segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Disco Do Mês: Tender


Dois caras que se conhecem, descobrem afinidades musicais, gravam uma série de músicas, até que uma delas ganha execução considerável para atrair uma grande gravadora, que assina um contrato com a recém-criada banda e joga a dupla rumo ao estrelato. É parecida, mas essa não é exatamente a história do Tender e sim a do Lighthouse Family. E as semelhanças entre os dois não vão muito além do fato de ambos virem da Inglaterra e terem o R&B como leitmotiv. Só que enquanto as melodias ensolaradas do Lighthouse Family emolduram canções que versam sobre amor, esperança e boas vibrações, o terreno explorado pela dupla do Tender, James Cullen (vocais) e Dan Cobb (teclados), é o oposto muito mais sombrio; um mergulho nas águas turvas do desamor, desapontamento e perda.   

Com nove (de um total de doze) músicas inéditas, o debut do Tender, Modern Addiction (Partisan Records), traduz sentimentos tão comuns aos ouvintes que tornam as canções familiares instantaneamente, apesar (ou por causa) das letras aguçadas e diretas, de um romantismo em estado febril, mas não piegas. O instrumental de Cobb é simples mas incrivelmente eficiente, converte as letras num certo tipo de paisagismo sonoro, com uma paleta de sons distribuídos precisamente em cada faixa - ora lúgubre e ritualístico ("Hypnotised", "Vow", "Trouble"), ora desenvolvido em células suaves, quase dançantes ("Machine", "Powder"). A diversidade dos arranjos, predominantemente sintéticos e percussivos (nunca grandiloquentes), são o contraponto perfeito para os vocais murmurantes de Cullen desfilarem suas letras quase como confidências de seus amores perdidos em climas enfumaçados pelos teclados. A música do Tender atualiza o R&B britânico com o uso contido da tecnologia, há vários hits em potencial em Modern Addiction (o desempenho desse álbum pode - e deve - dar uma segunda chance para os singles "Erode" e "Machine" irem ao encontro do mainstream), para que, finalmente, as comparações com o Lighthouse Family encontrem mais uma similaridade: a dos números acima dos seis dígitos. Faz por merecer.

"Nadir": será o Tender 'The Next Big Thing'?

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