terça-feira, 24 de setembro de 2013

Réquiem


Era um beco sem saída. Moby chegou ao topo com Play, seu multiplatinado álbum de 1999. Sintomaticamente, também, esgotava-se ali a fórmula: beats quebradiços recheados com loops de blues de meio século atrás e teclados sinfônicos a um passo da grandiloquência. Era o downtempo para as massas vendendo 12 milhões de cópias, estrelando campanhas publicitárias milionárias e elevando Moby à categoria de Pelé da eletrônica.


Dali pra frente, Moby manteve o foco num certo tipo de ambient music high tech, explorando com poucas variações a receita que deu certo em Play e abdicando do que foi o seu habitat natural no começo da carreira: as pistas de dança. Fora um ou outro single ("Lift Me Up", "Disco Lies"), os discos de Richard Melville Hall começaram a ficar cada vez mais modorrentos, arrastados, preguiçosos. E chatos.

Ouvindo Innocents - que sai oficialmente dia 01 de Outubro - deu pra sacar que Moby não intenciona mudanças significativas, mas os dezoito meses produzindo esse disco mostraram que o tempo foi muito bem gasto. Dá pra afirmar sem medo de errar que é seu melhor álbum desde 18, de 2002. Tem algumas colaborações vocais de respeito (Wayne Coyne do Flaming Lips e Mark Lanegan, ex-Screaming Trees, entre eles), e olha, é um mergulho em águas turvas. Ainda rolam aqueles samples obscuros ("The Last Day", "A Long Time"), chama atenção tecnicamente pelas camadas de vocais sobrepostas com perfeição (a produção é do craque Mark Spike Stent) e tem canções realmente lindas ("The Lonely Night" com Mark Lanegan e "The Last Day" com a desconhecida Skylar Grey são duas das melhores aqui), mas nada tem qualquer proximidade com as luzes frenéticas de uma discoteca, portanto não espere que Innocents migre dos fones de ouvido para alto-falantes de 18 polegadas. É um disco que pega no tranco: ouvi com desconfiança pela primeira vez, simpatizei com alguma coisa na segunda e comecei a descobrir as qualidades na terceira.

Ainda não é aquele Moby. Mas é o melhor Moby dos últimos dez anos.

"The Last Day": técnica de sampleamento em boa forma. 

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