domingo, 28 de agosto de 2011

O Frio Coração das Máquinas


Se o Nero fosse uma banda de rock, eles seriam o Asia. Assim como o supergrupo de Steve Howe, tudo o que a dupla inglesa Daniel Stephens e Joe Ray faz é super produzido, pirotécnico, explosivo - e farofa. Se trabalhos como esse fazem parte da tentativa inglesa de popularizar o dubstep, tenho a felicidade de dizer que essa revolução não vai ultrapassar a janela das casas britânicas - porque lá (e só lá) o público caiu como um patinho: o debut Welcome Reality foi direto pro topo do paradão inglês.


Soando como uma trilha sonora de algum game frenético atual, o único resquício de humanidade em Welcome Reality são os vocais de Alana Watson, porque a impressão que eu tenho é que esse disco saiu de uma linha de montagem chinesa direto pros consoles do Playstation - como que começando a comprovar a tese defendida por caras como o André Forastieri, que diz que os games vão substituir a música pop no nível de interesse da molecada dentro de pouco tempo (se é que já não substituiu) - tal o grau de rigor geométrico das linhas melódicas eletrônicas; tudo se encaixa como um Tetris musical onde nada pode estar fora do lugar e acaba resultando num álbum de uma frieza emocional batendo no vermelho. E quando você descobre que a única música que te chamou atenção ("Must Be The Feeling") não passa de um remix de um semi-obscuro electro-funk de 1984 chamado "Time To Move" da cantora Carmen, é porque o Nero não merece estar nas suas caixas de som.

"Promises": Nero inaugura mais uma categoria, o dubstep farofa.





quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Pior Disco de Todos os Tempos do Último Mês


Sim, o título foi inspirado naquela canção dos Titãs - e não tive paciência pra procurar, mas provavelmente já o usei em algum outro post aqui do blog. De qualquer forma, cai bem pra esse novo álbum do The Rapture. Pois bem, pra quem algum dia acreditou que a colisão entre dance e punk poderia gerar mais do que cinco músicas legais, aí estão os São Franciscanos de origem (e nova-iorquinos por adoção) entregando In The Grace Of Your Love. Talvez eles próprios entrem nesse Top 5 com o single "House of Jealous Lovers" de 2002, mas basta uma audição de In The Grace para ter certeza de que aquele cowbell estridente duelando com um vocal pra lá de neurótico foi só um acidente feliz mesmo.
 

  Primeiro ponto: a voz de Luke Jenner é insuportável. E ele se esforça, porque durante as 11 faixas, Luke esganiça, desafina, geme, chora e falseteia (ou tudo junto, como em "Blue Bird"), mas depois de quase uma hora dessas notas agudas semi-tonadas rebatendo nos tímpanos (experimente ouvir os últimos 40 segundos da faixa-título), dá vontade de correr pra qualquer coisa da Sade, porque tudo que se quer é alguém sussurrando macio no ouvido. E mesmo com o LCD Soundsystem pendurando as chuteiras, o Rapture continua acreditando que misturar Chic e Sex Pistols é pra qualquer um: basta jogar um acordeãozinho entre dedos estalando ("Come Back To Me"), pratos sibilantes disco  ("Never Die Again") ou forrar a música com pianos house ("How Deep Is Your Love?", que graças à São Maurice Gibb, não é um cover do Bee Gees) que a fórmula dá certo. E depois de tudo isso, acrescente coisas inexplicáveis como a psicodelia chapada de "Roller Coaster", a deprimente faixa de encerramento "It Takes Time To Be A Man" e a clara sensação de que o álbum foi gravado num take só - do início ao fim - de tão tosco, preguiçoso, sem direção e mal-resolvido que é, e pronto: temos o pior disco de rock, ou dance (ou onde quer que for que o Rapture se encaixe atualmente) do mês, quiçá do ano. Bola fora, DFA.

"How Deep Is Your Love?": os Bee Gees remanescentes respiram aliviados.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

In Da House


Comecei a prestar atenção nos britânicos do Cicada quando ouvi o groove musculoso que a dupla Aaron Gilbert e Alex Payne injetou em "World In My Eyes" do Depeche Mode em 2004. Em 2006 mais uma operação bem sucedida que me deixou de queixo caído: a improvável transformação da pós-punk revivalista "Munich" do Editors num monstro trance/progressivo foi assombrosa. Trabalhando com vocalistas convidados (na foto acima, a islandesa Heidrun Bjornsdottir, ex-GusGus), a dupla volta em 2011 com um terceiro álbum sublime: Sunburst.


É dance music salpicada de indie rock ("Hit My Ego"), timbres e cantos orientalizantes (a fantástica "Magnetic"), progressive house ("Fast Cars"), latinidades muito familiares (a festa percussiva de "Woh!") e disco music clássica (a linha de baixo à la Chic e as escovadas nas cordas da guitarra em "In The A.M."). A única faixa desnecessária em Sunburst é um cover fraquinho de "Your Love", uma das pedras fundamentais da house criada por Jamie Principle em 1984 e posteriormente produzida por Frankie Knuckles (que cuidou da segunda versão comercial da faixa em 1987). Descontando essa mancada, o resto do álbum está longe - muito longe - de ser o "resto". Não perca por nada. 

"Magnetic": como o Chemical Brothers dos bons tempos.




terça-feira, 16 de agosto de 2011

Chupação Explícita


Anos 80. Anos 80. Anos 80. Anos 80. Eu poderia ficar martelando um control V com "Anos 80" até criar calo no indicador que ainda não conseguiria explicar o quanto essa expressão ainda ronda o pop atual. Vai entender né? Se duvidar, Daniel Lopatin e Joel Ford nem eram nascidos nessa década. Mas o que atrai tanto a atenção da Geração Y na (segundo alguns) "década que o bom gosto esqueceu" (sim, os 80)? 

 

Perigosamente incensado por aí, o debut da dupla acaba de sair (Channel Pressure, capa acima). Nele, há um engarrafamento de clichês e referências tão grande que tudo é facilmente reconhecível, de timbres chinfrim de teclados de bolso até a cafonália das vozes sinteticamente modificadas. O que faria você perder o seu precioso tempo durante os 37 minutos de duração do álbum tentando entender onde Ford & Lopatin querem chegar com esse disco bem produzido, é verdade, mas totalmente inútil se você está à cliques de distância de material infinitamente superior e o melhor de tudo, original - lá dos 80, claro - é a minha pergunta. Não se deixe enganar pela melodia bonitinha de "The Voices" ou pelo caminho bem pavimentado por sintetizadores em "Joey Rogers", ou ainda o mela-cueca com jeitão de FM adulto-contemporâneo em "Break Inside": a falta de canções fortes aqui não dá liga às 14 faixas (do contrário, até seria perdoável tanta falta de originalidade) e fazem com que Channel Pressure fique fadado à mera curiosidade passageira. Daqui a pouquinho vai ficar encostado num canto escuro do seu HD, como aquele bonequinho do Falcon que você adorava quando moleque e que hoje deve estar semi-esquecido em alguma gaveta qualquer.

Ford & Lopatin: chupa, Anos 80.



domingo, 7 de agosto de 2011

Dark Side Of The Moon


Vale muito a pena ouvir o novo do Black Ghosts, When Animals Stare. Formado pelos ex-integrantes do Simian (na época ainda sem o "Mobile Disco") Theo Keating e Simon William Lord, a dupla oferece um segundo álbum coeso e muito interessante musicalmente.


Passando longe da eletrônica rasteira, When Animals Stare é diverso e bem produzido: créditos para a criatividade dos arranjos de Theo Keating, que combina muito bem instrumentos convencionais com a tranqueira programável. A quase-rock "Talk No More" com um certo exagero vocal de Simon William Lord é uma das poucas escorregadas aqui, mas no geral o resultado é ótimo. Ouça o trip-hop de base orquestrada da faixa de abertura - a linda "Water Will Find A Way" -  e veja que o que começa com o pé direito dificilmente dá errado. Os acertos continuam com o pop de refrão em falsete e órgãos flutuantes de "Walking On The Moon", o electro-blues de "Diamonds", a sucessão de beats da incrível "Sanguinella", o refrão apaixonante de "That's All There Is" e a fanfarra de "Forgetfulness". Menção mais do que devida para os ótimos vocais de Simon William Lord, emotivo mas não piegas. Pode acreditar: não é toda hora que as palavras "criatividade" e "eletrônica" andam de mãos juntas como em When Animals Stare. 

"Water Will Find A Way": clima tenso aliviado no refrão.

Chão! Chão! Chão!



Eu levantaria uma sobrancelha em sinal de desconfiança antes de comprar um single de um cara chamado Csaba Lumnitzer. Ainda bem que esse produtor húngaro escolheu o pseudônimo Jay Lumen pra lançar coisas como o recente The Groovy Stuff. Apesar da pouca variação melódica, o single traz três faixas de tech-house bem suingadas, com baixos à galope e vagas referências vocais picotadas sabe-se lá de onde. Destaque para a capa com a vagabinha dançando no melhor estilo boquinha da garrafa.  

"The Groovy Stuff": caixa, bumbo e sexo. 



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Jacko Na Pista


Não acho que os suecos maluquetes do Teddybears vão chamar muita atenção com as músicas de seu novo EP - nem com a temática um tanto tardia da faixa-título, nem com a sonoridade propriamente dita. "No More Michael Jackson" mistura um vocoder kraftwerkiano com um suingue robótico e é até animadinha, mas o hip-hop digital "Why You Wanna Look At Me Like That" e os rocks cibernéticos "Weed In A Rizla" e "Cole" (esta algo Justice) não devem passar de meras coadjuvantes esquecíveis no meio da tentativa electro da banda de reverenciar o Rei do Pop. Agora, a capa do EP (acima) é genial. Capa do ano e ninguém tasca.

"No More Michael Jackson": moonwalk à 150 por hora.