terça-feira, 6 de maio de 2014

10 Perguntas Para... Gaía Passarelli


Gaía Passarelli ajudou a fundar, em 1997, o fundamental site rraurl, um dos pilares da cena eletrônica nacional. Deixou-o em 2011 para cuidar do Goo, na MTV. Com o programa cancelado antes do ano terminar, Gaía ficou na MTV mais dois anos fazendo o MTV1, na TV e internet, que  trazia coberturas de festivais no Brasil e no exterior. A MTV Brasil fechou em setembro do ano passado e desde então Gaía tem publicado textos como freelancer e falado de música semanalmente num canal do Youtube chamado Gato&Gata, integrando ainda a equipe do site de viagens MatadorNetwork e editando a versão brasileira do mesmo em MatadorBrasil. Seu blog atual é o gaiapassarelli.com, e trata, basicamente, de música e viagens. Ufa.




1) Qual a relevância de canais como VH1 e MTV, hoje em dia?
Não sei dizer. Mas imagino que para uma televisão comercial a questão seja muito mais entreter do que ter "relevância".

2) Tu achas que o pop nacional ainda tem salvação, ou a tendência daqui pra frente é uma cena alternativa pulverizada em artistas underground, vendendo uma quantia insignificante de discos e tocando para cada vez menos público?
Claro que tem "salvação". Existem bandas boas por aí, é só procurar ouvir. É difícil vencer a barreira do comercial, mas é possível e acho que estamos muito perto de ver bandas boas tocando para público grande. Acredito que existe uma necessidade do público de encontrar algo diferente.

3) Tu foste uma das fundadoras de um dos primeiros sites dedicados à música eletrônica no Brasil (o rraurl), onde trabalhaste no período 1997/2011. Como conciliar jornalismo musical independente e captação de anunciantes para o site?
Não sei como é, porque não trabalho com isso. Sei que pra mim, na época, foi muito difícil. Tanto que deixei o rraurl na virada de 2010/2011. Eu não queria (e continuo não querendo) lidar com essa parte de captação, publicidade. É uma linguagem que não domino e pela qual não tenho nenhum interesse.

4) O rraurl atualmente está inativo (ao acessar, é possível ver o recado "rraul is dead" na página inicial). Qual a contribuição deixada pelo site para a cena eletrônica nacional?
O fato de você estar me mandando essas perguntas já responde. É enorme. Tanto que deixei o rraurl há quatro anos e continuo respondendo sobre ele.

5) Qual a tua opinião sobre a crítica musical de hoje no Brasil?
Será que existe crítica? Quem realmente faz crítica e não o apanhado comum de notícias chupinhadas dos veículos gringos e requentadas da caixa de email? Eu acompanho alguns blogs que gosto bastante e que acho que tem opinião forte e identidade, mas é exceção. No geral, nos veículos grandes, o que rola é mais do mesmo e nivelado cada vez mais por baixo. Tô fora.

6) A facilidade em gravar e distribuir música na Internet gera terabytes de lançamentos diários, pouquíssimos dignos de nota. Tu achas que essa superexposição do público à artistas de qualidade duvidosa pode estar criando uma geração para a qual a música não tem mais importância?
Não. Música merda sempre existiu, em todas as épocas. De tanto em tanto tempo aparecem artistas capazes de romper com isso, mas o que tem "qualidade duvidosa" pra você pode ser muito bom pra mim e vice-versa. Não sei se concordo com isso de "qualidade", principalmente se pensarmos em coisas que causaram impacto duradouro. Será que quem era fã do Clash em 77 tava preocupado com a "qualidade" da banda? Acho que o que importa é uma música feita com alma, com o coração. Meu pai gosta de música barroca e não vê qualidade nenhuma no New Order, que é minha banda preferida. Quem sou eu ou ele pra dizer se o MC Guimê tem "qualidade"? Ninguém.

7) Quem faz boa música hoje, no Brasil?
Garotas Suecas, Vespas Mandarinas, MC Guimê, Criolo, Thiago Petit, Apanhador Só, Karina Buhr, Carrot Green, China, Soul One, Pazes, Jaloo, Psilosamples, Vivendo do Ócio, Test, Malditos Skatistas. Deve ter muito mais, mas isso é o que eu lembro de cabeça agora.

8) Trabalhar com jornalismo musical é mais fácil ou mais difícil hoje, em relação a quando tu começaste?
Mais difícil, claro, não existe veículo. Veículo que pague o suficiente para que um repórter se sustente então, só na imaginação. Existe toda uma geração que não tem a chance de se sustentar escrevendo sobre música. É preciso equilibrar vários pratos ao mesmo tempo e praticar o tal jornalismo musical quando dá.

9) Independente do gênero, qual é o disco mais bem produzido da história?
O Sgt. Pepper's, dos Beatles? O A Love Supreme do John Coltrane, que foi gravado ao vivo? O Rumours do Fleetwood Mac? O Yeezus do Kanye West? Alguma obra de música erudita que não conheço? Não acho que dá pra responder.

10) Um nome nacional e um internacional: quem e porquê tu contratarias se tivesse uma gravadora?
Nos dois casos: alguém que arrastasse multidões para shows. Gravadora só pode ser reflexo do gosto do dono se tiver alguém botando dinheiro na história. Se tem uma coisa que aprendi é que um negócio, qualquer negócio, precisa ser comercialmente viável.


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