Você que diz que dance music é tudo igual, tenho certeza que nunca ouviu Caribou. Se ouviu e continua dizendo, esquece. Volta pro Swedish House Mafia e vai ser feliz.
A conversa aqui é outra.
Daniel Snaith passa a milhares de quilômetros da eletrônica farofeira e
de profundo mau gosto de Avicii, Tiësto e essa gentalha toda, mais
preocupada com suas mansões em Palm Beach do que com o timbre do
sintetizador que vão escolher no estúdio.
Eis que Dan Snaith depara-se com a difícil missão de gravar o álbum seguinte ao espetacular Swim (2010) e ele reaparece com mais um trabalho de cair o queixo. Depois da animadora "Can't Do Without You" (que saiu em Junho), Our Love (lançamento oficial dia 07 de Outubro) impressiona. Reafirma que o talento do canadense é superlativo. Sua produção é detalhista, engenhosa. Fico tentando imaginar o processo de criação de Snaith. Quanto tempo até achar um som de caixa como o de "Silver"? Quantas noites procurando o grave poderoso, redondo e macio de "All I Eved Need"?
Ouvir "Our Love" (a música) num (bom) fone de ouvido é uma experiência e tanto, a riqueza instrumental salta aos ouvidos. E também porque seria um desperdício deixar escapar qualquer detalhe de uma composição tão bem tramada. Ela não precisa mais do que as primeiras descargas do baixo gravíssimo e dos vocais particularíssimos de Snaith pra chamar atenção, mas aos trinta segundos, o bumbo ganha vida própria e quando chega ao primeiro minuto, entram os hi-hats faiscantes de uma comportada faixa dance. Samples vocais no segundo plano, cordas que aparecem do nada... as surpresas vão se sucedendo até o break estratégico na metade do caminho para que uma linha de baixo totalmente nova seja providenciada e "Our Love" transforma-se então numa house mastodôntica, um 4x4 de chimbau oscilante apoiada por uma avalanche de efeitos. Preste atenção, é uma das músicas do ano.
Snaith explora à exaustão as baixas frequências, seja no downtempo de vocais picotados de "Dive", na alucinação techno de "Julia Brightly" ou na admirável complexidade instrumental de "Your Love Will Set You Free". Os arranjos vocais são outro caso à parte. Note a fantástica sobreposição de vozes em "Your Love Will Set You Free", a limpidez da misteriosa cantora de voz terna em "Second Chance" ou ainda o eco celestial no próprio falsete de Snaith, que faz "Back Home" triplicar a carga emocional.
Our Love - digo desde já - vai ser difícil de ser batido esse ano. É variado, acessível e inventivo. Reitera Daniel Snaith como um dos produtores mais importantes de eletrônica dos últimos tempos, dá uma surra de criatividade na vexatória EDM atual e prova que ainda é possível fazer música sintética de inquestionável qualidade, sem apelar pro passado e sem abdicar de ousadia e originalidade.
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