Crystal Castles mantém um padrão invejável de qualidade com seu terceiro álbum, lançado mês passado. III traz a dupla canadense envolta num clima etéreo-opressivo em 12 faixas produzidas pelo tecladista Ethan Kath, gravadas em Varsóvia e mixadas em Londres.
A fria capital polonesa, com suas muitas catedrais em estilo gótico, deve ter inspirado o duo no saldo final das composições: a temática ao mesmo tempo sacra e profana da faixa de abertura "Plague" ("Virgin cells to penetrate / Too premature to permeate / They fake sincerity / Thy gifts don’t give to me / Now you’ve been annointed / They’ve been asking for it"), é um bom exemplo. "Wrath of God" continua: "Christen them / With paraffin / Sterilize samaritans / Contravene loyal ties". Saber em que contexto Alice Glass canta esses versos, quase soterrada por camadas de synths e ruído, é uma das incógnitas do álbum. Tentar descobrir com repetidas audições é que é o grande barato. Na terna "Affection", Glass sussurra "Without past I can't disappoint / My ancestry", enquanto Kath tira não sei de onde, um dos riffs de sintetizador mais bonitos do ano. A paleta sonora do Crystal Castles em III é diversa, mas a ousadia paga o preço da ojeriza que pode causar quando faixas como "Insulin" põe em dúvida até onde vai o limite do que cabe ou não dentro da música, em si. Ethan Kath explora habilmente esses limites no disco, com timbragens próximas de um mix de Ruído Branco com synths vintage, em que ele pode destruir melodias lindas como a de "Mercenary", o que pode soar tanto divino quanto estúpido. No ótimo electro-funk noise de "Kerosene" e na tranceira "Telepath", linhas de baixo atordoantes reforçam os arranjos, enquanto "Transgender", "Sad Eyes" e "Violent Youth" abrem caminho na pista de dança com timbres mais amigáveis e programações de bateria favoráveis aos quadris. A doce e enigmática "Child I Will Hurt You" encerra III, um dos discos do ano.
A sufocante "Kerosene": perturbadora, como quase tudo em III.
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