domingo, 27 de junho de 2010

A Piada Mortal

Essa é ótima: o Killing Joke, seminal grupo do pós-punk inglês volta ao estúdio com a formação original, algo que não acontecia desde 1982. De pouco sucesso comercial mas de influência enorme no cenário do rock industrial/alternativo/eletrônico (de Nine Inch Nails e Ministry à Faith No More e Korn) e do metal (o Metallica coverizou "The Wait" no seu EP Garage Days Re-Revisited de 1987). O Killing Joke fez a cabeça até do Nirvana, que usou a faixa "Eighties" como fonte de inspiração para compor "Come As You Are" (fato admitido no tribunal por Kurt Cobain, algum tempo depois do Killing Joke reclamar judicialmente): 

Compare a introdução de "Eighties" e "Come As You Are":



Enquanto um álbum de inéditas está sendo preparado (Feast Of Fools, marcado para Setembro), o quarteto formado por Jaz Coleman (vocais e teclados), Geordie Walker (guitarras), Martin "Youth" Glover (baixo) e Paul Ferguson (bateria), antecipa o que deve vir no novo álbum com o EP In Excelsis, lançado agora em Junho. Com canções extraídas das recentes sessões de gravação de Feast of Fools, o EP traz cinco faixas, que vão do rock vigoroso e a bateria dançável de Ferguson em "Kali Yuga" e na faixa-título (com a garganta no limite e o inconfundível timbre de lixa de Jaz Coleman), passando pelo tradicional clima apocalíptico da banda e os riffs nervosos da guitarra de Walker em "Endgame" e o ótimo reggae "Ghost Of Ladbroke Grove", que ganha uma versão dub no EP para o prolífico Youth provar por que é um baixista de mão cheia (com o perdão do trocadilho fraco).

Nota: 9
Pra quem gosta de: PIL, RammsteinCabaret Voltaire, Echo & The Bunnymen
Links: site oficial, MySpace

"Kali Yuga" ("Era de Ferro") é um tema que aparece nas escrituras Hindus, e simboliza a era em que vivemos, identificável por quatro características: a intoxicação, a prostituição, a matança de animais e destruição da natureza e a jogatina. Não estranhe o tema vindo da cabeça obcecada pelo ocultismo de Jaz Coleman. Ouça:


terça-feira, 22 de junho de 2010

Jake Mãos de Tesoura

Pro pop que se propõe, faltou pro Scissor Sisters um refrão do naipe de "I Don't Feel Like Dancin'" (hitaço da banda de 2006) em seu novo álbum "Night Work", que sai dia 28 de Junho. Em "Nightlife" percebe-se a versatilidade do bom vocalista Jake Shears (o de terno prateado aí do lado) e o quanto seus falsetes são contidos e afinados. O quinteto nova-iorquino continua privilegiando sacolejos bem pensados como em "Any Which Way" e seu baixão disco (esta caberia tranquilamente num disco dos irmãos Gibb). E sobra até pro Kraftwerk em "Something Like This" e sua melodia chupada de "Radioactivity", clássico dos alemães de 1975. Mas mesmo que seja um bom disco, ainda não foi com "Night Work" que o Scissor Sisters conseguiu me fazer notar a diferença entre eles e o Mika - ao menos musicalmente - nem me tira da cabeça que "You Make Me Feel Like Dancing", hit de 1976 de Leo Sayer, inspirou essa turma muito mais do que o glam rock (no sentido de que o que o Elton John fazia em 1973 era glam rock).

Nota: 5
Pra quem gosta de: Mika, Alphabeat, Sam Sparro
Links: site oficial, MySpace, Discogs   

Mostra pra eles, Leo!



     

domingo, 20 de junho de 2010

A Segunda Vinda

Novembro de 1985: sai o divisor de águas "Psychocandy", do Jesus and Mary Chain. Tido como um bombom recheado de cereja e ácido sulfúrico, o álbum dos irmãos escoceses Jim e William Reid trazia a idéia absolutamente original de soterrar lindas melodias pop sob toneladas de  distorção, feedback e reverb. É imensurável o tamanho do estrago que canções como "Just Like Honey", "You Trip Me Up" e "Never Understand" causaram. De My Bloody Valentine à The Raveonettes, a partir do agridoce "Psychocandy"  (impossível escapar do chavão), o rock nunca mais foi o mesmo. Na receita requentada de Paul Baker e John Fedowitz do Ceremony, o Jesus and Mary Chain é o ingrediente principal. Está tudo aqui, etapa por etapa, a começar pelos medidores de nível de sinal de áudio batendo no vermelho em quase todas as faixas - até estourarem definitivamente em "Don't Leave Me Behind", uma ode ao ruído e à microfonia. As baterias eletrônicas (que os irmãos Reid começaram a usar a partir do segundo disco, "Darklands", de 1987) disputam espaço com os vocais no meio do turbilhão de guitarras distorcidas (o wall of sound versão Ceremony), e até arriscam uma programação mais dançante em "Someday", com o mesmo baixo peterhookiano do New Order - algo que o Jesus também tratou de explorar em "April Skies", outra canção de "Darklands". Então, baseado nesses fatos, dá pra considerar "Rocket Fire", terceiro álbum da dupla da pequena Fredericksburg, Virgínia, um mero pastiche do som criado pelo Jesus And Mary Chain? E se o Ceremony reclamasse para si as mesmas influências que levaram os Reid a forjar sua música (Beach Boys, Velvet Underground, Phil Spector, Bo Diddley, Stooges), ao invés de simplesmente trazer para 2010 uma fórmula revolucionária de 25 anos atrás? Bom, a verdade é que o Ceremony - assim como os Mary Chain - quase destroem a música, o que é um tanto estúpido ou divino. E a diferença é que agora a dupla americana dispõe de mais tecnologia pra fazer com que as guitarras soem com esse veneno todo. E acima de qualquer discussão sobre a linha tênue que separa a influência da cópia, o disco merece ser ouvido. Porque sem modismos, adequação ou concessões, "Rocket Fire" é muito bom. Ele equilibra barulho e melodia em doses onde algumas vezes o resultado final é admirável e melhor apreciado nas  músicas onde a drum machine não está tão veloz e os vocais mais inteligíveis, como na faixa de abertura (a empolgante "Stars Fall") e de encerramento (a belíssima "Regret"). E também em "Someday", onde a temática do álbum que gira em torno de "Hey baby, look at the sky, the stars are shining" fica bem evidente. E como no doce psicótico de Jim e William Reid, é no recheio de "Rocket Fire" onde justamente  estão os três melhores exemplos do noise pop do Ceremony: a trinca "Marianne", "Silhouette" e "Don't Leave Me Behind" traz amplificadores prontos pra explodir desafiando tímpanos mais sensíveis. E esse duelo é sempre muito interessante.

Nota: 7
Pra quem gosta de: Ride, Lush, Cocteau Twins, Galaxie 500, Sonic Youth
Links: MySpace, Discogs, Youtube

"Regret":

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A Volta Do Que Não Foi

Tá vendo? Basta a boa pop music fraquejar num momento de entressafra para uma nulidade como o Cause & Effect criar uma asinha e engrossar a lista de comebacks fracassados em 2010. Com alguns semi-hits na carreira que incluem um não muito honroso 38º lugar no Hot 100 da Billboard para o single "You Think You Know Her" em 1991 e depois de seis anos de hibernação, Rob Rowe (vocais, guitarra) e Keith Milo (vocais, teclados) acabam de jogar aos leões o EP "Artificial Construct Part One": quatro bolas fora chutadas com a habilidade de um Felipe Melo maltratando a Jabulani. O tecnopop enfadonho do duo mostra toda sua previsibilidade já na primeira música ("Happy?"): note a incapacidade da dupla de escrever um refrão melhor do que "everybody's happy dreaming of the future" ou pensar num timbre de sintetizador  um pouquinho mais interessante do que a flauta pan do solo. A total falta de conexão com o mundo real é facilmente perceptível na pieguice de "View Of The Sea" e seus indefectíveis samples de ondas quebrando, na letra constrangedora de "This Is Who I Am" ("eu me cerco das coisas que amo para ajudar a encontrar a cura para as minhas aflições") e na grandiloquência escorregadia de "Sleep". Pra quem abriu pro Information Society no começo dos 90, é bem possível que a idéia de uma tour agora seja algo como o Cause & Effect empilhando seus teclados obsoletos em cima de engradados de cerveja em algum boteco de Sacramento, Califórnia, local de origem da banda. E enquanto imaginam que alguém possa confundir sua música com alguma sobra de estúdio do Depeche Mode, o máximo que "Artificial Construct Part One" consegue é soar como um sub-Camouflage, o que também não deve ser motivo de orgulho pra ninguém. Nem mesmo os muitos fãs latino-americanos que a banda deve ter, acostumados que estão a cair como patinhos em armações nada talentosas como o Cause & Effect. Outra péssima notícia é que o título desse EP indica um "Part Two" em breve.


Nota: 1.0 (pela coragem de lançar o EP)
Pra quem gosta de: bandas que imitam o Depeche Mode, whisky paraguaio ao invés de escocês, Red Flag, Anything Box.
Links: site oficial, Facebook, MySpace, Youtube.

A falta de idéias já vem desde 1990: "You Think You Know Her" tem uma chupada de "Bizarre Love Triangle" do New Order. Assista: (ou melhor, não assista...)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Perestroika Pop

"Aldeia global". Faz sentido lembrar dessa expressão cunhada pelo sociólogo canadense Marshall McLuhan quando uma banda vinda da Rússia apresenta um disco que parece ter sido feito na Inglaterra da Era Thatcher. De qualquer maneira, Anthony Sevidov (vocais, teclados), Dima Midborn (baixo) e Boris Lifshits (bateria) mostram que estão totalmente sintonizados com o que acontece atualmente no pop de plástico do resto do mundo no que diz respeito ao uso indiscriminado de timbres de sintetizadores antigos, temática pueril e da total devoção à música do tempo em que o mullet era o que havia. Apropriando-se do lado menos cerebral da fonte aparentemente inesgotável do tecnopop britânico do começo dos 80, o trio moscovita Tesla Boy foi formado em 2008. Depois de um EP e um single ano passado, os russos chegam agora ao álbum "Modern Thrills"; lançado no final de Maio pelo selo inglês Mullet Records (nome mais do que apropriado). Imagine que a intenção do Tesla Boy com esse disco é provar que é possível retornar à ingenuidade afetada do Kajagoogoo e estaremos chegando perto do que representam canções como "Electric Lady" e "Thinking Of You": vazias, insossas, sonolentas. Para bandas como essa, o rótulo "synthbaba" cai muito melhor do que "synthpop". Fuja.

Nota: 3.0
Pra quem gosta de: Miami Horror, Thompson Twins, Living In A Box.
Links: MySpace

Vídeo oficial para "Electric Lady":