Os islandeses do GusGus começaram como um octeto, que reduziu-se a um trio, depois uma dupla. Era de se esperar que a banda perdesse em diversidade (como a encontrável no impressionante Polydistortion, um dos melhores álbuns de eletrônica dos anos 90) ou que caísse na mesmice sintética por conta da falta de gente como as talentosas cantoras Emilíana Torrini ou Hafdís Huld, não? Não. A cada ano, o duo remanescente, Daniel Ágúst Haraldsson (produção e vocais) e Birgir Þórarinsson (a.k.a. Biggi Veira, sintetizadores, produção) volta melhor e cheio de novidades, oferecendo uma coleção de canções que ainda justifica plenamente o lançamento de um álbum, como esse incrível Lies Are More Flexible, o décimo da banda, lançado dia 23 de Fevereiro pelo selo do grupo, Oroom.
Com os vocais cristalinos de Ágúst desfilando elegantemente em meio a timbres de teclado grandiosos, algo celestiais; brigando por espaço com os ruídos cirurgicamente incorporados a estrutura da lindíssima progressive "Fireworks" ou duelando com os basslines violentos que ditam o ritmo em quase todo o disco, o GusGus continua muito acima da média no quesito manipulação de sons, vide a sugestão de climas e imagens cinematográficas com os sintetizadores que planam ameaçadoramente sobre as paisagens gélidas da Islândia em faixas instrumentais como a downtempo "No Manual" e a ambient techno épica "Fuel".
A fantástica progressão de acordes e arpejos na disco sintética "Lies Are More Flexible" (Giorgio Moroder certamente vai se orgulhar quando e se ouvir), os geniais movimentos repentinos de cordas combinados com arranhões de som cortados e ritmados com o BPM baixo de "Don't Know How to Love", a puramente dançante "Lifetime" (com todas as variações possíveis em cima do mesmo riff de teclado) e a arrepiante abertura "Featherlight" completam um disco em que nada está fora do lugar, inclusive o breve interlúdio de 48 segundos "Towards a Storm", que faz a passagem entre "No Manual" e "Fuel", já no final do álbum. Oito faixas em quarenta minutos absolutamente indispensáveis.
Em tempos de emburrecimento, apatia e redundância na cena dance/eletrônica, o GusGus é um milagre da tecnologia.
"Featherlight": um dos oito acertos do GusGus no novo álbum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Spam, get outta here!