quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Melhores de 2016 - Discos (#02: Mayer Hawthorne)


Mayer Hawthorne tinha tudo pra se transformar no Calvin Harris versão ianque. Os primeiros passos foram semelhantes: estreia promissora, revisionismo, respeito da crítica, atenção do público e a consequente e inevitável aproximação do mainstream. Harris converteu-se num artista dance ordinário, grava com figurões do establishment da música, ganha milhões e coleciona McLarens. Hawthorne continuou destilando seu soul de boa cepa em pequenos selos (à exceção de seu segundo álbum, How Do You Do, que saiu pela Universal) e quase caiu em tentação quando aproximou-se perigosamente do rapper de ladainha fraca Pitbull, em 2013 ("Do It"). Felizmente, ao que parece, Andrew Mayer Cohen optou pelo que realmente importa nessa história toda: fazer boa música. Ele possivelmente perdeu público com a escolha, mas acertou pela preferência, porque esse hipotético consumidor de pop rasteiro que coleciona hits no celular tem uma volatilidade totalmente dispensável pra um artista que pensa em seguir carreira fazendo algo relevante. Seu álbum mais recente, Man About Town (2016, Vagrant Records) é mais uma coleção irrepreensível de soul pop sem bolor, sem o ranço "neo-alguma-coisa", excepcionalmente bem produzido (o produtor e DJ belga Vito de Luca - do projeto Aeroplane - e o ótimo Benny Sings estão entre os nomes por trás da mesa de som do estúdio) e, mais importante, é delicioso de ouvir. São 10 faixas em pouco mais de meia hora; nada descartável, nada fora do lugar. Longe de ser um disco saudosista, Man About Town aponta para várias direções, entre R'n'Bs sedutores com instrumental cuidadoso e backings maravilhosos ("Cosmic Love", "Book of Broken Hearts"), sacolejos estilosos ("Lingerie & Candlewax", "Love Like That"), blue eyed soul à Hall & Oates ("The Valley"), disco/boogie ("Out of Pocket"), baladas soul viscerais ("Breakfast in Bed", "Get You Back") e até um reggae respeitável ("Fancy Clothes"). Com esse álbum, Mayer Hawthorne merecia bem mais que o modesto nonagésimo lugar que alcançou no paradão da Billboard. Questão é que imagino que ele esteja feliz, mesmo assim. Senão pelos resultados comerciais, pela satisfação pessoal de não se dobrar pra indústria em troca de uns tostões, por garantir assim longevidade artística e por continuar fazendo música que coloca um sorriso no rosto de quem se interessa pelo seu incrível trabalho (e não é pouca gente). São trinta minutos de prazer garantido no disco mais equilibrado da carreira de Hawthorne.

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