domingo, 17 de maio de 2015

Electro Glide In Blue


O mix de blues com eletrônica já rendeu bons discos. Desde o espetacular The Dark Side Of The Moon (1973, Pink Floyd), passando por Violator (1990, Depeche Mode), até Play (1999, Moby) e Tourist (2000, St. Germain). Os métodos de produção vão mudando com o tempo. Pink Floyd e Depeche compunham o próprio material, fartamente influenciados pelo gênero; Moby fez do sampler seu instrumento de trabalho e Ludovic Navarre (St. Germain) combinou os dois. O modus operandi do francês Tristan Casara consiste em atualizar ou regravar clássicos e faixas obscuras, sem mexer muito na estrutura original, além de também compor.

O debut de seu projeto The Avener, The Wanderings of the Avener, saiu em Janeiro, depois do sucesso do single "Fade Out Lines", no final do ano passado. A faixa não passa de um remix ligeiramente houseificado para a ótima "The Fade Out Line" (2013), da cantora Phoebe Killdeer



"It Serves You Right to Suffer", clássico de John Lee Hooker de 1966, não foi muito além do esquema caixa, bumbo e efeitos discretos. O mesmo valendo pro pop onírico do Mazzy Star em "Fade Into You", provavelmente a faixa mais popular do duo americano. A impressionante "Celestial Blues" (1974), do pianista e barítono americano Andy Bey, ganhou uma boa levada dançante a despeito do constrangedor efeito de voz. É o crime mor do Avener no disco.



Vou fingir acreditar nas boas intenções de Tristan Casara com esse projeto, por isso é impossível não simpatizar com a linda "Castle In The Snow", com os vocais emotivos de Amina Cadelli, do enigmático grupo suíço Kadebostany.



Felizmente, para cada escorregada em Wanderings of the Avener, como "We Go Home", de Adam Cohen (filho de Leonard Cohen) - que parece trilha de comercial de companhia aérea - há bons momentos que compensam, como os violões folk e a ótima voz da norueguesa Ane Brun (em "To Let Myself Go") ou a surpreendente participação do recentemente redescoberto Sixto Rodriguez (em "Hate Street Dialogue"). Outra surpresa é a transformação de "Lonely Boy" (Black Keys), do enérgico garage rock original para uma comportada faixa dance.

  No geral, The Wanderings of the Avener é isso, mesmo: Casara dá um trato sutil em alguns artistas esquecidos ou ainda ignorados (o que é louvável) e também exibe sua perspectiva de música de pista para canções de nomes que vão do blues ao dream pop (John Lee Hooker, Black Keys, Mazzy Star). Ele acerta na maioria das 14 faixas e mostra bom gosto na escolha do repertório, presta o grande serviço de apresentar bastante coisa boa, desconhecida do grande público (eu, inclusive), mas espero um disco autoral pra considerar como estreia. Por enquanto, a ideia é excelente.

"Waiting Around to Die", na versão do grupo folk canadense The Be Good Tanyas...



...e como ficou depois da recauchutada do Avener:

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