Silent Poets e Nightmares On Wax: dois nomes da eletrônica trilhando o arriscado caminho do downtempo. É preciso mais do que experiência, bom gosto e sensibilidade pra não resvalar na pieguice com discos do gênero?
O Silent Poets, que já foi um duo, mas hoje é um projeto solo do DJ e produtor japonês Michiharu Shimoda, assusta no começo ao equilibrar-se perigosamente sobre a linha que separa o sentimentalismo extremo da ousadia em seu novo álbum Dawn (o primeiro em doze anos, saiu em Fevereiro pelo selo de Shimoda, Another Trip). As duas primeiras faixas, "Asylums For The Feeling" e "Distant Memory", com arranjos de cordas adocicados e envolventes, deixam dúvidas a respeito da capacidade de Shimoda montar canções que vão além do lounge na linha Café Del Mar. As incertezas vão se dissipando a medida que o disco avança - especialmente por causa dos reggaes de torque alto e lento que vem a seguir. A exuberante "Shine", com seus metais e ecos em profusão, o ragga "Non Stoppa" e o sensacional dub em slow motion "Division of the World", provam que Tóquio e Kingston podem estar mais próximas do que você imagina. Some a isso raps em japonês ("Tokyo", "Eternal Life"), beats espertamente engendrados (a instrumental "Rain" é um dos melhores exemplos), vozes escolhidas a dedo (a urgência da rapper israelense Miss Red e o timbre lindo da ótima Hollie Cook, filha do ex-baterista do Sex Pistols, Paul Cook, entre elas) e Dawn já é uma volta do Silent Poets a ser celebrada da melhor maneira possível: ouvindo o disco várias vezes.
"Division of the World":
O DJ e produtor britânico George Evelyn, a.k.a. Nightmares On Wax, já tem 30 anos de carreira e, além de ajudar a cimentar o trip-hop no começo dos anos 90, vem lançando álbuns sólidos e bem pensados ao longo desse tempo. Seu recente Shape The Future (lançado em Janeiro pela Warp Records) é diversificado sem perder a homogeneidade. O disco vem sob a forma de conexões enfumaçadas com a Jamaica (como em "Tomorrow" e "Citizen Kane", com dinâmica de reggae e técnicas herdadas diretamente do dub), enxertos de jazz ("Typical", "The Other Ship"), soul ("Deep Shadows"), blues ("On It Maestro") e farta distribuição de timbres amadeirados de teclado, identificáveis pelos tons quentes dos pianos elétricos e nos efeitos analógicos dos sintetizadores. Usando de tecnologia discreta (perceptíveis quase que exclusivamente nas programações de bateria), Evelyn gravou mais um álbum em que a expressão retrofuturismo é apta para definição, sem culpa.
"Shape The Future":
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