Nas bravas lojas de discos que ainda restaram, o Beborn Beton
provavelmente ocupa um lugar na prateleira ao lado de De/Vision,
Wolfsheim e Camouflage. Você sabe, são aquelas bandas bem intencionadas
que, segundo os detratores, sonham em ser confundidas com o Depeche Mode, exploram o lado menos
cerebral do synthpop e dificilmente vão conseguir um lugar melhor do que
o segundo escalão do gênero. O que chega a ser injusto, porque a persistência destes alemães é admirável: eles
seguem lançando discos (estão nessa desde 1989) e, mesmo sem hits,
excursionam e mantém uma carreira relativamente estável. O recém lançado
A Worthy Compensation (décimo álbum da banda - com belíssimo projeto gráfico, diga-se) veio depois
de um hiato de dezesseis anos sem material novo. Talvez não seja uma obra-prima como alardeia o release da gravadora
Dependent Records, mas me surpreendeu. E muito.
A faixa de abertura, "Daisy Cutter", é um bom exemplo. É pop eletrônico de antigamente numa linguagem que explora as facilidades técnicas atuais, com a escolha muito feliz dos timbres dos teclados e uma composição que não desperdiça a oportunidade de colocar um bom refrão, no lugar certo.
O Beborn Beton afasta-se do future pop voltado pra pistas alternativas e mais ligado à EBM - como o urdido por gente como Covenant e VNV Nation - e mantém o foco num technopop puro e limpo, sem quaisquer bizarrices de tons gótico/industriais. O que rende faixas realmente inspiradas, como "Last Day On Earth".
As surpresas não param por aí. Há quanto tempo eu não ouvia uma música emocionante, que contraria argumentos infundados dos difamadores do gênero - que alegam que o synthpop carece de sentimento e musicalidade - como "She Cried"? Desde o último do Mesh (Automation Baby, 2013), talvez? A faixa é um dos pontos altos do disco. Tem a dose certa de melancolia - expressa tanto nos vocais de Stefan Netschio quanto na variedade dos sons extraídos dos sintetizadores - e mesmo assim, não esbarra na pieguice.
Em "Terribly Wrong", harmonias vocais bem trabalhadas encaixam-se perfeitamente ao aparato eletrônico, em mais um refrão digno de grudar na memória.
Em "Terribly Wrong", harmonias vocais bem trabalhadas encaixam-se perfeitamente ao aparato eletrônico, em mais um refrão digno de grudar na memória.
Menção honrosa para a levada pop emoldurada por uma cascata sintética no refrão de "I Believe", para a produção esmerada da faixa título (que é também a única música do álbum que não dispensa formalmente o uso da guitarra) e ainda para a incrível construção épica/futurista de "Who Watches The Watchmen", com suas dramáticas aparições de piano, cordas sombrias e programações de baixo e bateria realmente impressionantes.
Produzido com a ajuda de Olaf Wollschläger (Mesh, Yello), A Worthy Compensation deve ser, mesmo, o disco que o trio anunciou, em caixa alta, no site da gravadora: "...THE BEST ALBUM WE WILL PROBABLY EVER MAKE." Eu, que nunca prestei muita atenção no som do grupo, fiquei surpreso com a qualidade e o nível das composições apresentadas - e a edição de luxo ainda tem sete faixas extras; incluindo remixes, versões alternativas e uma ótima versão de "Folsom Prison Blues", de Johnny Cash. A falta de modéstia ou o bom senso marketeiro da banda justifica-se: a volta do Beborn Beton foi composta e planejada por mais de sete anos, o que resultou nesse que é, disparado, o melhor álbum synthpop que ouvi em 2015, até agora.
"Folsom Prison Blues": Johnny Cash, da penitenciária às pistas de dança.
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