terça-feira, 21 de maio de 2013

A Encruzilhada


É um dilema que deve acompanhar Andy McCluskey (baixo, vocais) e Paul Humphreys (teclados, vocais) desde o fim dos anos 80, sempre que a dupla senta pra conversar sobre um novo álbum do Orchestral Manoeuvres In The Dark: o que fazer? Chutar o balde, radicalizar, tentar algo fora dos padrões ou jogar pelo regulamento que consagrou o technopop do grupo inglês?  


Em seu décimo segundo álbum de material original, o OMD optou pelas duas vias. Claro que English Electric nem chega perto do harakiri comercial praticado em 1983, quando a banda descobriu o sampler e o levou às últimas consequências no espetacular Dazzle Ships - uma incompreendida colagem de ruído industrial, transmissões radiofônicas, sintetizadores e vocoders, que causou rejeição categórica da crítica e afastou boa parte dos admiradores do bem sucedido disco anterior, Architecture & Morality. Mas este mesmo Dazzle Ships respinga em English Electric em algo além da arte da capa de ambos ter a autoria do gênio Peter Saville: nas vozes sintetizadas e sobrepostas e nos bips eletrônicos de "Please Remain Seated", "Decimal" e "Atomic Ranch", fica bem claro - embora McCluskey afirme que a referência para a estrutura vocal dessas faixas não esteja no próprio OMD, e sim na ópera Einstein on the Beach, de Philip Glass (de 1975). Se o Kraftwerk era assumidamente homenageado pelo OMD em Dazzle Ships (os vocais da faixa "Genetic Engineering" são uma óbvia alusão à "Computer World", dos alemães), em English Electric é "Metroland" que reproduz o arpejo hipnótico de "Europe Endless" e depois repete a dose mais lentamente em "Kissing The Machine" (a robôzinho apaixonada da faixa é Claudia Brücken, vocalista do Propaganda). O outro caminho percorrido pelo OMD leva à canções pop eletrônicas com bons ganchos de sintetizador, onde o afetuoso coração das máquinas bate devagar ("Night Café" e "Stay With Me"), ou acelera com a linha de baixo galopante de "Dresden". O OMD ainda mostra que sabe exatamente em que ano está (aqueles synths derretidos de "The Future Will Be Silent") e encerra o álbum com uma bossa futurista ("Final Song", com sample dos vocais de "Lonely House", da cantora de jazz Abbey Lincoln).

É preguiça mental ficar comparando este trabalho à obras anteriores do próprio OMD, ou à artistas como o Kraftwerk? De certa forma, é. Primeiro, porque McCluskey e Humphreys estão realmente se apoiando em coisas que já fizeram no passado, mas as idéias, hoje, são completamente diferentes. Então não dá pra acusar a banda de cópia ou autoplágio simplesmente por executar sua música da mesma forma que há 30 anos atrás. Ou, como disse Ralf Hütter quando perguntado se ele se sentia confortável pelo mainstream ter adotado seus métodos: "Como poderíamos mudar agora? Gastamos vinte anos neste tipo de trabalho. Não podemos dizer amanhã que o negócio é voltar a usar violões." Sabe tudo.

"Dresden": synthetic pop song.

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