domingo, 11 de maio de 2014

Longa Vida Ao Rei


Menos é mais. A lógica invertida se aplica ao segundo álbum póstumo de Michael Jackson, Xscape (o primeiro é Michael, de 2010). O disco é uma coletânea com oito canções inéditas gravadas entre 1983 e 1999, posteriormente retrabalhadas por um time estelar de produtores e previsto para ser lançado dia 13 de Maio. O paradoxo aqui é que as versões originais são superiores às regravações. O senso comum levaria a crer que gente como Timbaland, Babyface e Stargate deixaria faixas que estariam aparentemente datadas - como o R&B "Loving You" - com uma cara nova e atual. Numa avaliação apressada, a música soa presa ao começo dos 80, mas como atualizar a atemporalidade da beleza de uma obra que nasceu com o selo de qualidade de um cara com uma sensibilidade pop fora do normal, como Michael Jackson? Encorpar os graves e substituir a bateria por uma batida encontrável em qualquer produção R&B genérica, não passa de uma simples adequação ao público que consome T.I. e Demi Lovato. "Loving You" seria perfeitamente aceitável em 2014 se a parceria entre Jackson e Daft Punk tivesse tido tempo de acontecer e a dupla francesa a tivesse produzido, o que prova por A mais B que o pop é, mesmo, cíclico.

A "Love Never Felt So Good" original (de 1983) vem despida de adereços: só piano e estalar de dedos levando a melodia vocal cantada com um sorriso no rosto pelo então maior artista do mundo. Nesse caso, um Timbaland mais contido jogou uma bateria domesticada e um arranjo de cordas digno (há ainda uma versão com participação igualmente econômica de Justin Timberlake). A versão beta de "Slave To The Rhythm", com a eficiência charmosa dos teclados discretos e a caixa seca, deixam a voz de Jackson muito mais a vontade do que o esforço da dupla Timbaland e Babyface e sua complexidade percussiva.

Slave To The Rhythm (Original Version):

Em "Chicago", os proeminentes hi-hats e o sutil arranjo de sintetizadores com timbres de cordas originais excedem novamente a regravação, enxertada com loops e rufos de bateria. Surpreendente é a versão para o folk clássico "A Horse With No Name" (hit de 1972, do America), transformada em "A Place With No Name". Jackson aproveitou o ótimo riff de violão, adaptou a letra e entre vários "yeah" e "woah-oh" característicos, deixou o groove irresistível - muito melhor que o mix do Stargate, que limou os violões e matou a música. 

Não sei qual seria a viabilidade comercial, mas acho que o mais honesto seria lançar um Xscape com o material original e depois um álbum de remixes, aí sim, com participação dos produtores que trabalharam na revisão dos faixas. Se bem que honestidade, na indústria musical...

Fica a obviedade em constatar que um artista que tem oito sobras de estúdio desse nível, merecia mesmo o título de Rei do Pop.

"A Place With No Name (Original Version)": genial.

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