domingo, 11 de junho de 2017

Garbage House



Não tenha dúvida que os DJs e produtores suecos Axwell e Sebastian Ingrosso conhecem música. Se o que eles fizeram em suas carreiras solo ou com o infame Swedish House Mafia (junto com Steve Angello) tem mais a ver com dance ordinária ou com uma linha de produção de música de pista, você decide. Eu não gosto. 


Nem sabia que Axwell e Ingrosso continuaram gravando como dupla, depois do fim da máfia sueca da house, em 2013. Descobri essa semana, quando o EP More Than You Know caiu na minha timeline no Facebook. Isso me fez pensar que: 1) preciso dar uma filtrada no feed e 2) qualquer informação é válida, assim posso falar mal sem o remorso do "não ouvi mas não gosto".

Bom, "More Than You Know", a faixa título, engana bem. Durante seis segundos. É o tempo da introdução com uma guitarra escovada que parece preceder uma faixa funky e grooveada. Mentira. O refrão entra rachando, mesmo antes de qualquer estrofe. É o método Dr. Luke de composição de hits: não pode se perder muito tempo até chegar ao refrão. Nenhum tempo. Cinco segundos e olhe lá. Não tive paciência pra contar quantas vezes o refrão é repetido pelo insípido e desconhecido cantor (hahaha) Kristoffer Fogelmark, até porque esse é um dado irrelevante. "More Than You Know" é mais desse lixo EDM que você ouve por aí (casualmente ou não), de produção estrondosa pra funcionar bem nos fones de ouvido ou nos PAs bombados das pistas mais top (argh). Com "Renegade", parece que a coisa vai engrenar num acento de house francesa, de baixo elástico e vocais da dupla Salem Al Fakir e Vincent Pontare (?) maquiados por um filtro para, provavelmente, corrigir alguma deficiência. "How Do You Feel Right Now" e "Dawn" são o suprassumo da dance music eletrônica mais rasteira possível. A primeira com drops calculados, pausas que se limitam a repetir o título da canção e intervalos pra colocar as mãos pro alto. A segunda, uma melodia de synths "pra cima" obviérrima, que lembra vagamente algo que um dia se chamou progressive, mas hoje rotular isso como garbage house cai como uma luva.

No final da audição de More Than You Know, lembrei do álbum We're Only in It for the Money (clássico do Mothers of Invention de Frank Zappa, que completa 50 anos em Março do ano que vem). Claro que a lembrança não tem nada a ver com música e sim com o título. Sem a ironia de Zappa, claro.

"More Than You Know": jatinhos e mãos pro alto.


sexta-feira, 9 de junho de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Rod Stewart


David Bowie, o camaleão do pop? E o Rod Stewart, então? Rhythm and blues na sua primeira banda no começo dos 60 (The Dimensions), hard rock no Jeff Beck Group, pop psicodélico no Faces, baladeiro emocional grandiloquente no início dos 70, technopop oitentista (o hit "Young Turks") e até disco music no auge do gênero (é famosa a história do "plágio inconsciente" de Stewart - foi o que ele alegou nos tribunais - quando chupou a melodia de "Taj Mahal" de Jorge Ben pra compor o refrão de seu maior hit de pista, "Da Ya Think I'm Sexy?", de 1978).

Normal pra um artista pop embarcar na onda disco na época, afinal, se o Queen ("Another One Bites The Dust"), Stones ("Miss You"), Blondie ("Heart Of Glass") e Paul McCartney ("Goodnight Tonight") podiam, porque não Rod Stewart?

Polêmicas à parte, nem sei dizer o que é mais espetacular nessa música, se a linha de baixo galopante ou o arranjo de cordas/sintetizadores magistral. Fato é que Stewart com sua voz de lixa sempre foi um craque do pop e cravou um hitaço disco inesquecível.

"Da Ya Think I'm Sexy": canastrão gente boa.

domingo, 4 de junho de 2017

Quando o Techno Era Pop

 

Senta que lá vem clichê: o pop é cíclico. Estava pensando nisso enquanto ouvia Galvany Street (Blaufield Music), novo álbum do Booka Shade. A dupla alemã começou lá no final dos 80 como um projeto synthpop, foi convertendo-se em house e agora, em 2017, achou que tinha a ver lançar um disco que é uma espécie de volta às raízes (mais um chavão ordinário). Não sei se Walter Merziger e Arno Kammermeier encheram o saco do seu tech house límpido e geométrico que gerou belos álbuns como Memento (2004) Movements (2006) ou só quiseram provar que, sim, eles podiam compor canções com estrutura pop de estrofe-refrão-estrofe e trabalhar com mensagens um tanto mais diretas (no caso, letras) quanto os sensacionais ganchos de sintetizador que fizeram a fama das (já) clássicas das pistas "Body Language", "Mandarine Girl" e "In White Rooms". Para isso, convidaram quatro vocalistas (a mim, todos desconhecidos), incluindo Craig Walker (o do meio, na foto acima), que canta em metade do álbum.

O produto final, se não é brilhante, é muito bom de ouvir. E se é assim, acredito que deve-se muito ao fato do Booka Shade ter dois produtores de mão cheia, com excelente gosto para timbres, texturas e batidas e ainda capazes de preencher cada espaço vazio na música com sons que quase passam despercebidos numa audição aleatória, mas são claramente perceptíveis com um bom par de fones de ouvido. São detalhes como a meticulosa programação de bateria de "Broken Skin", os mil teclados e o tratamento vocal de "Numb the Pain" ou os bleeps e micro ruídos que formam a base de "Peak". Afastando-se do 4x4 e formado em sua maioria por canções downtempo, Galvany Street traz poucos momentos propícios à pista de dança e, mesmo assim, com BPM médio: a suingada "Numb the Pain", os ecos de New Order de "Babylon" e o ótimo bassline amparado pelo refrão grudento de "Loneliest Boy". A baixa dançabilidade do álbum talvez não surpreenda os fãs (que já viram o Booka Shade experimentar com ritmos mais lentos em Cinematic Shades [The Slow Songs], de 2008), mas a  abordagem sugere uma aproximação do techno com o pop, mesmo, como tudo começou para a dupla.

"Babylon": das poucas faixas que induzem ao movimento de Galvany Street.



sábado, 3 de junho de 2017

Strange World

 O que Erasure e Alphaville tem em comum? O synthpop, o sucesso nos anos 80 (em menor escala, no caso do Alphaville), a carreira cambaleante nos 90 e o franco declínio nos 2000. Ambos acabaram de lançar novos álbuns e o resultado...


Strange Attractor (Polydor) é o sétimo disco do Alphaville, que tem como único membro original o alemão Marian Gold (nome artístico para o quase impronunciável Hartwig Schierbaum). A média até que é baixa, já que Marian lança um álbum a cada sete anos, desde o bom Forever Young (1984). Negócio é que depois do empolgante debut, o Alphaville não teve mais nenhum trabalho digno de nota. Alguns singles interessantes (como o relativamente recente "I Die For You Today", de 2010) e só. Strange Attractor pega leve com baladas a um passo da grandiloquência, sintetizadores macios, levadas de violão e os bons vocais de Gold, que aos 63 anos se mostra mais contido do que quando alcançava as notas altíssimas de hits como "Big In Japan" e "Sounds Like a Melody". Se você quiser arriscar uma ouvida em Strange Attractor, ignore o fraco single "Heartbreak City" e tente a razoável "House Of Ghosts", a boa "Around The Universe" e a fluída "Mafia Island". São as que se salvam.

"Heartbreak City": decepcionante.




World Be Gone (Mute) é o décimo sétimo (!) álbum do Erasure, numa carreira iniciada em 1986. Aliás, os discos do Erasure dos anos 80 são todos muito bons, com menção especial à The Innocents (1988), talvez o melhor da dupla formada por Andy Bell (vocais) e Vince Clarke (sintetizadores). O duo ainda adentrou respeitosamente os 90 com o bom Chorus (1992) e o incrível EP de covers ABBA-esque (também de 1992) e, depois disso, ladeira abaixo. Recentemente, o Erasure procurou trabalhar com novos produtores pra tentar um upgrade no som, como Frankmusik (em Tomorrow's World, de 2011) e Richard X (The Violet Flame, de 2014), mas os resultados foram tão pífios que os próprios Clarke e Bell resolveram girar os botões da mesa de som do estúdio nas gravações de World Be Gone (com a ajuda do engenheiro de som Matty Green). Bom, infelizmente não adiantou. O novo álbum é arrastado, modorrento, preguiçoso. Nada do technopop esfuziante de outros tempos, o que temos aqui são baladas tristonhas carregadas pelos teclados mais sem graça que Vince Clarke já tocou na vida. World Be Gone chegou em sexto na parada inglesa - o que não deixa de ser surpreendente. Se bem que ficar no número seis da tabela britânica hoje em dia significa vender o que? Umas cinco mil cópias? Não importa. Sinceridade que não tem nem o que indicar pra ouvir desse disco - que é, provavelmente, o pior da carreira do Erasure.
"Love You To The Sky": declínio.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Sexta Feira Bagaceira: Roxette


Vestidos para o sucesso, mas por puro acaso. O Roxette já era bem popular em sua terra natal, a Suécia, na segunda metade da década de 80, mas ainda não havia atingido as paradas internacionais. Calhou de um estudante americano levar uma cópia do recém lançado segundo álbum da banda, Look Sharp! (1988) para os Estados Unidos e entregar para uma rádio de Minneapolis, que passou a tocar o single "The Look". A faixa se espalhou rapidamente para outras estações, popularizando o Roxette na América e forçando a EMI a lançar o álbum por lá no ano seguinte, o que fez a dupla formada por Marie Fredriksson (vocais) e Per Gessle (vocais e guitarras) emplacar quatro singles pelo resto do mundo ("The Look", "Dressed for Success", "Listen to Your Heart" e "Dangerous") - dois deles no lugar mais alto do paradão da Billboard.

Com um apuro técnico invejável e um compositor pop brilhante (Per Gessle), o Roxette cravou várias canções em paradas e segmentos diferentes (pop, adulto-contemporâneo, dance). O crossover "Dressed for Success", por exemplo, invadiu rádios e pistas na virada 80/90 - tanto que ganhou um 12 polegadas com remixes em 1990. É pop perfeito feito por um duo que é herdeiro direto do ABBA, de refrãos eternos, hits inesquecíveis e um talento impressionante para direcionar sua música para o single - apesar de Look Sharp! ser bem apreciável (uma das minhas preferidas do disco, "Paint", nem foi single). O grupo continua excursionando e lançou seu álbum mais recente (Good Karma) ano passado.

"Dressed for Success": pop perfeito.