sábado, 13 de junho de 2015

New Old Disco


Jimmy Somerville sempre esteve intimamente ligado à disco music. Das suas primeiras aventuras adolescentes pelas noites de Glasgow nos anos setenta, passando por seu falsete afinadíssimo - que lembra muito um dos astros da disco, o finado Sylvester James - até chegar às regravações de vários clássicos do gênero durante sua carreira. Em 1985, quando fazia parte do Bronski Beat, reconstruiu "I Feel Love" (num medley com "Love To Love You Baby", ambas de Donna Summer), junto a Marc Almond (Soft Cell). Os maiores hits dos Communards, sua banda seguinte, foram "Don't Leave Me This Way" (composta pelos geniais Gamble & Huff e sucesso com Thelma Houston em 1977) e "Never Can Say Goodbye" (originalmente gravada pelo Jackson 5 em 1971 e hit disco com Gloria Gaynor em 1974). Já em carreira solo, Jimmy paga tributo ao próprio Sylvester com "You Make Me Feel (Mighty Real)", de 1990:



Sendo assim, sua opção por gravar um álbum totalmente disco em 2015 é mais do que natural. Passa longe do simples pastiche ou de qualquer suspeita de tentativa de carona nos respingos causados pela repercussão de Random Access Memories, lançado em 2013 pelo Daft Punk. É, isso sim, uma opção baseada na própria trajetória do cantor e confesso que acho até estranho o fato desse álbum ter demorado tanto pra acontecer.


Primeira constatação que afasta qualquer sensação de oportunismo: Nile Rodgers não participa do projeto. Reparou em como o brilhante guitarrista do Chic (que deve lançar álbum novo em breve) tem sido requisitado depois de sua colaboração com Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo? Pois a produção de Homage (saiu em Março, pela Cherry Red Records) é do próprio Somerville e John Winfield. A dupla também compôs 12 canções originais para o álbum (embora boa parte delas já havia sido lançada em EPs anteriores) e aí está a segunda evidência: não há covers desta vez, nada de readaptar sucessos do passado pra galgar as paradas mais fácil. É um disco corajoso, já que não há um hit detectável assim de primeira - a despeito da homogeneidade das composições. É muito bem arranjado, sem excessos, sem suntuosidade. O glitter é espalhado em doses moderadas, com percussões sutis, metais contidos, guitarras sinuosas e teclados discretos. Homage traz dance music orgânica, com belas linhas de baixo e o vocal cristalino de Somerville, como em "Back To Me", uma das melhores faixas do disco:


"Overload" tem bom refrão e cara de hit de pista (já ganhou uma versão extended oficial, inclusive):


A introdução de violinos na faixa de abertura "Some Wonder" remete à "Love's Theme" (Love Unlimited Orchestra, de Barry White) e é um dos pontos altos de Homage:



O álbum disco de Somerville, ainda que tardio, pode não ter desempenho considerável nas paradas mas certamente não vai decepcionar os fãs deste artista que tem um catálogo pop invejável, nem novos consumidores de dance que perguntam por disco em sites especializados em venda de música e ganham um Holy Ghost! como resposta.

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