Domingo à tardinha fui dar um confere na Official Charts Company pra ver em quê os ingleses estavam gastando suas valorizadas libras. Surpresa: estão empregando direitinho os pounds. Paradas de mais vendidos hoje já não são parâmetro pra muita coisa, mas dá pra tirar algumas conclusões sobre como anda o gosto musical de quem ainda compra discos, por exemplo.
Caroline Esmeralda van der Leeuw nasceu em Amsterdam, tem 32 anos e o lance dela é dar uma tapa no jazz suingado das décadas de 30 e 40, combinando com beats sedutores, samples, instrumentos de verdade e uma senhora simpatia. Seu debut Deleted Scenes from the Cutting Room Floor (2010) já passa de um milhão de cópias vendidas, beliscou Alemanha (# 5) e Reino Unido (# 4) e ficou 77 semanas no Top 10 de seu país natal (Holanda), a maior parte delas em primeiro lugar. The Shocking Miss Emerald, o segundo disco, acabou de sair. Foi direto pro primeiro lugar na Inglaterra. O que tem de tão especial? Ora, Caro Emerald tira gêneros como o ragtime e o tango do formol e os funde com eletrônica e um irresistível apelo pop para atualizar seu jazz para as massas - nada muito diferente da tecla em que o austríaco Marcus Füreder vem batendo desde que começou a gravar como Parov Stelar, no começo deste século. Mas Caro é o rosto que o nu jazz merecia. Além de ótima cantora e compositora - o que elimina qualquer possibilidade de acusação do tipo "aproveitadora sem talento" - ela provou ser possível unir gêneros tão díspares, fazendo música boa e tornando isso vendável.
"Tangled Up": Carlos Gardel ficaria orgulhoso.
Segundo susto do domingo: Alison Moyet com álbum novo, estreando em quinto lugar na parada inglesa - melhor posição dela desde 1987. Eu tinha ouvido o disco pela primeira vez no dia anterior, e fiquei curioso sobre o desempenho comercial dele. Seis anos sem gravar, e Moyet vem com The Minutes (gravado entre 2011 e 2013), um disco pop, sólido, atual. Alison é soul puro, descende de uma nobre linhagem de cantoras como Dusty Springfield, mas em The Minutes ela soube modernizar seu som sem pasteurizá-lo e não há aqui qualquer resquício saudosista
de seu passado com o furacão Yazoo: Alison e o
produtor e compositor Guy Sigsworth (Seal, Björk, Madonna, Alanis Morissette e mais uma pá de gente legal no currículo) trabalharam com timbres, efeitos e texturas eletrônicas totalmente 2013, mas com o vocal emotivo de Moyet em primeiro plano. É uma adaptação difícil, mas The Minutes não soa gratuito nesse sentido e arrisca com andamentos incomuns ("Changeling"), rufos sintéticos entre redemoinhos de sintetizadores impressionantes ("Apple Kisses", "Rung By The Tide"), baladas sombrias ("A Place To Stay"), pop dançante (a linda abertura "Horizon Flame") e remixável ("Right As Rain"). Com tantos acertos e faixas no mesmo nível do ótimo primeiro single "When I Was Your Girl", dá até pra perdoar a bobinha "Love Reign Supreme". Que disco, amigos, que disco. Agora, legal mesmo seria ver Alison Moyet sendo (re)descoberta pela geração que tem em Adele uma diva soul sem par no pop atual.
"When I Was Your Girl": Alison e sua filha Caitlin.
"When I Was Your Girl": Alison e sua filha Caitlin.
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