quinta-feira, 31 de março de 2011

O Touro e Ele


Não. Não é uma dupla. Toro Y Moi é o simpático rapaz acima, com pinta de ponta-esquerda do Botafogo de 1973. Sei lá que raios esse pseudônimo significa, mas certamente é bem melhor que Chazwick Bundick, nome verdadeiro deste americano descendente de filipinos. Também não sei responder porque alguém decidiu encaixar a música dele no gênero chillwave - se é que isso pode ser considerado gênero, já que o rótulo simplesmente agrupa outro tanto de estilos tão díspares quanto synthpop, shoegaze e R&B.


Bom, isso também não tem importância porque aparentemente Chazwick tenta se livrar de categorizações em seu segundo álbum, Underneath The Pine. Numa avaliação bem preguiçosa, dá pra dizer que tem um vernizão setentista cobrindo todas as 11 faixas - dos poucos sacolejos encontráveis aqui (a ótima "New Beat" entre elas) até trips enfumaçadas e bem produzidas ("Elise"). E - senta que lá vem clichê - o cara equilibra muito bem eletrônica com sons, hmmm, "orgânicos" (tipo aquele baixo viciante de "Still Sound") e ainda tem uma mão boa pra melodia ("Before I'm Done", mesmo com seu vocal sonolento). Talvez Underneath The Pine não te pegue de primeira, mas esse é um daqueles casos em que a segunda chance é quase obrigatória.

"New Beat": gancho de sintetizador bem sacado.



segunda-feira, 28 de março de 2011

Ursinho Camarada



Derwin Panda é um produtor inglês de eletrônica (nome artístico: Gold Panda). Seu som é uma interessante mistura de ambient, techno e glitch - e se dá pra acreditar que existe hoje em dia um gênero chamado laptop music, pode acrescentar essa tag que mais um rótulo não vai fazer diferença nenhuma. E é bem provável mesmo que esse cara maluco pela cultura japonesa passe horas trancado no quarto com seu chapéu de Ursinho Pimpão e a cara enfiada no seu MacBook Pro experimentando beats empoeirados, samples distorcidos ao limite do irreconhecível e colagens de amostras de som picotadas, tal elefantes (ou melhor, pandas) sendo empurrados pra dentro do Fusca.   


O Fusca em questão é o álbum Companion (saiu dia 22 de Março, capa acima), na verdade uma compilação de seus EPs lançados antes do disco de estréia do artista (o elogiado Lucky Shiner, do ano passado). Perca-se especialmente no violino (ou seja lá o que for que soa como um violino nessa música) de "Back Home", nos kotôs (espécie de harpa japonesa de 13 cordas) e flautas bicho-grilo de "Lonely Owl" e na melodia fatiada de "Triangle Cloud", três belas demonstrações de que Derwin tem a manha com o mouse em punho.

"Back Home": se eu fosse Richard D. James, começaria a ficar preocupado. 



quinta-feira, 24 de março de 2011

Grande Prêmio


Le Prix é sueco e lança suas músicas pela americana Girlfriend Records, selo digital independente focado em synthpop amplamente inspirado nos 80 ("que novidade", pensou você). Entendo que esse negócio parece estar em todo lugar atualmente, mas perca mais dois minutos que isso aqui pode ser legal. O EP Eyelash OK saiu agorinha, dia 11 de Março.  

 

A música é toda instrumental, com uma linha de baixo daquelas que parecem ter sido programadas usando os dois dedos indicadores e várias amostras de sintetizadores dançados numa batida disco. E ainda tem um remix muito interessante do Gossip Culture, que engordou o baixo e dedilhou umas guitarras por cima do original.
Prêmio "Revival Italo-Disco da Semana" pro Le Prix.

PS.: a Girlfriend Records disponibilizou o EP pra download gratuito.  

  

terça-feira, 22 de março de 2011

Crônica da Decepção Anunciada


Honestamente, alguém esperava um disco bom do Human League? Eu também não. Então não me surpreendi com esse que é o nono álbum de material inédito da Liga de Sheffield. Aliás, a trupe de Philip Oakey virou uma banda de singles depois de Dare, o clássico de 1981. Esse sim vai ter lugar garantido em qualquer retrospectiva relevante dos 80, mas o que veio depois é digno de torção nasal coletiva. Que eu lembre, a última música bacana do Human League já tem mais de 20 anos ("Heart Like A Wheel", 1990). É pra ser comemorado o fato do grupo ainda estar na ativa pra matar a saudade dos fãs no palco, mas o material novo é, infelizmente, irrelevante. Oakey não perde o cacoete de cantar como se fosse um sindicalista berrando palavras de ordem, e isso é uma das coisas mais irritantes de Credo (tente ouvir "Privilege" inteira e comprove). A única faixa que ameça funcionar é "Never Let Me Go" (o segundo single) que musicalmente não é nada muito diferente do que a Ke$ha anda fazendo. "Night People", lançada em Novembro do ano passado, já era o prenúncio de que nós - fãs ardorosos de "Don't You Want Me" e "Love Action" - não deveríamos nos animar muito. Dito e feito.

"Never Let Me Go": longe das paradas.




segunda-feira, 21 de março de 2011

De Dentro Pra Fora


Carl Finlow nasceu em Liverpool e atualmente vive na França. Tem uma cacetada de projetos, lança singles e EPs desde 1995 e já remixou um monte de gente bacana (Fatboy Slim, Jamiroquai, Felix Da Housecat, Josh Wink e Luke Slater, pra citar alguns).  


Sua faceta deep house é essa aí, o Random Factor. O som é classudo, macio, aconchegante: bom de escutar tanto na sala quanto na pista de dança. O álbum Convergence é de 2004, mas felizmente não tem data de validade impressa na capa.


A faixa-título - aqui em sua versão original - curiosamente destoa do resto do disco. Ritmo cadenciado por timbres de TR-808, vocais monocórdicos repetindo um mantra de quatro frases, sintetizadores congelados. Não parece muito excitante, hm? A mim, viciou.

"Convergence": a hipnose ao alcance de seus ouvidos.



domingo, 20 de março de 2011

Ice Cubes


Ótima notícia: o Gus Gus está de volta. Uma das mais intrigantes e geniais bandas vindas da Islândia (país nórdico de pouco mais de 300 mil habitantes, que já deu ao mundo Sigur Rós e Sugarcubes), o coletivo foi inicialmente formado por um grupo de cineastas, DJs e produtores - o que refletiu na diversidade sonora apresentada no impressionante Polydistortion de 1997 - e agora está reduzido ao trio Stephan Stephensen, Birgir Þórarinsson e Daniel Ágúst Haraldsson. O novo álbum chama-se Arabian Horse, é o segundo lançamento da banda pela gravadora alemã Kompakt e está agendado para 9 de Maio. O som do Gus Gus mudou bastante: do trip-hop soturno e de batidas altamente criativas de Polydistortion até o bumbo reto de seu mais recente álbum (24/7, de 2009). A tendência é que Arabian Horse siga pela via house/techno, e tomara que o trio remanescente continue não abrindo mão das palavras "originalidade" e "inventividade", facilmente encontráveis nos seus 7 discos anteriores.

Dark, funky, distorcida: "Believe"




quinta-feira, 17 de março de 2011

Gregos, Troianos & Xiitas


Versatilidade. Taí um bom adjetivo pra classificar os incansáveis Neil Tennant e Chris Lowe. Pois o Pet Shop Boys, em parceria com o coreógrafo venezuelano Javier de Frutos, estréia essa semana um balé em três atos baseado num conto do dinamarquês Hans Christian Andersen. "The Most Incredible Thing" será apresentado no palco de um dos mais importantes locais dedicados à dança do mundo (o Sadler's Wells Theatre, em Londres). E a dupla acaba de disponibilizar a música composta para o espetáculo em forma de CD duplo e numa luxuosa e limitadíssima edição em vinil de apenas 500 cópias, autografada pelos próprios. Interessou? 350 libras, mais impostos. O som aqui mistura orquestrações e eletrônica - que não é nenhuma novidade na discografia do Pet Shop Boys. Apesar de render momentos bem interessantes, acho que a coisa vai fazer sentido mesmo (para os que não puderem assistir ao espetáculo) quando for possível aliar essa trilha com a imagem - o que pode acontecer em forma de DVD daqui a algum tempo. Por enquanto, o álbum é mais indicado aos fãs xiitas. 

Uma geral em "The Most Incredible Thing":




domingo, 13 de março de 2011

Placidez Sintética


Jimmy Tamborello alcançou alguma popularidade com o Postal Service (disco de ouro nos EUA e Canadá com o álbum Give Up de 2003), uma parceria com Ben Gibbard do Death Cab For Cutie. O músico assumiu seu alter ego Dntel e conforme ele explica no site dublab.com, resolveu por conta própria dar um upgrade em parte da carreira da irlandesa Enya. São nove remixes que privilegiam faixas menos conhecidas da cantora (à exceção de "Caribbean Blue" e "Boadicea" - esta fonte do sample principal de "Ready Or Not" do Fugees). Tamborello limitou-se a picotar alguns vocais, estender synths e jogar batidas bem discretinhas no new age hora emocionante hora soporífero de Enya, com resultados que não ultrapassam a temperatura do corpo. E como ele ainda não conseguiu um meio de lançar isso legalmente, está lá no dublab pra download gratuito - se você quiser se aventurar por esta floresta sonora repleta de seres imaginários e paisagens prá lá de onde o vento faz a curva.

"Afer Ventus": boa trilha pro RPG.




Love Sensation


O DJ e produtor inglês Dean Meredith é metade do Bizarre Inc - projeto responsável por hits como "I'm Gonna Get You" e "Took My Love", que decolaram das pistas e voaram alto nos paradões inglês e americano no começo dos 90. O prolífico Meredith nunca parou de produzir e sua investida mais recente se concentra na disco espacial do Rhythm Odyssey. O debut Metaphysical Transition acaba de sair com dez faixas que transitam entre flertes com Giorgio Moroder e pós-disco circa 1982 ("Right On Up [For Love]"). O melhor momento do disco, no entanto, está nos pianos ensandecidos e na esperta programação percussiva de "Move Groove". Saudade da ítalo-house da trinca Limoni/Davoli/Semplici? Pois é. Eu também.

"Move Groove": só faltou um sample da Loleatta Holloway.


quinta-feira, 10 de março de 2011

De Olhos Bem Abertos


Falar que o Beady Eye só vampiriza Beatles e The Who e chamar Different Gear, Still Speeding de datado é tão chato quanto reclamar do imperialismo yankee ou falar mal da Globo. É sempre essa conversinha, sempre esse papo de gente que adora atirar contra alvos fáceis, mesmo com argumentos pífios. E no caso dos Gallagher, essa pecha já vem desde Definitely Maybe - a estréia do Oasis, em 1994. O fato é que a banda nova de Liam Gallagher dá uma xerocada assumidamente retrô nos 60 e crava um bom disco de rock, nada muito diferente de sua ex-banda. E é isso que importa. Não suporta o ego inflado e a arrogância em doses paquidérmicas do Liam? Bom, então concentre-se nos vocais sempre satisfatórios do rapaz e em como a banda está redondinha. Musicalmente, dá pra pescar bons momentos aqui. O resto é conversa fiada de indie "tendência".

"For Anyone": mais pra Monkees do que Beatles.

domingo, 6 de março de 2011

Amnésia Funk


Ouvir o recém-lançado “The Reveal” do DJ/produtor Ilija Rudman provoca um estranha sensação de amnésia: é ouvir uma música, esquecer completamente a outra e chegar no fim do disco sem que nada fique na memória. Qual o problema? Resposta provável: o croata Rudman esmerilha com maestria ferramentas de boa cepa (baterias eletrônicas e sintetizadores do tempo em que o gabinete ainda era de madeira), mas não cria ganchos memoráveis para um disco de dez faixas sem vocais. Mesmo assim, é um álbum bacana de ouvir porque emula um período onde Mantronix e Exposé conviviam em paz na pista de dança.



"Inspectors Drive": teria sido um bom tema de abertura de "Magnum".



quinta-feira, 3 de março de 2011

Em Fase de Transição


Rupert Parkes deu uma apavorada em 1997 com seu álbum Modus Operandi: drum'n'bass de texturas sombrias, baixos absurdos e batidas abstratas - uma espécie de jazz futurista, desconstruído e quebradaço. Três álbuns sem acontecer muita coisa depois, ele volta como Photek, o mais conhecido de seus projetos/pseudônimos num EP chamado Avalanche, lançado agora no final de Fevereiro. Mas esqueça o jungle marcial de suas primeiras gravações; aqui Parkes mergulha no dubstep e no deep house que provavelmente não vão fazer com que alguém lembre que isso é aquele Photek da década passada.

Versão de "Avalanche" ripada de rádio: Photek abraça o dubstep.