sexta-feira, 31 de março de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Dr. Alban


Injustiça jogar Dr. Alban na vala comum do Eurodance. O dentista Alban Uzoma Nwapa tinha alguma coisa diferente, que o afastava de outros artistas como Captain Hollywood ou Haddaway. Algo a ver com o forte acento afro em sua música? Certamente. Sorte do nigeriano foi topar com um produtor que soube fundir magistralmente essas raízes com ritmos como house, hip-hop e reggae: o saudoso Denniz Pop, que faleceu em 1998 aos 35 anos, mas deixou um legado pop genial com hits do próprio Alban, além de Ace of Base, e - sim - Backstreet Boys, N'Sync, Robyn, 5ive e Leila K, entre outros. Além da música poderosa, um Alban engajado aparecia ocasionalmente em faixas que estouraram, como "No Coke" ("A cocaína vai te matar e o ecstasy vai esmagar a sua vida!"), "Roll Down Di Rubber Man" (sobre o perigo da AIDS) e o último single bacana do cantor, "Born In Africa" (1996), que versa sobre o orgulho que ele sente do continente, ao mesmo tempo em que vê o quanto esse potencial é desperdiçado. Outro hit do cantor, "One Love" (segundo single do segundo álbum de Alban, também chamado One Love, de 1992) é mais uma faixa memorável, um caldeirão que funde rap, reggae e pop com um suntuoso arranjo de cordas sintetizadas e um refrão reconhecível à distância. Alban - subestimado, mas não esquecido - segue na ativa, mesmo que não tenha conseguido encaixar mais nenhum sucesso desde o meio dos 90 (seu mais recente single, "Hurricane", de 2015, nem beliscou as paradas). 

"One Love":

quinta-feira, 30 de março de 2017

Novidades do Futuro


Se você perdeu o álbum mais recente do Future Islands (Singles, 2014), é uma boa hora de conhecê-lo, já que o trio de Baltimore está prestes a lançar seu quinto de inéditas The Far Field dia 07 de Abril e é uma excelente introdução ao som da banda. Antecedendo o novo disco, dois singles já deram uma amostra do que está por vir, "Ran" e "Cave". A boa notícia é que o grupo não mudou nada na sonoridade mezzo tecladeira synthpop mezzo baixões post-punk, com bateria orgânica e refrãos vigorosos entoados apaixonada e visceralmente pelo vocalista Samuel Herring. Mais oito faixas nesse nível e já tenho um sério candidato a disco do ano.

"Ran":



"Cave":

segunda-feira, 27 de março de 2017

Never Let Me Down Again


Seria só mais um cover horroroso do clássico do Depeche Mode, mas esse merece uma notinha, afinal ele vem embutido no primeiro trailer de Ghost in the Shell, sci-fi que estreia esse ano, dirigido pelo britânico Rupert Sanders (o filme é uma adaptação do mangá de mesmo nome escrito pelo japonês Masamune Shirow) e que tem a espetacular (em todos os sentidos) Scarlett Johansson no elenco. A "Enjoy the Silence" imaginada pelo autor do crime, o produtor americano Joel Burleson (que responde pelo nome artístico de Ki Theory), vem bem ao gosto da eletrônica popular de hoje em dia: pausas dramáticas, vocais maquiados por um filtro que provavelmente esconde um timbre ruim e uma masterização que sobe todos os elementos da música (bateria, efeitos, guitarras, etc...) até o limite do suportável pelo ouvido. Ou seja, Burleson pertence ao grupo de pessoas que acha que volume é garantia de sucesso. Vale o surrado clichê, no entanto: se isso servir pros interessados procurarem a versão original, já cumpriu seu papel.

A original:



E como ficou:

sexta-feira, 17 de março de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Plus Staples


Uma lição deixada pelo Art Of Noise: imagem não é nada. O Plus Staples foi um desses casos. Projeto italiano sem rosto do começo dos 90, música pela música. Som de pista feito por gente que entendia demais do assunto, como o DJ Mauro Picotto e o produtor Gianfranco Bortolotti (chefão da Media Records, maior gravadora italiana de dance music da época). Durou só quatro singles, mas o debut "We Got 2 Be" (que aqui no Brasil saiu na coletânea da casa noturna paulista Rainbow - de capa horrenda, diga-se) fez um estrago considerável em rádios e pistas mundo afora, entre 1992 e 1993. Os vocais foram chupados de "Take Me Away", hit underground de 1991 do True Faith (mais tarde usados também na pancadaria "Warrior's Dance", do Prodigy). A base instrumental é épica. Sintetizadores se dividem entre arpejos e um riff inspiradíssimo, enquanto explosões de bateria anunciam que uma nova ítalo house estava chegando: mais pesada, techno, melódica e irresistível.

"We Got 2 Be": épica.