A melhor coisa vinda da Bélgica desde a fundação da Stella Artois chama-se Selah Sue. Com apenas 22 anos e trabalhos com Jamie Lidell, Prince e Cee Lo Green no currículo, Selah (nome verdadeiro: Sanne Putseys) debutou em 2011 com um álbum epônimo que impressiona.
Em pouco mais de 45 minutos, o disco constrói uma ponte improvável entre Bruxelas, Detroit e Kingston, misturando reggae, soul music e a voz semi-rouca de Selah - que canta com a segurança de uma veterana da Motown. Desde a simulação da agulha pousando no vinil da faixa de abertura "This World" (um dos três singles do álbum), já dá pra sacar o clima: baixo de reggae e uma seção inspiradíssima de metais acolhendo os vocais extasiados da jovem cantora. Como que essa guria branquinha e européia foi se encantar com o ritmo jamaicano a ponto de gravar maravilhas ao violão como "Raggamuffin" (com a naturalidade de alguém que tivesse sido criado num beco de Trenchtown) é que me deixa curioso. Mas questões meramente geográficas são totalmente irrelevantes se ela continuar produzindo canções com vibe canábica como "Peace of Mind" ou "Fyah Fyah" (creio eu que isso seja algo como "Fire, Fire" traduzido do jamaicanês). Ou ainda optar por expulsar a palavra acompanhada de um instrumental soul poderoso como o de "Black Part Love", ou dividir o microfone com respeitáveis cantores como Cee Lo Green (na arrepiante "Please"). É claro que o disco tem coisas de gosto um tanto duvidoso (os vocais extremamente emocionados de "Mommy", por exemplo), mas há de se entender que uma estréia sem arestas para aparar nos próximos trabalhos poderia estragar essa menina. Comparações com Amy Winehouse? Sem essa, vai. Selah Sue tem um fole vocal bom o suficiente pra essa análise preguiçosa.
"Raggamuffin": ela é bem mais do que um belo par de olhos azuis.
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