Não sei se o Midnight Juggernauts ficou pilhado com a recente popularidade da neo-psychedelia dos seus conterrâneos do Tame Impala, mas a banda mergulhou de cabeça na efervescência colorida da California sessentista em Uncanny Valley, seu terceiro álbum a ser lançado oficialmente esta semana.
OK, eles sabem dosar a mistura. O trio vai equilibrando lisergia e eletrônica em porções homeopáticas, o que garante uma certa homogeneidade ao disco. "Melodiya" e "Streets of Babylon" celebram o passado recente da banda, com batidas dançantes e linhas de baixo enérgicas e grooveadas. "Sugar and Bullets" mantém o sacolejo eletrônico, mas os vocais são embebidos em éter e vão sumindo no ar junto com os teclados. "Systematic" é a mais orgânica e distorcida das dez faixas, com uma boa levada de baixo e bateria. Já a balada "Master of Gold" é o sinal de alerta da combinação chegando no limite: violões, percussão e efeitos de vento na planície quase colocam tudo a perder. Claro que nem tudo são flores (no cabelo). Quando os Juggernauts erram, saem coisas como a esquisitíssima "Another Land" (um synthpop de tons apocalípticos) ou a sinfonia de bolso "Memorium", com vocais sonolentos e instrumental indeciso.
O grande trunfo de Uncanny Valley é o single "Ballad of the War Machine", um momento de suprema inspiração dos australianos. Sob uma produção minuciosa, o grupo conseguiu juntar vocais flutuando entre bolhas coloridas, guitarras derretendo no ácido, uma batida lenta, sexy e funky, sintetizadores com timbragens de ARP e Moog e um enigmático jogo de palavras no refrão que diz “Godspeed, travel well / Lightning in a bottle cracks a spell / Godspeed, travel well / Fever through your body raising hell”, e que mesmo assim, gruda com espantosa facilidade no cérebro. Uma das músicas do ano. Espetacular.
"Ballad of the War Machine": Top 10 2013.
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