terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Chefão na Pista














Thomas Koch - ou DJ T. - é (junto com Booka Shade e M.A.N.D.Y.) um dos fundadores da Get Physical Music, selo alemão cheio de nomes interessantes no cast e prestes a completar dez anos de bons serviços prestados à dance music. Pela Physical saiu esse doze polegadas aí acima com remixes de "City Life", faixa extraída do álbum mais recente de Koch, The Pleasure Principle. Esqueça as versões quase-dub da britânica Maya Jane Coles e do próprio DJ T. Deixe pra lá até mesmo a original: nada supera o que o cubano-americano Eric Estornel (também conhecido como Maceo Plex) fez com a faixa. Do slap sutil de baixo à levada latina, tudo encaixou como uma luva numa das faixas mais compulsivamente sacolejantes do ano. Sensacional!

Original:



Maceo Plex Remix:



domingo, 25 de dezembro de 2011

New Old Boys


Teoria: mais difícil do que criar um som novo é reproduzir com perfeição algo que já foi sucesso um tempo atrás. Concorda? Os canadenses do Junior Boys vem tentando há quatro álbuns transportar aquela sonoridade do synthpop britânico da primeira metade dos 80 para os dias do dubstep. Ou não, vai saber qual é a intenção de Jeremy Greenspan e Matt Didemus quando usam esses sintetizadores limpinhos nas canções de seu disco mais recente, It's All True.


Cada vez que ouço Junior Boys minha sensação de que a dupla é uma versão do Hot Chip do lado de cá do Atlântico é reforçada: vocais tímidos, timbres aconchegantes, quase dançável, quase indietrônica. Não é ruim, longe disso. Mas também não é muito excitante. Você, fã ardoroso de electropop, vai certamente procurar o botão do repeat em "You'll Improve Me", uma maravilha de quase seis minutos que parece ter tido a disciplina paciente de ser construída com uma tecla sendo apertada de cada vez ao invés de cliques nervosos nos synths virtuais, de tão eficiente e milimétrica que é. O problema é que esse mesmo tesão que surge ao ouvir uma canção dessas se esvai quando coisas como a indecisa "The Reservoir" aparecem. E lá vem quatro minutos arrastados por blips e vocais em falsete cansativos. E assim It's All True vai, um tiquinho mais sexy aqui ("Kick The Can"), um tanto mais soporífero ali ("Playtime"), o que resulta num trabalho inevitavelmente irregular. Ouvir esse álbum é como zapear a TV sábado a noite: satisfação e desapontamento andam lado a lado o tempo todo.

It's All True: duas metades desiguais.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Electroplasma

Martyn com a mão na massa.
O holandês Martijn Deykers começou a discotecar em 1996 tocando drum'n'bass. Com o tempo passou a ser conhecido como Martyn e em 2005 já estava lançando singles misturando jungle, techno e dubstep. Em 2011, cometeu um dos top dance albums do ano. Seu Ghost People merece ser ouvido não só pelos frequentadores de clubes, mas também pelos amantes de eletrônica em geral - porque é variado e cheio de boas idéias o bastante para isso.


O álbum começa com as boas-vindas dadas pelo simpático robozinho de "Love And Machines" e já cai no sample extraído de "Headhunter" do Front 242 em "Viper", bom aquecimento para o baixo subterrâneo de "Masks" que vem a seguir. "Distortions" e "Popgun" são duas amostras da diversidade encontrável no disco, com tons deep house na primeira e dubstep na segunda, ambas com ênfase na percussão. A faixa-título e "Twice As" são irmãs gêmeas tech-house, com samples aleatórios de vocais e timbres de sintetizadores parecidos nos riffs. Ainda sobra espaço para Martyn testar os limites de elasticidade dos alto-falantes com as baixas frequências do interlúdio "I Saw You At Tule Lake", experimentar sabores diferentes dos synths nos arpejos de "Bauplan" e apontar as baterias para todas as direções em "Horror Vacui". "We Are You In The Future" encerra brilhantemente o álbum, com quase nove minutos da fusão techno/drum'n'bass sustentada por batidas criativas e teclados atmosféricos. Não deixe de ouvir.

"Viper": aprenda a dançar sem caixa e sem bumbo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cereal Killer

Sonny John Moore, o Skrillex.
Não sei quem criou, mas o apelido Sucrilhex é maldosamente bem bolado. Junta o matinal Sucrilhos Kellogg's com a alcunha do produtor de Los Angeles e entrega a pouca idade (23 anos) deste que é provavelmente o artista mais odiado do dubstep. Mesmo que ele rejeite o rótulo dubstep. 2011 foi bem corrido pra ele. Fez muitos shows, lançou disco, foi um dos nomes a produzir o álbum mais recente do Korn e ainda foi indicado pela BBC como um dos artistas a se prestar atenção no ano que vem, na já famosa BBC Sound Of - edição 2012.


Skrillex lançou esse EP aí no meio do ano, More Monsters and Sprites. A faixa de abertura, "First Of The Year (Equinox)" me deixou confuso. O som potente de bateria chama atenção, a música começa como um reggae de vocais filtrados e picotados. Antes de chegar à um minuto, entra um pianinho doce, calmaria... e o que vem a seguir é Skrillex despejando uma Itaipú de efeitos, distorções e repetições. Sinceramente, gostei da faixa. Skrillex faz umas bruxarias interessantes com o seu aparato de softwares. O EP tem ainda as cordas bacanas de "Ruffneck" (em duas versões) e quatro remixes para "Scary Monsters And Nice Sprites". Se ele é poser, nerd, geek ou qualquer outro desses termos pejorativos, realmente não me interessa. Mas que é um nome pra ficar de olho, é.

"First Of The Year (Equinox)": manifesto contra a pedofilia?



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Post-Dubstep? Já?


 Sinal dos tempos: moleque escocês fica brincando de criar uns sons no laptop, pesca meia dúzia de referências, adota algo que está pegando forte atualmente (inquestionavelmente, o dubstep), lança esse material num debut em disco (Glass Swords) que o incensado Pitchfork joga lá pra estratosfera e pronto: é a bola da vez. Agora, você que manja muito mais de música pop do que eu, me diz: em que uma faixa do Rustie como "All Nite" - cheia de rufos de bateria, vocais robótico/assexuados e distorções - difere de um trabalho tido como farofento e acéfalo como o do Skrillex? Incrível mesmo é que já estão chamando isso de pós-dubstep. E pra piorar as coisas, Glass Swords saiu pela Warp Records - uma gravadora que deve estar fazendo alguma coisa certa pra estar no mercado desde 1989. O que mostra o quanto eu devo estar errado na minha avaliação sobre o trabalho do Rustie. Azar o meu então, não achei nada de especial nesse disco.
 

"Hover Traps": slaps de contra-baixo mais falsos que nota de 25 reais.

To Be Or Not Bee Gee

Ó que sexy os irmãos Gibb nos 70.

Os Bee Gees tem boa parcela de responsabilidade pela popularização absurda da disco na segunda metade dos anos 70 - você sabe: John Travolta, Saturday Night Fever, hits planetários, etc... Por tabela, o trio também ajudou bastante para que o gênero ganhasse aquela superexposição toda e começasse seu declínio na virada pros 80. Verdade é que a disco deixou marcas indeléveis no pop e volta e meia ela volta à pauta com alguma coisa interessante.


Prova disso é esse 12" que surgiu uns dias atrás, The BG's Multi Remixes. O vinil traz versões não autorizadas para três clássicos dos Bee Gees, num trabalho primoroso. Não me pergunte quem é esse pessoal que se atreveu a meter a mão nessa imaculada obra disco, mas o resultado é fantástico. Aqui os aventureiros não mexeram nos arranjos, não mudaram as batidas, não acrescentaram timbres sintético-alienígenas. Nada disso. O foco foi manter a pegada disco simplesmente editando uma versão extended de "Night Fever" (que ganhou oito minutos de cordas passeando pelo chimbau sibilante inesquecível da faixa), ou exaltar o riff clássico de guitarra de "Stayin' Alive" limando grande parte dos vocais que praticamente criaram uma versão dub para o tema ou ainda ensinando passo a passo como construir uma dance track com cada elemento adicionado como tijolo na parede (em "You Should Be Dancing"): piano elétrico e bateria, depois guitarra, baixo, percussão, metais, vocais... O mais legal é a semente da dúvida que esse bootleg plantou na minha cabeça: como é que os caras conseguiram fazer essas versões sem as fitas master multipistas com todos os sons gravados separadamente? Se você tem o dom, me responda.

The BG's Multi Remixes: clássicos revisitados, ligeiramente modificados e estendidos.

The BG's Multi Remixes [HOTGOLD VII] by Hands Of Time


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

(EP)pur Si Muove

Será que os Extended Plays vão virar a plataforma preferida pra agrupar faixas daqui pra frente? Esse ano foi uma balaiada deles, especialmente entre artistas de dance/eletrônica. Aliás, qual a importância da mídia física atualmente? Com rumores de que o fim do CD está programado pra 2012, nem sei se o formato ainda faz alguma diferença hoje em dia. Certamente o indestrutível vinil vai resistir, mesmo com vendas não muito expressivas para o mercado fonográfico. Acho que a divisão entre single, EP e álbum é uma questão meramente técnica, serve só pra juntar músicas num mesmo trabalho sob um título comum, porque do ponto de vista mercadológico, tanto faz - já que dá pra comprar as canções soltas nos sites especializados. De qualquer maneira, os EPs continuam pipocando por aí. Três deles que me chamaram atenção recentemente:

Kris Menace > E-Love EP
 
Progressive house ou space disco? Na verdade um pouco de cada nas quatro faixas do EP do alemão Christophe Hoeffel. Sem vocais e com camadas e mais camadas de sintetizadores valorizando os arpejos (especialmente na faixa-título), Menace ruma para o alto e avante em "Mockingbird" e salpica um baixo de inspiração disco em "1995". Além de remixes escolhidos a dedo, Kris Menace mostra que o seu trabalho autoral está longe de ser descartável.

"E-Love": pra orgulhar Giorgio Moroder.



Tim Deluxe > Transformation EP

Nome prestigiado na cena dance inglesa, Tim Liken aparece no final do ano com um monstro house com 12 minutos de pianos ensandecidos ("Transformation"), uma quebradeira techno com destino incerto ("Lucid Dreams") e um garage ("Horizon") sensacional impulsionado por um riff de sax incisivo e uma base toda montada com percussão e timbres de órgão iguaizinhos aos imortalizados por Robin S. no clássico "Show Me Love" de 1993

"Horizon (New Day)": vai ser hit de pista, fácil.



Marco Bailey > Oriental Concept EP

Ele é posudo e meio metido a besta, mas o belga Marco Beelen até que elabora um mix entre techno e house bem decente e suingado. Seu Oriental Concept EP traz a ótima "Lotus": a original cheia de blips tipo Booka Shade e o remix dando aquele gás no bumbo pelo alemão Alexander Kowalski. Vale um confere ainda no bassline sofisticado e no riff de teclado viciante de "K4West" e na hipnótica "Oriental Disco".   


"Lotus":  eficiência em BPMs de techno.




terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Match Point


Esse casal com pinta de atores de seriado americano do final dos anos 70 aí acima é o Tennis, banda de Denver, Colorado. Alaina Moore e Patrick Riley já tem um álbum lançado (Cape Dory, do ano passado) e outro programado pra Fevereiro do ano que vem (Young & Old). "Origins" é o primeiro single desse novo disco. Tanto a faixa-título quanto o lado B ("Deep In The Woods") trazem boas melodias, instrumental quase inofensivo e combinam bem com o vocal delicado de Alaina Moore. É um indie-pop bem simpático, mas pode usar o adjetivo "fofinho" sem constrangimento. 

"Origins": surf-pop de inverno.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Arrocha, Ordinária!



Um amigo me mandou um link do Soundcloud pra eu escutar o que um tal de DJ Cremoso (vai vendo) fez com músicas de Adele, Dire Straits, Franz Ferdinand, Strokes, Nirvana e outras vítimas. Algumas risadas depois de ouvir os remixes tecnobrega, fiquei pensando que isso tem potencial pra estourar, fácil. Não que seja bom. É uma tosqueira feita com tecnologia barata. Mas tem potencial pop, fazer o que? Michel Teló também é um lixo, mas soube aproveitar o momento e tá lá: cravou alguns dos sucessos do ano aqui no país. Triste, hm? Nada. Ruim mesmo é o que desconfio que está por vir. Quer apostar que em 2012 vamos ter bandas de tecnobrega vindas de lugares como Porto Alegre e Belo Horizonte? Alardeado pelas cabeças pensantes (ai ai ai...) do jornalismo musical brasileiro como um fenômeno que pode tomar proporções de hit de dimensões tupiniquins, o gênero ameaça explodir além dos limites do seu estado progenitor, o Pará. Aí a Banda Uó que é de Goiás ganha VMB na categoria Webclipe em 2011 e eu já começo a ficar preocupado. Se bem que prêmio da MTV hoje em dia não quer dizer muita coisa, enfim. Imagino que gente como Humberto Gessinger deve abrir um sorriso discreto de satisfação quando olha pra trás e lembra de quão perseguido foi pela crítica especializada anos atrás. Hoje os jornalistas nem tem mais quem perseguir. Dá uma olhada na cena (?) rock no Brasil hoje pra ver se esse panorama tem alguma chance de mudar. De um lado, os indies-MPB que fazem música pro umbigo; do outro, o happy roque bunda-mole pré-adolescente. Sou capaz de apostar também, que nada do que escrevi aqui é absolutamente novidade pra você. Tecnobrega, the next big thing. 

"Rolling In The Deep": status cult nas pistas paraenses.

Rolling In The Deep (Dj Cremoso Remix) by Dj Cremoso

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Play It Again, Roman


 Roman Böer é um prolífico remixador. Basta dar uma olhada na quantidade de trabalhos para outros artistas que está listada no site oficial dedicado ao seu nome de guerra, DJ Tocadisco. Não me dei o trabalho de contar, mas fiquei curioso com o subtítulo de um dos remixes: "Die For You (Tocadisco's Garota do Parana Remix)". Provavelmente soma "I Die For You Today" (single do ano passado do Alphaville) com uma homenagem à sua esposa brasileira, Natasha Garcez. Achou isso cafona? Espere pra ver o nome das faixas do último álbum do cara, FR3E. Ele teve a manha de colocar em cada título esse "3" simbolizando um "E", algo que talvez os numerólogos expliquem mas eu não sou esperto o suficiente pra entender. Dá uma ligada na tracklist:





1) R3LAX
2) FRE3DOM
3) EM3RALD
4) BAT3RIA
5) RATT3NFДNGER
6) EXPERI3NCE
7) ALT3R
8) L3GAL
9) TIM3







Aí fica assim, em caixa alta. Tsc, tsc. E a música? Bom, Tocadisco é pop pra pista. House vulgar. Ele não arrisca nada. Tem uns violinos bonitos em "FRE3DOM", umas flautas medievais em "RATT3NFДNGER" e um clima meio sacro em "EXPERI3NCE", mas ao ouvir a risível tentativa de batucada digital ("BAT3RIA") desse DJ que definitivamente não tem sangue percussivo nas veias, dá pra sacar o naipe da picaretagem das faixas de FR3E. Afaste-se.

"EM3RALD": uma das nove faixas sem imaginação de FR3E.