Quando o primeiro EP do Mahmundi (Efeito das Cores, 2012) pipocou na rede, ouvi uma e outra faixa e achei que não era aquilo que ia fazer com que eu voltasse a ter fé no combalido pop brasileiro atual. Pro meu gosto à época, tinha um cheiro forte de hipsterismo chillwave vindo das seis faixas: oitentista demais, teclados demais, despretensioso demais, Toro Y Moi demais. Decidi que eu não precisava de um outro Silva em potencial - já que nem ele tinha me convencido ainda que seus discos dariam em alguma coisa. Corta pra 2016: numa navegação aleatória (em Novembro), vi que o primeiro disco do projeto veio à tona. Como o que eu conhecia do som tinha uma base eletrônica forte (o que me agrada), resolvi arriscar. Baixei, ouvi. Não acreditei. Ouvi de novo. E de novo. Passei pelos 43 minutos de Mahmundi (Stereomono/Skol Music) umas quatro vezes na colada, naquele dia. E fiquei pensando na minha falta de paciência com Efeito das Cores. Bem feito pra mim: Mahmundi saiu em Maio e eu cheguei cinco meses atrasado. O que a carioca Marcela Vale oferece em seu debut foi feito na medida pra quem, como eu, sonha que algum dia a boa música pop triunfará de novo por aqui. Compositora, produtora, multi-instrumentista, esperta, estudiosa, e muito, mas muito talentosa, Marcela soltou um disco inteiro (são dez faixas) com canções acessíveis, cantaroláveis, redondinhas, recheadas de uma eletrônica contida, mas exuberante na escolha dos timbres e precisa na execução e sem deixar de lado as boas letras já percebidas nos dois primeiros EPs. Metade das músicas foi pinçada dos EPs e remasterizada, o que garantiu que a fantástica "Desaguar", por exemplo, ganhasse uma polida no instrumental, fazendo com que o timbre de guitarra do riff principal soe com o dobro da potência original e os vocais, entoados com todo tesão que essa faixa merece: é disparado o melhor refrão que ouvi no pop nacional nos últimos anos. A ótima "Calor do Amor" (outra de Efeito das Cores) também foi envernizada deixando a linha de baixo mais elástica e os sintetizadores e baterias eletrônicas mais limpos - mas sem qualquer resquício de pasteurização que pudesse tirar a força dos ataques. Das novas faixas, "Hit" sugere justamente o que o título diz em outro riff brilhante de sintetizador, dinâmica de reggae, uma letra com duas estrofes e - pasme - sem refrão. Há ainda o R&B estilizado de "Wild", programações espertas de bateria ("Meu Amor"), momentos mais contemplativos (e não menos apaixonados, sem resvalar na pieguice) como "Sentimento" e "Quase Sempre" e - surpresa - no meio de todo aparato eletrônico, Marcela despe-se até sobrarem somente as guitarras da linda "Leve". O melhor disco pop nacional em anos.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
Melhores de 2016 - Discos (#03: Mahmundi)
Quando o primeiro EP do Mahmundi (Efeito das Cores, 2012) pipocou na rede, ouvi uma e outra faixa e achei que não era aquilo que ia fazer com que eu voltasse a ter fé no combalido pop brasileiro atual. Pro meu gosto à época, tinha um cheiro forte de hipsterismo chillwave vindo das seis faixas: oitentista demais, teclados demais, despretensioso demais, Toro Y Moi demais. Decidi que eu não precisava de um outro Silva em potencial - já que nem ele tinha me convencido ainda que seus discos dariam em alguma coisa. Corta pra 2016: numa navegação aleatória (em Novembro), vi que o primeiro disco do projeto veio à tona. Como o que eu conhecia do som tinha uma base eletrônica forte (o que me agrada), resolvi arriscar. Baixei, ouvi. Não acreditei. Ouvi de novo. E de novo. Passei pelos 43 minutos de Mahmundi (Stereomono/Skol Music) umas quatro vezes na colada, naquele dia. E fiquei pensando na minha falta de paciência com Efeito das Cores. Bem feito pra mim: Mahmundi saiu em Maio e eu cheguei cinco meses atrasado. O que a carioca Marcela Vale oferece em seu debut foi feito na medida pra quem, como eu, sonha que algum dia a boa música pop triunfará de novo por aqui. Compositora, produtora, multi-instrumentista, esperta, estudiosa, e muito, mas muito talentosa, Marcela soltou um disco inteiro (são dez faixas) com canções acessíveis, cantaroláveis, redondinhas, recheadas de uma eletrônica contida, mas exuberante na escolha dos timbres e precisa na execução e sem deixar de lado as boas letras já percebidas nos dois primeiros EPs. Metade das músicas foi pinçada dos EPs e remasterizada, o que garantiu que a fantástica "Desaguar", por exemplo, ganhasse uma polida no instrumental, fazendo com que o timbre de guitarra do riff principal soe com o dobro da potência original e os vocais, entoados com todo tesão que essa faixa merece: é disparado o melhor refrão que ouvi no pop nacional nos últimos anos. A ótima "Calor do Amor" (outra de Efeito das Cores) também foi envernizada deixando a linha de baixo mais elástica e os sintetizadores e baterias eletrônicas mais limpos - mas sem qualquer resquício de pasteurização que pudesse tirar a força dos ataques. Das novas faixas, "Hit" sugere justamente o que o título diz em outro riff brilhante de sintetizador, dinâmica de reggae, uma letra com duas estrofes e - pasme - sem refrão. Há ainda o R&B estilizado de "Wild", programações espertas de bateria ("Meu Amor"), momentos mais contemplativos (e não menos apaixonados, sem resvalar na pieguice) como "Sentimento" e "Quase Sempre" e - surpresa - no meio de todo aparato eletrônico, Marcela despe-se até sobrarem somente as guitarras da linda "Leve". O melhor disco pop nacional em anos.
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