Tive que dar uma fuçada no Youtube pra ver se lembrava de alguma coisa de Undercover, o bem avaliado álbum do produtor canadense radicado na Alemanha Marc Houle, de 2012, já que só tinha a imagem da capa forte na memória (um Abraham Lincoln de riso ameaçador e olhos diabólicos). Em vão. Ouvi algumas músicas, mas nada que estivesse minimamente registrado em algum canto esquecido do meu cérebro.
Seu recente lançamento, Sinister Mind (saiu em Março pela Items & Things, selo germânico que tem Houle como um dos fundadores), vai pelo mesmo caminho. O que não deixa de ser curioso, porque o minimal techno das nove faixas prima, obviamente, pela repetição de riffs, arpejos e loops, o que teoricamente deveria fazer com que a quase exaustiva duração do processo (as faixas tem, em média, seis minutos) deixasse gravada ao menos trechos da música contida aqui. Ouvi Sinister Mind várias vezes e o que ficou está mais associado à minha memória de curto prazo do que qualquer outra coisa, prontinho pra ser esquecido. Não me culpe. O responsável é o próprio Houle e a volatilidade de uma música que vai permanecer nos fones de ouvido dos fãs mais ardorosos do techno autor por algum tempo, é bem provável que seja executada em clubes underground e depois, periga sumir sem deixar vestígios - como aconteceu comigo e Undercover. Se reconheço, por exemplo, “Energy Flash” (Joey Beltram), "LFO" (LFO) e "Nude Photo" (Rythim Is Rythim) já nos primeiros acordes, porque o mesmo não acontece com qualquer coisa de Sinister Mind? Longe de mim querer insinuar que Houle não tem talento, mas se o objetivo de agrupar algumas canções e lançar isso em forma de um álbum não é que o conjunto mereça ser, no mínimo, conservado na lembrança, então o que justifica lançar discos? As tentativas são válidas, OK. O gancho arabesco de sintetizador da abertura "Don't Think of Me" e as oscilações da frase de teclado da irresistivelmente sacolejante "Loafers" são boas investidas, mas são oásis encontrados eventualmente num álbum em que a média é enfadonha: "Failure" justifica o título de uma canção soporífera, "Dark Tom" parece ter teclas apertadas aleatoriamente em meio a espancamentos metálicos de bateria e "Conbular" arrasta-se serpenteando efeitos que voam de um canal para o outro das caixas de som. Uma das poucas que destoam do geral é o encerramento "Paligama" - techno que erige uma ponte imaginária entre Detroit e Berlim, engrenada e hipnótica. O problema é que em quase um hora, pouco mais do que vocais/vocoders assustadores e timbres angustiantes de sintetizador chamam a atenção. Muito pouco.
Sobre Sinister Mind, Houle disse que depois de mais de dez anos fazendo música, sentiu que era um bom momento para parar e avaliar sua jornada musical e que não havia planejado uma trilogia, mas percebeu que tinha tanta coisa para dizer, que limitar a apenas um LP não iria contar a história toda. O primeiro álbum da suposta série, como o título indica, refletiu as tendências mais escuras do seu som, conforme ele mesmo disse. A representação sonora desse propósito deixou a desejar no primeiro volume, mas estou curioso para ouvir os próximos.
"Loafers": oásis.
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