terça-feira, 4 de junho de 2013

A Sombra da Luxúria



Primeiro, a apresentação: em 2009, o sueco Hannes Norrvide juntou-se à alguns amigos que estavam formando uma banda punk, mas logo decidiu fazer música sozinho com seu sintetizador. Os primeiros experimentos do Lust For Youth eram extremamente barulhentos e direcionados para o gótico / darkwave. Depois de alguns compactos de sete polegadas e cassetes lançados, Norrvide chegou ao álbum de estreia em 2011, Solar Flare. Após o lançamento do disco e com uma série de shows previstos, Loke Rahbek foi chamado para os vocais. A dupla então muda-se da Suécia para a Dinamarca e chega ao segundo disco ano passado (Growing Seeds). Em 2013, mais um álbum: Perfect View sai em Julho.


É - até agora - um dos lançamentos mais instigantes e curiosos do ano, no campo da eletrônica. 
Pós-punk de tons enegrecidos que dispensa formalmente o uso da guitarra em favor de sintetizadores minimalistas, baterias eletrônicas toscas e vocais quase soterrados na mixagem, despejados como se fossem palavras de ordem. Isso quando há vocais. Das dez faixas de Perfect View (contando a bônus track da edição em CD), três são instrumentais - e esse é o primeiro ponto: essas canções são preenchidas com samples ininteligíveis de vozes enigmáticas falando sabe-se lá sobre o quê. Em "Barcelona", lembra um diálogo extraído de algum filme e em "Perfect View", são exclamações orgasmáticas mixadas com um discurso obscuro nos seus quase oito minutos de sintetizadores em círculos. "End" é quase uma vinheta, intermináveis noventa e oito segundos de aflição que acabam misteriosamente. "Image" também é curta na duração, com teclados exagerados e bumbo que faria Stephen Morris do New Order ficar coçando o queixo. A voz atormentada de Loke Rahbek surge nas canções como uma pregação às avessas, esbanjando melancolia. É o que se ouve no single "Breaking Silence", um synthpop de timbres limpos e flutuantes - bem diferente da opaca "Another Day". Uma virtude no som do Lust For Youth (ou defeito, depende do ponto de vista), que pode gerar encantamento e antipatia em doses iguais, é a estranha inclinação do duo em afundar boas melodias sob irritantes zumbidos e distorção ("Vibrant Brother", "I Found Love"), o que pode ser indício de uma provocação aos moldes do precursor Jesus & Mary Chain. Entre otimista e despedaçado, o disco encerra com o onipresente Ian Curtis acenando na curta letra declamada à força de "I Found Love In A Different Place".

Olha,
Perfect View soa estranhamente sedutor, econômico nos arranjos e honesto na intenção. É um tanto doloroso, mas tem momentos de beleza inquestionável. Vale a experiência.

"Breaking Silence": para não apreciar o silêncio.

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