido em 1995 pelo DJ Memê e recheado com remixes, regravações e faixas inéditas.
Álbuns de remixes são prática comum há bastante tempo e não estamos falando somente de artistas ligados à eletrônica. De The Cure (Mixed Up, 1990) a Philip Glass (REWORK_Philip Glass Remixed, 2012), muita gente caiu em tentação e jogou sua carreira nas mãos de aventureiros, com resultados ora desastrosos (caso do Cure) ora sublimes (no disco de Glass). Mas e quando, ao invés de apenas juntar sucessos ou faixas com alguma coerência entre si pra mandar pra sala de cirurgia, a ideia é refazer um álbum de inéditas, inteiro, o que justifica? Insatisfação com o resultado final do original? Uma segunda chance para canções subestimadas? Uma simples adequação ao mercado? Curiosidade em saber como a obra soaria na visão de outra(s) pessoa(s)? Obviamente, não tenho a resposta, mas pode ser um pouco disso tudo. Não conheço muitos casos em que um disco de remixes superou a matriz. Talvez a versão post-dubstep de Jamie xx para I'm New Here (2010) de Gil Scott-Heron (We’re New Here, lançado no ano seguinte) seja um dos poucos exemplos. O dubismo de Mad Professor retrabalhando em No Protection (1995) o já ótimo Protection (1994), do Massive Attack, também é inesquecível. E as versões completamente reconstruídas de Telegram (1996), da Björk, são melhores que as do clássico Post (1995)?
Bom, os noruegueses do Flunk acharam que tinha a ver entregar seu álbum mais recente Lost Causes (2013) pra um povo que eu nunca ouvi falar, aperfeiçoar. E que ótimo o fato de tanta gente desconhecida conseguir produzir um disco de remixes sólido, diverso e muito melhor que o original. Isso prova por A mais B que nome não ganha jogo. E ainda teve a ótima sacada do nome do projeto - Deconstruction Time Again - uma alusão ao álbum do Depeche Mode Construction Time Again, de 1983. Começou bem.
No processo de recauchutagem, vemos a indietrônica do Flunk forrada com graves rechonchudos e vocais recortados e reinventados para uma nova forma de cantar, mesmo que o downtempo característico da banda não seja alterado ("Queen Of The Underground").
"Awkward", ganha duas versões: a sombria Dogg Edit - com uma linha de baixo subterrânea - e a eletrônica inclassificável de Luca Bluefire.
O rock com contornos de Cocteau Twins de "Sanctuary" também aparece em duas novas interpretações: é transformado numa house elegante (Nosak Remix) e em leftfield (Wappaa Remix).
"Personal Stereo" e "On My Balcony" não pertencem a Lost Causes, são de trabalhos anteriores do Flunk. Em Deconstruction, foram remixadas por Jean Claude Ades e Sandro S, respectivamente. Curiosamente, são dois remixes que só tornam dançáveis as originais e destoam do alto teor de criatividade embutido no resto do trabalho.
Ainda digno de nota: o belíssimo arranjo de cordas e a percussão encaixada em "Down" (Knights of Ygit Refill) e o drum'n'bass alucinado de "Love And Halogen" (Subversive Boy Rework).
Deconstruction Time Again provavelmente não vai tirar o Flunk do semi anonimato, mas certamente é uma ótima introdução ao som desse grupo que, pode ter certeza, merece sua atenção.
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