Daqui a pouco é verão no Hemisfério Sul. Três meses de bermudas, biquinis, praia, sol e Ivete Sangalo. Putz, Ivete Sangalo? Há mais de dez anos que a cantora toma conta do campinho nessa época aqui no Brasil, existe distância segura para se proteger desse furacão baiano? Não, não tem. Mas eu não preciso ser cúmplice. Aliás, alguns lançamentos recentes também não se encaixam a algo próximo de um verão perfeito, musicalmente falando. Ei-los:
Artista: Ladytron
O quarteto de Liverpool soltou em Setembro seu quinto álbum, Gravity The Seducer. O synthpop épico tramado pela banda no disco tem várias camadas de gelo... digo, de sintetizadores com timbres mal-humorados (uma faixa chama-se sintomaticamente "Melting Ice", vai vendo) e alguns dos temas instrumentais mais populares na Groenlândia atualmente. Excessivamente melancólico, Gravity The Seducer não tem a menor chance de funcionar naquele seu surrado ghetto blaster na beira d'água.
Fator local: ouça o disco quando visitar Yakutsk, na Sibéria.
Fator de proteção sonar: 30 (médio).
"White Elephant": não, não é cor-de-rosa. É branco.
Artista: Zola Jesus
Apesar do nome, Nika Roza Danilova nasceu em Phoenix, Arizona. Conatus (lançado em Setembro) é o terceiro álbum da moça usando o alter ego Zola Jesus e traz 11 faixas de eletrônica experimental num cruzamento aproximado entre Joy Division e Siouxsie & The Banshees. O disco condensa rock gótico e synthpop, mas é o trabalho vocal inegavelmente bem feito de Danilova que mais chama atenção aqui - mesmo quando ela entoa um cântico ininteligível como em "Ixode". Seus trinados sinistros assustam na mesma medida que fascinam.
Fator local: bom de ouvir em São José dos Ausentes, nunca em Balneário Camboriú.
Fator de proteção sonar: 60 (alto).
"Vessel": filtro verde-esmeralda. E frio.
Artista: Justice
O franceses Gaspard Augé e Xavier de Rosnay acabaram de lançar seu segundo e esperado álbum, Audio, Video, Disco. Tarefa ingrata depois da estréia absurda † (Cross fica mais fácil), do longínquo 2007. Passaram no teste? Sim e não. Ouvindo com carinho, o disco não chega a decepcionar. Tem aqueles timbres embolorados semelhantes aos encontráveis em singles (já) clássicos como "Waters of Nazareth" (em "Parade"), mas a diferença é que o Justice agora não engaveta a maior quantidade de distorção possível por metro quadrado como fazia há quatro anos atrás. O foco parece estar num electro-rock setentista/progressivo, cheio de guitarras e que pouco tem a ver com a pista de dança, bicho! O que deixou o som meio sem graça, é verdade.
Fator local: leve uma cópia na mochila na sua viagem para São Tomé das Letras.
Fator de proteção sonar: 15 (baixo).
"Civilization": "_ Corram para as montanhas!"
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