sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Ivan


Eu sabia. Em algum lugar no meio dos anos 80 eu molequinho tinha que aguentar o gosto musical da minha irmã mais velha, adolescente. Leia-se uma idolatria que beirava o fanatismo por boy bands do naipe do porto-riquenho Menudo ou nosso genérico Dominó, recém montado pelo empresário, apresentador e picareta Antônio Augusto de Moraes Liberato, o Gugu. O debut do Dominó, autointitulado (assim como os próximos cinco álbuns do grupo, ó a criatividade) veio em 1985, com 10 faixas: todas eram versões em tupiniquês de hits estrangeiros. Importante lembrar que noções como criatividade e originalidade passam completamente em branco por garotas hipnotizadas pelo sex appeal de guris abusando de micoreografias constrangedoras. Microfones em punho e um cuidado especial na dublagem em programas de auditório, renderam à Dominó - o disco - seis singles, e para o grupo, boa exposição na mídia, dor de cabeça para muitos pais e choro descontrolado por parte das pré-púberes. Bom, nada disso importa, na verdade. Fato é que uma faixa desse vinil me chamava atenção, do alto dos meus dez anos de idade. "Parece Até Novela" era diferente. Igual, mas diferente, entende? A temática não fugia da mesma baboseira infanto-juvenil encontrada nas outras nove canções, mas o instrumental era estranho. Eu não conseguia entender bem que som era aquele. Onde estavam as guitarras? Porque o baixo não soava como um baixo? E aquele riff ordinário de acordeom, perdido no meio de tantos violinos? Eram sintetizadores, Carlinhos.



Foi, talvez, meu primeiro contato consciente com teclados e caixas de ritmo (era assim que as drum machines apareciam descritas nos encartes dos álbuns de grupos nacionais da época). Algum tempo depois, minhas suspeitas se confirmaram: aquela melodia e aquela base me pareciam legais demais pra sair da cabeça de um produtor mais preocupado com o número de pessoas a atingir do que com a música em si. A faixa original pertencia a um tal Ivan, nascido em Madri, nome verdadeiro Juan Carlos Ramos Vaquero. Antes de cair no limbo, Ivan estourou em 1984 com o single "Fotonovela": incríveis seis milhões de cópias vendidas, mesmo com letra em espanhol. Synths de inspiração ítalo-disco, roupagem technopop, romantismo de plástico e um mullet invejável fizeram Ivan aparecer em todos os lugares entre 84 e 85. Ganhou um bom troco e hoje mora em Miami. Parece até novela.

"Fotonovela": curti o baixo desse Korg aí.

2 comentários:

  1. EIKE VERGONHA...
    Eu era o fã de MEnudo e Dominó na minha família...
    Bem ou mal, desde Balão Mágico e Trem da Alegria tinham seus instrumentais baseados no mainstream new wave da época (mesmo que o produto final fosse chiclete).

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  2. Normal. Eu desconfio mesmo é de gente que diz que ouvia George Clinton com 7 anos e Kraftwerk com 8...

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