Senta que lá vem clichê: o pop é cíclico. Estava pensando nisso enquanto ouvia Galvany Street (Blaufield Music), novo álbum do Booka Shade. A dupla alemã começou lá no final dos 80 como um projeto synthpop, foi convertendo-se em house e agora, em 2017, achou que tinha a ver lançar um disco que é uma espécie de volta às raízes (mais um chavão ordinário). Não sei se Walter Merziger e Arno Kammermeier encheram o saco do seu tech house límpido e geométrico que gerou belos álbuns como Memento (2004) Movements (2006) ou só quiseram provar que, sim, eles podiam compor canções com estrutura pop de estrofe-refrão-estrofe e trabalhar com mensagens um tanto mais diretas (no caso, letras) quanto os sensacionais ganchos de sintetizador que fizeram a fama das (já) clássicas das pistas "Body Language", "Mandarine Girl" e "In White Rooms". Para isso, convidaram quatro vocalistas (a mim, todos desconhecidos), incluindo Craig Walker (o do meio, na foto acima), que canta em metade do álbum.
O produto final, se não é brilhante, é muito bom de ouvir. E se é assim, acredito que deve-se muito ao fato do Booka Shade ter dois produtores de mão cheia, com excelente gosto para timbres, texturas e batidas e ainda capazes de preencher cada espaço vazio na música com sons que quase passam despercebidos numa audição aleatória, mas são claramente perceptíveis com um bom par de fones de ouvido. São detalhes como a meticulosa programação de bateria de "Broken Skin", os mil teclados e o tratamento vocal de "Numb the Pain" ou os bleeps e micro ruídos que formam a base de "Peak". Afastando-se do 4x4 e formado em sua maioria por canções downtempo, Galvany Street traz poucos momentos propícios à pista de dança e, mesmo assim, com BPM médio: a suingada "Numb the Pain", os ecos de New Order de "Babylon" e o ótimo bassline amparado pelo refrão grudento de "Loneliest Boy". A baixa dançabilidade do álbum talvez não surpreenda os fãs (que já viram o Booka Shade experimentar com ritmos mais lentos em Cinematic Shades [The Slow Songs], de 2008), mas a abordagem sugere uma aproximação do techno com o pop, mesmo, como tudo começou para a dupla.
"Babylon": das poucas faixas que induzem ao movimento de Galvany Street.
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