terça-feira, 29 de novembro de 2011

Disco do Mês: "Good For The Soul", por Dionne Bromfield


prodígio
pro.dí.gio
sm (lat prodigiu) 1 Fenômeno extraordinário ou inexplicável que causa admiração; maravilha; milagre. 2 Pessoa de extraordinário talento; portento. 3 Qualquer feito ou sucesso extraordinário.

Amadrinhada por Amy Winehouse, Dionne Bromfield foi o primeiro nome do cast do selo da falecida tutora, a Lioness Records. Estreou em 2009 com Introducing Dionne Bromfield, um álbum de covers de gente como Stevie Wonder, Aretha Franklin e The Shirelles. Isso aos 13 anos. Agora aos 15, Dionne já está com seu segundo disco no mercado (Good For The Soul, lançado em Julho) e das quinze faixas, só não participa como compositora de quatro. E a garota prodígio arrepia. Toda vez que ouço esse disco, não consigo associar a imagem da Dionne mirradinha com a Dionne desse extraordinário talento vocal contido nos registros de Good For The Soul. E pra assustar um pouco mais, ela parece ter um domínio absurdo de tudo: da voz à performance ao vivo. Olha a naturalidade e a segurança com que a guria encara a platéia:




E o disco é realmente ótimo. Com uma produção cristalina, Good For The Soul voa sem escalas para algum lugar dos anos 60 - possivelmente o escritório de Berry Gordy ou seu estúdio em Detroit - condensando soul, R&B e doo-wop em quase uma hora de pop sublime. E tudo ajuda para projetar o timbre de Dionne, dos naipes de metais redondinhos ("Sweetest Thing") às sessões de cordas magníficas ("Ouch That Hurt"), dos backing vocals macios ("Too Soon to Call It Love") aos refrãos perfeitos ("If That's the Way You Wanna Play"). O álbum é detalhista; minucioso nos arranjos, cheio de cerejas no bolo (os sinos de "Remember Our Love", as flautas de "If That's the Way You Wanna Play"), surpresas (há quanto tempo eu não ouvia uma virada de bateria como aquela da introdução de "Lost In Love"?), dançável, pop e a despeito do som retrô, exala um frescor que os tenros 15 anos de Dionne Bromfield justificam por si só. Impressionante.

"If That's the Way You Wanna Play": os melhores três minutos e meio do ano.


If That's The Way You Wanna Play - Dionne Bromfield by Imagem Creative
 

domingo, 27 de novembro de 2011

Discoteca Gaulesa

Dois bons discos de house fresquinhos:

Fred Falke é um DJ e produtor alemão, grava house com sotaque francês desde o começo dos anos 2000 e é chapa de Christophe Hoeffel, também conhecido como Kris Menace. Falke debuta em disco agora no começo de Dezembro com Part IV - na verdade um apanhado de faixas de seus singles e EPs desde 2006, mais algumas inéditas. É fácil um dos lançamentos de música de pista mais significativos de 2011, mesmo que a maioria das gravações não seja inédita. Fred Falke acumula experiência numa impressionante lista de remixes assinados por ele, o que faz muita diferença na hora de soltar um álbum autoral com faixas que vão do frescor baleárico de "808 PM At The Beach", passa pelo french house de vocais picotados e baixos disco de "Back To Stay" e "Look Into Your Eyes", o electro cambaleante de "Last Wave" e a space disco de "Electricity". Falke ainda lembra de suas origens como baixista com o show das quatro cordas de "Wait For Love", originalmente lado B do single "Omega Man" editado em parceria com o músico Savage.
   
"808 PM At The Beach": verão vindouro.














Benoit Heitz é francês de nascimento, assina como Surkin, tem só 26 anos e já engaveta uma penca de remixes pra gente bombada como Chromeo, Klaxons e Justice. Surkin lançou em Novembro seu segundo álbum (USA), uma refrescante coleção de canções divertidíssimas e com cheiro de anos 90. São 16 faixas divididas em freestyles melosos linha Stevie B. ("Lose Yourself"), electro-funk sossegado ("Silver Island", "End Morning"), house de pianos galopantes ("Ultra Light") e acento ítalo ("Quattro" deve ser a "Numero Uno" de 2011). Magistrais em USA são as batidas impactantes e o clássico sample "Uh! Yeah!" reutilizado pela bilionésima vez em "I.N.Y.N" e as belíssimas cordas recortadas por navalhadas de sintetizador e vocais em "White Knight Two". Olho nesse moleque.

"I.N.Y.N": Uh! Yeah!




quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cansou De Ser Sexy


Que o músico e produtor Adriano Cintra pediu o boné do Cansei de Ser Sexy agora em Novembro você sabia, mas e desse novo projeto do cara (já?), chamado My Dirty Fingers? "Not Holding Me Down" apareceu no Soundcloud há uma semana atrás e já acumula audições e elogios na página. A música é um technopop safado de venenoso, totalmente dominada por sintetizadores e baterias eletrônicas que remetem à um Visage circa 1981 e vocais tipo Damon Albarn submerso numa banheira de champagne. Muito mais legal do que qualquer coisa que o Cansei de Ser Sexy lançou até hoje.

"Not Holding Me Down": hit em potencial.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Paisagismo Sonoro



Um dos pioneiros da ambient house e o principal mentor de discos essenciais de eletrônica como The Orb's Adventures Beyond the Ultraworld (1991), Alex Paterson mantem-se ativo com o seu The Orb e o projeto C Batter C, lançado em Novembro.  


Trata-se de um pacote que inclui um DVD com um curta-metragem de 17 minutos chamado Battersea Bunches que narra a história de três crianças que fizeram uma viagem entre Battersea e Greenwich em 1956, na Inglaterra. A jornada foi capturada em Super-8 pela tia das crianças e Paterson (junto com o artista visual Mike Coles) fundiu essas imagens com cenas atuais para criar um apanhado de cenas de forte apelo emocional (e por vezes, surreal). C Batter C traz ainda um livro de 60 páginas com fotos e poemas e um CD com a trilha sonora original, mais sete remixes de artistas desconhecidos (pelo menos pra mim) como Gaudi, HFB e David Harrow. Curiosamente, a faixa mais fraca do disco é a bem humorada "Batter C Bunny's Munching Orbular Marrow Mix" do suíço Thomas Fehlmann, parceiro de Paterson nas produções recentes do Orb. O CD tem coisas bem mais interessantes, como a trôpega "To Battersea With Bunches (HFB Remix)", o dubstep "Brixton Hundreds (David Harrow Remix)" e o deep-techno "Latchmere Allotments (Nocturnal Sunshine Remix)". Não é só pelo fato de eu ser fã de carteirinha do Dr. Alex Paterson, mas vale a pena conhecer C Batter C. Primeiro porque é sempre válido se embrenhar em qualquer floresta cibernética cultivada pelo The Orb e segundo porque Paterson deu uma espiada no passado pra projetar o presente nesse projeto - e decodificou essas imagens em forma de música que ainda desafia rótulos, o que é sempre sinal de relevância.

"Brixton Hundreds (David Harrow Remix)": The Orb embarca no dubstep?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Preto no Branco


Jarle Bernhoft é um cantor, multi-instrumentista e compositor norueguês. Já tem três álbuns lançados e visualmente é algo entre Buddy Holly e Johnny Bravo. Em seu semi-hit "C'mon Talk", o faz-tudo Bernhoft canta como se fosse um daqueles negões do Temptations de 1972 num cruzamento entre soul e folk bem atípico pra quem vem lá dos fiordes escandinavos. A música nem é espetacular, mas o cara tem uma qualidade que anda meio escassa hoje em dia: sabe cantar. Dica do sempre ligado Cris Antunes.

"C'mon Talk": Bernhoft cobra o escanteio e tá na área pra cabecear.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Selling Your Soul


Em 2008 Seal lançou Soul, seu primeiro álbum de covers. O disco era composto por clássicos do gênero (como assim "que gênero"? O soul!) e o resultado foi um estouro: ouro, platina e diamante mundo afora (só na França ficou 13 semanas consecutivas em primeiro lugar, vendendo mais de um milhão de cópias). Alguma dúvida que esse projeto bem sucedido teria uma continuação? Pois aí está Soul 2, e de novo Seal mete a mão na obra alheia sem a menor cerimônia. Se você se considera um entendedor médio de música pop, já é o suficiente pra conhecer mais da metade das músicas do repertório desse álbum. É sério. Mesmo que não seja a versão original. Essas canções de Soul 2 já foram regravadas dezenas de vezes, e Seal - bom cantor que é - até que não faz feio. Mesmo com sua voz semi-rouca ele canta docemente "Ooh Baby Baby", hit de 1965 do The Miracles com Smokey Robinson nos vocais. Do grupo Rose Royce, Seal pescou duas faixas: "Wishing On A Star" (aqui no Brasil a canção foi sucesso na boa versão das Cover Girls) e "Love Don't Live Here Anymore"; de Al Green catou a obra-prima "Let's Stay Together", do Chi-Lites deu uma xerocada competente em "Oh Girl" e do indefectível Marvin Gaye, ousou encarar o monumento "What's Going On". Também, com uma produção gabaritada de dois caras como Trevor Horn e David Foster, até eu lançaria um disco desses. Saca o arranjo de Foster para "Back Stabbers" (original dos O'Jays), que maravilha - dos backings à percussão, das cordas aos metais, um luxo. Já Horn lambuza "Love T.K.O." (Teddy Pendergrass) com um baixo escorregadio e cordas melosas. Tenho certeza que um público muito além dos fãs de Seal vai cair nessa de novo com Soul 2, porque de fato tudo aqui é bem feito e as pessoas não estão nem aí se os originais são insuperáveis. Fora que o programador da Antena 1 vai ter material do Seal pra tocar pelos próximos dois anos.

"Ooh Baby Baby": Seal bico doce.



domingo, 13 de novembro de 2011

Dark de Verdade


O figura com pinta de ator do cast do José Mojica Marins aí acima chama-se Spoek Mathambo. Aos 24 anos, o rapper e DJ nascido em Soweto faz parte da nova geração de artistas africanos entrincheirados na linha de frente da nova música eletrônica daquele continente. Também designer gráfico e ilustrador, Spoek lançou ano passado seu primeiro álbum, Mshini Wam.


Quarto single extraído do disco, "Control" é uma das músicas mais interessantes que escutei esse ano. Primeiro porque a idéia de transformar o clássico "She's Lost Control" do Joy Division numa faixa dance já soa desafiadora por si só e segundo porque o resultado final é surpreendente. Spoek subverteu o original numa house revestida de frequências baixíssimas de grave, ocasionais detalhes afro e vocais perversamente narrados dentro de um vocoder assustador, com alto teor de dançabilidade. O vídeo é outro caso à parte: idealizado pelos fotógrafos sul-africanos Pieter Hugo e Michael Cleary, o clip traz uma sequência perturbadora de cenas de rituais e possessões muito bem interpretadas pelo projeto Happy Feet, um grupo de dança que reúne a molecada local. Nem Wes Craven faria melhor. Eu, hein.

"Control": Ian Curtis dançaria essa?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Fim do Reinado e a Volta da Monarquia


O Erasure passou a ser uma banda de singles a partir de 1994. Nesse ano a dupla britânica lançou o fraco I Say I Say I Say, e o álbum naufragou com a produção excessivamente digitalizada do admirável Martyn Ware (Human League, Heaven 17). Ou você lembra de alguma coisa de I Say que não seja a orientalizante "Always"? Ainda assim, era mais um disco do Erasure que chegava ao topo do paradão inglês. Pela última vez. Claro que o número de cópias vendidas não serve como termômetro para medir qualidade, mas como Andy Bell e Vince Clarke pareciam ter a fórmula mágica dos três minutos nas mãos durante a segunda metade dos 80 e o comecinho dos 90, foi de se estranhar que o tecno assumidamente pop da dupla começasse a rarear, em troca de composições mais longas ora tristonhas, ora experimentais. O problema é que até mesmo para singles o Erasure parece ter perdido o Toque de Midas. "In My Arms" (1997), "Freedom" (2000), "Breathe" (2004)... dá pra contar nos dedos o que é realmente digno de nota desse período. E eles se intimidaram? Nada. Continuaram lançando discos. Foram oito de 1995 até 2011, média de um a cada dois anos - contando o mais recente, Tomorrow's World, que saiu mês passado. Aqui temos Vince Clarke de novo usando sua coleção de synths de boa cepa para dar um acabamento mais envernizado nas canções e Andy Bell sofrendo nas mãos do produtor Frankmusik, no que tange aos vocais. O cantor está irreconhecível em "Fill Us With Fire" e cai na armadilha dispensável do auto-tune em "A Whole Lotta Love Run Riot". Honestamente, Bell soa muito melhor ao vivo do que nesse álbum (vi um show da banda em Agosto). Você certamente vai ler coisas por aí como "... é o melhor disco do duo desde...", e a gente quase acredita ouvindo refrãos como "Then I Go Twisting" e "Just When I Thought It Was Ending" ou o esforçado single "When I Start To (Break It All Down)". Fato é que o Erasure tem se desafiado constantemente nos últimos 15 anos: como não passar despercebido no meio de tanta música ofertada? Olha, só com um trabalho (ou uma sequência razoável de singles) realmente bom. E isso aconteceu pela última vez em 1991.

"When I Start To (Break It All Down)": softwares na voz.




Já o duo australiano radicado em Londres Monarchy finalmente debutou de forma oficial com Around The Sun. O disco deveria ter sido lançado ano passado, vazou, foi adiado para Janeiro, depois Julho... Com a lista de faixas alterada em relação a 2010, o álbum ganhou a adição das novas (e ótimas) "I Won't Let Go" e "Jealous Guy". Se você passou batido por esse hype em 2010, saiba do que se trata no texto que escrevi pro rraurl. Depois ouça Around The Sun e tenha certeza que o synthpop está em ótimas mãos com bandas como o Monarchy.

"Jealous Guy": o futuro é o passado, baby.



domingo, 6 de novembro de 2011

Música Para Não Ouvir No Verão

 Daqui a pouco é verão no Hemisfério Sul. Três meses de bermudas, biquinis, praia, sol e Ivete Sangalo. Putz, Ivete Sangalo? Há mais de dez anos que a cantora toma conta do campinho nessa época aqui no Brasil, existe distância segura para se proteger desse furacão baiano? Não, não tem. Mas eu não preciso ser cúmplice. Aliás, alguns lançamentos recentes também não se encaixam a algo próximo de um verão perfeito, musicalmente falando. Ei-los:



Artista: Ladytron

O quarteto de Liverpool soltou em Setembro seu quinto álbum, Gravity The Seducer. O synthpop épico tramado pela banda no disco tem várias camadas de gelo... digo, de sintetizadores com timbres mal-humorados (uma faixa chama-se sintomaticamente "Melting Ice", vai vendo) e alguns dos temas instrumentais mais populares na Groenlândia atualmente. Excessivamente melancólico, Gravity The Seducer não tem a menor chance de funcionar naquele seu surrado ghetto blaster na beira d'água.

Fator local: ouça o disco quando visitar Yakutsk, na Sibéria.
Fator de proteção sonar: 30 (médio).

"White Elephant": não, não é cor-de-rosa. É branco.




Artista: Zola Jesus

Apesar do nome, Nika Roza Danilova nasceu em Phoenix, Arizona. Conatus (lançado em Setembro) é o terceiro álbum da moça usando o alter ego Zola Jesus e traz 11 faixas de eletrônica experimental num cruzamento aproximado entre Joy Division e Siouxsie & The Banshees. O disco condensa rock gótico e synthpop, mas é o trabalho vocal inegavelmente bem feito de Danilova que mais chama atenção aqui - mesmo quando ela entoa um cântico ininteligível como em "Ixode". Seus trinados sinistros assustam na mesma medida que fascinam.

Fator local: bom de ouvir em São José dos Ausentes, nunca em Balneário Camboriú.
Fator de proteção sonar: 60 (alto).

"Vessel": filtro verde-esmeralda. E frio.




Artista: Justice

O franceses Gaspard Augé e Xavier de Rosnay acabaram de lançar seu segundo e esperado álbum, Audio, Video, Disco. Tarefa ingrata depois da estréia absurda (Cross fica mais fácil), do longínquo 2007. Passaram no teste? Sim e não. Ouvindo com carinho, o disco não chega a decepcionar. Tem aqueles timbres embolorados semelhantes aos encontráveis em singles (já) clássicos como "Waters of Nazareth" (em "Parade"), mas a diferença é que o Justice agora não engaveta a maior quantidade de distorção possível por metro quadrado como fazia há quatro anos atrás. O foco parece estar num electro-rock setentista/progressivo, cheio de guitarras e que pouco tem a ver com a pista de dança, bicho! O que deixou o som meio sem graça, é verdade.

Fator local: leve uma cópia na mochila na sua viagem para São Tomé das Letras.
Fator de proteção sonar: 15 (baixo).

"Civilization": "_ Corram para as montanhas!"



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

1 X 4 = 1


 Está por sair o novo do multi-platinado Snow Patrol, Fallen Empires.

Em Setembro passado, os irlandeses soltaram o single Called Out in the Dark como aperitivo. Acabou rolando também um EP com mais três faixas (totalmente dispensáveis). Fique somente com a faixa título e descarte o resto sem dó. "Called Out in the Dark" - a canção - é um roquezinho salpicado com doses homeopáticas de eletrônica e com uma letra tipo levanta-estádio ("É como se não conseguíssemos nos segurar / Pois não sabemos ir mais devagar / Fomos chamados para as ruas / Fomos chamados para a cidade"). E considerando que hoje é sexta-feira e a faixa tem essa bateria com o chimbau numa levada disco, é perfeitamente justificável dançar ao som de "Called Out in the Dark". Remixes também são bem-vindos.

"Called Out in the Dark": coreografia mais legal desde "Dança da Manivela" do Asa de Águia.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tangoless


Os órfãos do Gotan Project periga se interessarem pelo Submotion Orchestra. Não que o Gotan - este projeto parido por um argentino, um francês e um suíço - tenha acabado, não é isso... mas você sabe, aquele tango eletrônico renovador e impressionante do trio funcionou 100% no debut La Revancha Del Tango de 2001, 50% no segundo álbum de fato (Lunático, de 2006) e dali pra frente a fórmula ficou presa no próprio tubo de ensaio.  


Buenas, o que os ingleses do Submotion tem a ver com o Gotan? Essencialmente electronica, jazz, dub e uma lona escura feita de trip-hop cobrindo tudo. O diferencial é que o grupo de seis músicos de Leeds passa longe dos ritmos portenhos e tem à sua frente uma vocalista fantástica chamada Ruby Wood. É ela com sua voz de Sade albina quem acalma as linhas de baixo que fazem os alto-falantes tremerem em certos trechos de Finest Hour, álbum lançado em Agosto deste ano. Atual mas não aproveitador, o Submotion encaixa-se confortável no dubstep vigente ("Back Chat") e no drum'n'bass jazzy ("Always"), ao mesmo tempo em que aproveita os músicos que tem pra criar um instrumental emocionante e detalhista como o da faixa título. Pontuado por um trompete onipresente que atravessa quase todas as dez faixas e favorecido pelos vocais de Ruby Wood, o Submotion Orchestra fez um disco de estreia apurado e minucioso, mas com um resultado final cool e extremamente prazeroso de ouvir.

"Suffer Not": tudo no capricho.




quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Boss Em Disco

Depois de uma série de remixes para outros artistas e com faixas do Boss In Drama pipocando aqui e ali desde 2007, o produtor curitibano Péricles Martins conseguiu finalmente organizar tudo em forma de disco, lançado em Outubro. 


Pure Gold é uma boa coleção de pop dançante, e felizmente é variada o bastante pra não se prender somente ao rótulo nu-disco. Por isso mesmo a guitarrinha com levada bossa nova pode surpreender já na segunda faixa, "I Don't Want Money Tonight". "I've Got Tonight" e "Favorite Song" são provavelmente as músicas mais conhecidas do álbum: pós-disco funkeada de baixo exemplar e com cheiro de Chromeo na primeira, french house de vocais vocoderizados aos cacos na segunda. Segundo Péricles, "Disco Karma" (vocais divididos com Christel Escosa) deve ser o próximo single do álbum e a despeito do título, a batida aqui descamba pro R&B ao invés do bumbo reto e do prato sibilante da disco. Com domínio total da produção, Péricles reforçou os arranjos com metais ("Perfect Symphony", "Gravy"), um molho percussivo convincente ("Body Rock") e baixos contagiantes ("Summer Madness"). Ainda mostra que é fã de carteirinha do mini-gênio Prince ("Addicted") e que por tudo isso, os elogios de ninguém menos que Justin Timberlake são mais do que merecidos. Boss In Drama vai ser grande.

"Favorite Song": french house longe da Torre Eiffel.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Guina


O paulistano Pedro Paulo Soares Pereira (Mano Brown, o primeiro da esquerda para direita na foto acima) é o melhor letrista que já apareceu no rap nacional. Seu Racionais MC's também reina absoluto no cenário, desde o começo dos anos 90. O grupo está a anos-luz de qualquer tentativa de rima coletiva que tenha surgido no nosso hip-hop, além de trazer as bases instrumentais de extrema criatividade e bom gosto do DJ e produtor KL Jay. Enquanto em 2011 os rappers Emicida e Criolo levaram juntos cinco dos onze prêmios do VMB na MTV Brasil, os Racionais preparam álbum novo para 2012, com rumores de mudança na formação. Enquanto material novo não chega, vale dar um confere numa das tantas faixas essenciais do quarteto, "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar". A música está em Sobrevivendo no Inferno - talvez o melhor disco da banda - de 1997. Aqui a narrativa angustiante de Mano Brown coloca o ouvinte entre tiroteios, sirenes, crime, castigo... e Guina. "O Guina não tinha dó / Se reagir, bum, vira pó" (sic). O clima de suspense criado por KL Jay é perfeito: a base sampleada de "Charisma" do trompetista Tom Browne (1981) é enriquecida com teclados sinistros enquanto bips de monitor cardíaco e batidas de coração fundem-se com a bateria. Arrepiante e genial.

"Tô Ouvindo Alguém Me Chamar": onze minutos de tensão.



"Charisma": Tom Browne brilhantemente sampleado por KL Jay.