Damogen Furies, novo álbum de Squarepusher, divide-se em duas partes: a primeira, harmoniosa e regular, começa com o drum'n'bass na velocidade da luz da faixa de abertura "Stor Eiglass" (com melodia baseada em "Just Like Heaven", do Cure). Fim da primeira parte.
As outras sete faixas compõe a segunda parte. É preciso fôlego. O que vem a seguir é um rolo compressor de cortes secos, rufos impossíveis, claustrofobia e opressão, num tsunami cibernético que deve deixar Mike Paradinas choramingando baixinho assim que ouvir esse álbum. Não é o tipo de disco que eu colocaria num churrasco com amigos.
É desafiador e angustiante acompanhar Damogen Furies faixa por faixa e ouvir Jenkinson esticar os limites de sua música num nível de tensão que beira o surreal. Por vezes as coisas parecem que vão fugir do controle, como na metade final de "Kontenjaz", onde os efeitos vão se sobrepondo de tal maneira que a impressão que se tem é que não vai caber na música, em si. Às vezes Squarepusher tenta nos desorientar, como na introdução cheia de teclados ambient de "Exjag Nives". O que aparenta ser uma delicada faixa de progressive transforma-se rapidamente num dubstep mutante, que vira um breakbeat hardcore de timbres ásperos e viradas de bateria inacreditáveis. Menção honrosa também para o ameaçador riff de "Baltang Arg"- que Jenkinson faz questão de picotar com pouco mais de um minuto, até sobrarem só estilhaços colados quase aleatoriamente sobre a polirritmia indecifrável das baterias. Construir, despedaçar e reconstruir um tema dessa maneira é algo um tanto brutal ou divino; assistir o processo no conforto dos fones de ouvido é fascinante. "Kwang Bass" leva o instrumento oscilante e minimalista do título à um passeio por paragens de drum'n'bass atmosférico e rajadas nervosas de ruído eletrônico e estrondos metálicos. "D Frozen Arc" lacra o disco com mais pistas falsas espalhadas: do clima soturno inicial restam poucos vestígios até o final, numa faixa com andamentos genialmente distribuídos de maneira irregular.
A duração de apenas 44 minutos de Damogen Furies é providencial. Absorver esse disco em doses homeopáticas é fundamental pra perceber que essa é a musica eletrônica mais violentamente sedutora disponível no mercado.
"Rayc Fire 2": no limite.
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