Não ouvi os álbuns anteriores do Future Islands. Aliás, até esse Singles cair no meu HD, nunca tinha sequer ouvido falar na banda da Carolina do Norte. O álbum - que está sendo lançado oficialmente na próxima terça-feira, dia 25 - já é o quarto da discografia do trio, que no começo deste ano, assinou com a 4AD. Não dá pra dizer que são estranhos no ninho da gravadora inglesa, já que o pop eletrônico urdido pelo grupo encontra pares como Twin Shadow e Grimes sob as asas do selo.
Pra você ver como o divisão A&R da 4AD não está de bobeira, como eu. Porque esse pessoal certamente ouviu os trabalhos anteriores do Future Islands e percebeu ali duas coisas fundamentais pra alguém que almeja sair do anonimato musical: talento e viabilidade comercial.
Singles - juro que não é exagero - vai ser provavelmente o melhor disco synthpop de 2014. Tem muitas qualidades pra isso. São dez faixas e menos de uma hora de duração que não enjoam de jeito nenhum, nem que você clique no repeat sem se importar - como eu estou fazendo há dois dias. Já ouvi perto de dez vezes e não consigo encontrar uma faixa pra falar mal. Não é uma coletânea, como o nome sugere, mas a assombrosa homogeneidade é tamanha, que está tudo nivelado por cima, sem arestas a aparar.
Com características, trejeitos e um timbre singular, Samuel Herring é um vocalista absolutamente original. Com o ritmo e o tom emotivo (que passa longe da pieguice) que imprime em todas as canções, Herring fica lado a lado dos inimitáveis Martin Fry e Mark Hollis, o que, num gênero em que soar como o barítono Dave Gahan parece ser o objetivo de quem tem o microfone nas mãos, não é pouca coisa.
Tente não ficar inebriado com o impressionante trabalho do cantor em "Like The Moon":
O primeiro single e faixa de abertura do álbum, "Seasons (Waiting On You)", traz consigo outro padrão estabelecido pelo Future Islands: as linhas de baixo com vida própria, livres do estigma New Order, perseguido à exaustão pela geração atual. No vídeo abaixo, a recente apresentação da banda no Late Show de David Letterman, na arrepiante performance de "Seasons":
Com a riqueza instrumental e os arranjos sempre dispostos a arriscar metais (mesmo que seja o trompete sintetizado de "Sun In The Morning" e "Doves") e cordas (na belíssima levada de violões casada com o baixo propulsor de "Light House"), o trio abusa da elegância e bom gosto nas composições, algo como um encontro imaginário entre Anne Dudley e Roxy Music.
Singles é a fusão do synthpop oitentista sem cheiro de naftalina com indie rock sem afetação, nunca dispensando formalmente o uso da guitarra ("Back In The Tall Grass", "A Dream Of You And Me"), nunca deixando a máquina assumir o controle (vide os sintetizadores habilmente contidos em "Spirit" e "A Song For Our Grandfathers").
Vão ser grandes, anota aí.
"Light House": cellos e sintetizadores entrelaçando-se.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Spam, get outta here!