terça-feira, 18 de junho de 2013

Dance Music For The Masses


Não é propriamente uma revolução. Acontece que, de tempos em tempos, aparece alguém com um balão de oxigênio pra entubar na fuça de um gênero que anda apanhando mais que mulher de malandro: a dance music. Maltratada de todas as formas ultimamente e elevada à palhaçada EDM, a pior música de pista que se houve hoje em dia é a que está mais perto de você. No rádio, na TV, nos números acima de seis dígitos do Youtube, no festival patrocinado pela cerveja, na boate com ingressos à preço de derrubar todo o primeiro escalão do Ministério da Fazenda.


Calhou desse Messias vir como uma dupla: dois moleques ingleses que tem a palavra TALENTO estampada em caixa alta nas camisetas... e eles tem a manha. Tão novos e já sabem como o jogo é jogado: um single número dois e um álbum de estreia no topo da parada britânica não vão ser suficientes pra estragar esses guris. Porque eles tem a exata noção de que não há revolução (ou qualquer coisa que o valha) dando zero no Ibope. O que faz a diferença é que com Settle, o Disclosure entra pro seleto clube de artistas que sabem a hora certa de arriscar, de não deixar o impulso tentador de procurar as soluções mais corriqueiras pra tentar fazer sua música subir mais alto tomar conta dos dedos na hora de girar os botões da mesa de som, como no single "White Noise": os vocais infantilóides de Aluna Francis (do duo AlunaGeorge) aparecem mantidos à rédea curta pela base de ruído melódico criada pelos irmãos Lawrence. 

Settle tem dois lados bem distintos. Um, é ótimo. O outro, espetacular. São muitas ideias boas fluindo em 14 faixas (e a edição de luxo tem mais quatro extras), como a que transforma uma palestra motivacional do ex-jogador de futebol americano Eric Thomas em vocais para a house matadora "When A Fire Starts To Burn" ou a que chama a cantora pop Eliza Doolittle pra quebradeira do future garage na sensacional "You & Me". O Disclosure experimenta e se dá bem com a deep house em "Boiling", sustentando os vocais carregados de reverb de Sinead Harnett com uma linha de baixo emborrachada e sintetizadores ambient, explora com dedicação cada batida no espetáculo percussivo de "Tenderly", atualiza o soul para as pistas 2013 com a voz incrível de Sam Smith em "Latch" e transforma o hi-hat no elemento mais importante da bateria em "Defeated No More", "Voices" e "Help Me Lose My Mind" (essa com os vocais sentimentais de Hannah Reid, do London Grammar - outra banda que vale ficar de olho).  

Foi por pouco, mas felizmente - pra quem acha que um debut irretocável pode fazer a soberba ou a preguiça aparecer - esse não é um álbum perfeito. O que elimina a possibilidade do dez são apenas duas escorregadas: a fraca "Stimulation", com samples da cantora folk Lianne La Havas sendo jogados por cima de um instrumental abaixo do padrão do resto do álbum e a repetitiva e ligeiramente irritante "Grab Her!". No final das contas, o saldo é altamente positivo. Tanto que eu acho muito, muito difícil alguém aparecer este ano com algo tão divertido, esperto e dançante quanto a música que o Disclosure oferece em Settle. E espero que São James Brown não deixe esses garotos caírem na tentação que o mainstream (que se abriu como uma flor para a dupla) oferece.

"You & Me": quebradeira em favor do ritmo.


2 comentários:

  1. Melhor disco do ano, Carlinhos. Achei até melhor do que o do Daft Punk.

    Grande abraço e parabéns pelo blog.

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    Respostas
    1. Grau de dançabilidade muito mais alto que o Daft Punk, sem dúvida.

      Grato pela visita, Walter, volte sempre!

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