Dessa vez não deu. Eu que defendi com unhas e dentes o álbum anterior do Autechre (Oversteps, 2010), dessa vez penso em jogar a toalha. O que Oversteps acertou em pelo menos 40% das faixas, o novo álbum do duo britânico ameaça botar a perder.
Exai (o título é a pronúncia em inglês para o numeral romano XI, alusivo ao décimo primeiro disco da banda) é (surpresa!) muito difícil. Bastam os primeiros segundos da faixa de abertura "Fleure" pra perceber que passar duas horas tentando se concentrar no som duro e abrasivo desse álbum é uma tarefa que exige dedicação. "irlite (get 0)", "bladelores" e "cloudline" ultrapassam os dez minutos de duração. "irlite (get 0)" é jazz extraterreno, Herbie Hancock numa jam session direto de Marte. Ela vai razoavelmente até a metade. Mas depois de uma pausa amedrontadora, vira trilha pro David Cronenberg. Há borrões onde deveria estar a percussão, há notas graves de sintetizador planando como aviões da Luftwaffe prontos pra atacar. "bladelores" é um tema menos austero, uma nuvem espessa de timbres atmosféricos conduzida por um beat industrial. "cloudline" é para os fortes. Um exercício glitch denso, arrastado. O entroncamento de batidas desconexas de "prac-f", os timbres de bateria opacos de "vekoS" e a pancadaria de "nodezsh" não deixam dúvidas sobre a criatividade dos programadores Rob Brown e Sean Booth, mas a desconstrução no limite cansa. "deco Loc" me faz lembrar da primeira e única vez que ouvi Tago Mago do Can inteiro. Se tem uma música mais próxima de você, ouvinte médio de eletrônica, ela é "jatevee C". O resto das 16 faixas desse vinil quádruplo (!) que sai no começo de Março é de nada fácil digestão. Se é isso que te atrai, vai com fé.
"jatevee C": nem tudo são espinhos.
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