Art Rock é um guarda-chuva multifacetado, que tanto pode abrigar gente que faz o rótulo ser visto com bons olhos (leia-se ouvidos), como o Roxy Music, ou pode trazer para perto de si abacaxis do tamanho de um Kansas, por exemplo. Fato é que discos que já nascem com o carimbo de Grande Arte estampado em suas capas geram uma expectativa que pode transformar-se em decepção assim que a agulha pousa no vinil (ou quando você clica no play); por presunção, vaidade ou falta de talento, mesmo. O australiano Angus Andrew, que agora conduz sozinho o Liars, segue pelo tortuoso caminho escolhido para o seu pop oblíquo por natureza, que, no final das contas, junta art rock e eletrônica, com resultados ambíguos. Com um novo álbum recém lançado (TFCF, Mute Records) e uma temática centrada quase que exclusivamente sobre a degeneração da relação entre Andrew e seu ex-companheiro de banda, Aaron Hemphill, o Liars soa desafiador ao disparar uma metralhadora de batidas abrasivas ("Staring At Zero"), toneladas de amostras de sons/timbres esquisitos, violões que surgem redentores e vocais ora cantados com a doçura de um Wayne Coyne ("No Help Pamphlet"), ora declamados com o tédio abissal de um rap desengonçado em slow motion à Beck Hansen ("The Grand Delusional"). No final de Agosto, o Liars jogou no Youtube o primeiro vídeo extraído de uma canção de TFCF, "Cred Woes" e ela deixa muito claro que o trabalho da banda-de-um-homem-só vai trilhando propositalmente essa rota perigosa, que pode ser o equivalente sonoro de um quadro de Jackson Pollock ou, na pior das hipóteses, de Romero Britto. Para decodificar a arte de Angus Andrew, escolho os dois.
"Cred Woes": esquisitice que compensa?
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