segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Poison Heart


Ó que simpático o texto de apresentação do single novo do Simian Mobile Disco, Cobra Wine Bile: "É uma bebida alcoólica apreciada na China e no Vietnã, onde se acredita que o veneno e a bile da vesícula biliar melhoram a virilidade masculina, entre outros benefícios. Consumir o veneno faz de você um homem, ao que parece... cobras são mergulhadas no vinho, ou a bile é espremida diretamente em um copo." Urgh.


A faixa em si, tem um certo amargor indelével do techno: 4x4 ininterrupto e marcação sombria de orquestra sintética por toda a extensão. Desce mais uma, Simian.

"Snake Bile Wine": veneno para as pistas.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Khaled


Não foi com "El Arbi" que Khaled Hadj Ibrahim ganhou o mundo. "El Arbi" foi, sim, trilha pra dança rameira da Feiticeira naquele esquecível Programa H do Luciano Huck e fez a fama do autointitulado "Rei do Raï" (espécie de folk tradicional argelino) aqui no Brasil, mas o estouro do single "Didi" é que botou Khaled no mapa mundi. Ornamentada com a perfumaria eletrônica disponível no começo dos 90, a faixa foi produzida pelos espertos Don Was (Was [Not Was]), Michael Brook e Tim Simenon (Bomb The Bass) - responsáveis pela felicíssima ideia de fundir o raï com beats e texturas de R&B - e ganhou a Europa rapidamente.

"El Arbi" (do mesmo álbum, o inovador Khaled, de 1992) no entanto, tem um apelo irresistível - desde sua batida fornecida por baterias eletrônicas até o mix sedutor de instrumentos tradicionais como o acordeom e sintetizadores emulando flautas encantadoras. E tem o figuraça Khaled e seu canto ininteligível e hipnótico, colocando pistas de dança abaixo desde os anos 90.

"El Arbi": ventres em polvorosa.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Péssima Viagem

 
Começamos mal 2014. Conselho de brother: não ouça o disco novo da Sophie Ellis-Bextor, Wanderlust. Já sofri por você. Olha, pra ser bem polido e amável, vou me conter e dizer que é só um lixo. Para os sadomasoquistas que não seguirem meu conselho, peço que não se impressionem com os arabescos ameaçadores da abertura "Birth Of An Empire", isso é só cafona e suntuoso mesmo. E coros barrocos vêm acompanhados de rufos de tambores... nossa. Agora, pega o pior do ABBA (pensa em "Chiquitita" ou "Fernando") e veja como a delicinha Sophie concentrou isso numa papa açucarada nas tenebrosas "Young Blood" (primeiro single do álbum) e "Interlude" (dá pra aproveitar que elas vem juntinhas no meio do disco e lavar a louça antes de partir pra outra metade). Dá medo, sério. Pra ter ideia de como o negócio flui eclético (ou musicalmente perdido, você decide), até valsa tem! Acontece em "Love Is A Camera", um improvável cruzamento entre André Rieu e Bucks Fizz. Wanderlust encerra melancólico com uma canção voz e guitarra numa vibe assim meio Mágico de Oz, sabe? ("When The Storm Has Blown Over").

Pena, viu. Ela é admiravelmente bonita, canta direitinho, mas cada vez mais penso na carreira dela como vocalista convidada. Trabalho autoral, esquece.

"Young Blood"; prepara a caixinha de Kleenex.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Classix Nouveaux


"Guilty" foi a canção mais conhecida da curta carreira dos ingleses do Classix Nouveaux. Lançada em 1981 - no período mais glamouroso do efervescente new romantic - o single teve desempenho modesto no paradão inglês, nem entrou no Top 40. Mas experimentou uma certa dose de popularidade com um technopop chiclete impulsionado por um baixo disco excepcionalmente bem executado e também pela figura esquisitíssima (e carismática) do vocalista Sal Solo, uma espécie de Nosferatu da new wave britânica. Não sinta-se culpado por gostar dela.

"Guilty": festa estranha, gente esquisita.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Segunda Class: Pink Floyd


"Em Violator, tentamos unir a eletrônica ao feeling do blues".

Assim Dave Gahan, vocalista do Depeche Mode, definiu o melhor disco de sua banda, em 1990. Não que ele reivindicasse a autoria do experimento, mas dezessete anos antes, o Pink Floyd já havia conseguido a inédita fusão. Aperte o cinto.

The Dark Side Of The Moon: pra viajar no cosmos, não precisa gasolina.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Os Dez Álbuns de 2013


A exemplo da escolha das minhas faixas preferidas de 2013, os álbuns também seguem a mesma lógica sintético/sacolejante. Vão ser só dez, porque como escrevi no Top 65 Músicas, acho que foi um ano de poucos discos realmente bons, homogêneos, coesos. Olha, nada de The Knife, Boards Of Canada, Darkside ou Atoms For Peace. Não vou pagar de cool. Esses aí vão aparecer em muitas listas, ouvi todos e só consegui simpatizar um pouco com o Amok, do Atoms For Peace (projeto do Thom Yorke), mesmo assim, não acho suficiente pra estar num Top 10. Entendo a guinada artística e a ousadia do Knife, mas Shaking The Habitual é, francamente, inaudível. O Tomorrow's Harvest - que encerrou um jejum de oito anos do Boards Of Canada - achei árido demais, e o Darkside (parceria do músico/produtor Nicolas Jaar e do multi-instrumentista Dave Harrington), me deixou com a impressão de que o hype encobriu a música - que não é essa rapadura toda, apesar dos bons momentos revivendo o Pink Floyd no seu debut Psychic (especialmente em "Heart" e "Metatron"). O que eu realmente ouvi, curti, repeti, cantei junto, decorei a ordem das faixas e dancei, é o que está abaixo. Os links com os textos sobre cada um destes álbuns postados em 2013 aqui no blog, estão em vermelho.

10 - DJ Day - Land Of 1000 Chances


9 - Ian Pooley - What I Do


8 - Zomby - With Love


7 - Rudimental - Home



6 - Kölsch - 1977


5 - Mesh - Automation Baby


4 - Hot Natured - Different Sides Of The Sun


3 - Kraak & Smaak - Chrome Waves


2 - Daft Punk - Random Access Memories


1 - Disclosure - Settle


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Monte Kristo


Capitaneado pelo mesmo Jean-Luc Drion que havia estourado o Magazine 60 ("Don Quichotte") em 1984, o Monte Kristo foi um one hit wonder que teve lá seu gostinho de sucesso com o single "The Girl Of Lucifer", de 1985. Misto de synthpop e eurodisco, a faixa é ridiculamente grudenta. O riff de sintetizador é constrangedor, de tão xinfrim. Pra dançar com uma sacolinha de mercado enfiada na cabeça.

"The Girl Of Lucifer": o inferno é aqui.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

As 65 Músicas de 2013 - Parte 3 (10 - 01)


O Top 10. As dez mais. O supra-sumo. A nata. A elite. A... OK, você já entendeu.

10 - "To The Middle Of Nowhere" - Westbam feat. Inga Humpe

Minimalista, enxuta, sinfônica. Westbam lembrando do tempo em que o techno era pop.



09 - "Midnight Cruising" - Hypnolove

Eletrônica e sonhadora, um synthpop francês que é pura elegância.



08 - "Ballad Of The War Machine" - Midnight Juggernauts

Ritmo trôpego, psicodelia e um dos refrões do ano.



07 - "Mirrors" - Justin Timberlake

Mais pra 'N Sync do que pra Timberlake solo. Nenhum demérito.



06 - "Planet Us" - Hot Natured

Pop house fim de noite, cai bem no sofá ou na pista.



05 - "Adjust Your Set" - Mesh

"A" canção synthpop do ano. Grude instantâneo. Sem malabarismos. Sem cabecice.



04 - "Bappedekkel" - Kölsch

O beat cambaleante e o redemoinho de sintetizadores atestam: a Kompakt não perde tempo com bobagens.



03 - "Awakening" - Empire Of The Sun

A grandeza disco (baixo, vocais à Barry Gibb) nos três minutos e meio mais bonitos do ano.



02 - "White Noise" - Disclosure feat. AlunaGeorge

O ruído transformado em melodia, a eficiência das batidas, a negação da mesmice, o apelo pop.



01 - "Get Lucky" - Daft Punk

 Um timaço desses só podia resultar na música do ano. Absolutamente tudo funciona: da sinuosa guitarra escovinha de Nile Rodgers ao falsete afinadíssimo de Pharell Williams, do piano elétrico discretinho ao hi-hat de verdade. Pop song perfeita.



Próximo capítulo dos melhores de 2013: álbuns.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

The Copy Method


Difícil pro Crystal Method teria sido gravar um álbum repelindo categoricamente a clichezada dance mainstream, mas a luz amarela já tinha acendido em 2010 no single "Sine Language", com a participação nada especial do infame LMFAO. Seu novo álbum The Crystal Method sai dia 14 de Janeiro, e confirma a suspeita.

Talvez buscando uma posição de headliner no Electric Daisy Carnival 2014, o duo californiano rendeu-se à mesmice. Utilizando fartamente as teclas Ctrl + C e Ctrl + V, ficou fácil para Ken Jordan e Scott Kirkland atualizar o som. Saca os timbres, cortes, texturas e loops de "Over It" e me diz se o Skrillex (quem diria) foi ou não alvo de chupação explícita. A falta de identidade (ou ética) agrava-se em "Sling The Decks", "Jupiter Shift" e "Dosimeter " e na pavorosa "Difference": bassdrops insistentes, distorção no talo, baterias espalhafatosas... um esforço que não vai além de algo que lembra uma cópia do Knife Party. Quer ouvir um álbum bacana dessa dupla, vai no debut big beat Vegas, de 1997. Esse aqui é perda de tempo.

"Over It": carbono dubstep.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

As 65 Músicas de 2013 - Parte 2 (37 - 11)


Continua a saga.

37 - "One Way Trigger" - The Strokes



36 - "Real Slow" - Miami Horror feat. Sarah Chernoff



35 - "Step Together" - Joe Goddard feat. Boris Dlugosch



34 - "Piano In The Dark" - Nick Curly



33 - "Loveheadshot" - inS



32 - "Waiting All Night" - Rudimental feat. Ella Eyre



31 - "Oceania" - Martyn



30 - "What Have You Done To Me" - Mario Biondi



29 - "Desire" - Roska feat. Vanya



28 - "Stars" - Zero Cult feat. Kerensa Stephens



27 - "Mogadisco" - JBAG



26 - "Heaven" - Depeche Mode



25 - "Don't Call It Love" - Zero 7



24 - "Blurred Lines" - Robin Thicke Feat. T.I. & Pharrell Williams



23 - "Gallowdance" - Lebanon Hanover



22 - "Go Gentle" - Robbie Williams



21 - "Gimme Your Love" - Morcheeba



20 - "Honey Honey" - Cosmetics



19 - "Over Your Shoulder" - Chromeo



18 - "Instant Crush" - Daft Punk feat. Julian Casablancas



17 - "Strictly Reserved For You" - Charles Bradley



16 - "Now Is Not The Time" - CHVRCHES



15 - "Mon Sound" - Raggasonic



14 - "Happens All The Time" - Depeche Mode



13 - "Lose Yourself To Dance" - Daft Punk



12 - "We Can Go" - Gui Boratto



11 - "Good For The City" - Kraak & Smaak feat. Sam Duckworth



Próximo capítulo: As 65 Músicas de 2013 - Parte 3 (10 - 01).

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Segunda Class: Innocence


Vida curta e dois álbuns na carreira do Innocence, grupo britânico de R&B que tinha como trunfo a impressionante Gee Morris nos vocais. Seu maior hit, "Natural Thing", sampleia o solo de guitarra de "Shine On You Crazy Diamond", do Pink Floyd, com a benção de David Gilmour. Dá pra comparar com Soul II Soul numa boa, mas a vibe do Innocence era mais tranquilona, downtempo.

Seu debut Belief, de 1990, traz outras faixas dignas de nota, como o batidão acompanhado de teclados atmosféricos e floreios de trompete de "Silent Voice":



"Natural Thing" e seus nove minutos de soul relax:

domingo, 5 de janeiro de 2014

As 65 Músicas de 2013 - Parte 1 (65-38)


Sim, bem. Cá estamos. Ano bom. Eu achei. Poucos álbuns excelentes. Bastante música boa. Dividida em três partes, aqui está a seleção de 65 faixas mais bacanas de 2013, na minha modestíssima opinião. Por que 65? Nadaver com numerologia, nem nada parecido. Simplesmente foram as músicas que eu mais ouvi, toquei e gostei neste ano. Simples assim. O foco é direcionado apenas às tags comuns ao blog: house, techno, disco, soul, synthpop, etc... Sim, eu também gostei de quase todo AM do Arctic Monkeys, mas isso é outra conversa. Aqui, só eletrônico/groove/chacundum, certo? Bora.

65 - "When Radio Was Boss" - SoulPhiction



64 - "At All" - Kaytranada



63 - "All Gods Love" - MAD! feat. Antranita



62 - "Neon (Lonely People)" - Lena



61 - "Spend The Night" - Palma & Salvatierra



60 - "Daria" - Mixhell



59 - "Playing Games" - Alix Perez feat. D.Ablo



58 - "Breaking Silence" - Lust For Youth



57 - "Frozen" - Pazes



56 - "Believe" - Traumprinz



55 - "Give Your Heart to Me" - B.G. Baarregaard



54 - "All Away" - Art Of Shades feat. Soukaïna



53 - "It All Feels Right" - Washed Out



52 - "High Beams (Maceo Plex Remix)" - Butch



51 - "Okay" - Holy Ghost!



50 - "Land Of 1000 Chances" - DJ Day



49 - "Powerless" - Rudimental feat. Becky Hill



48 - "Trying To Be Cool (Breakbot Remix)" - Phoenix



47 - "Drones" - Night Drive



46 - "One Girl / One Boy" - !!!



45 - "Body" - Cinnamon Chasers



44 - "Black Mambo" - Glass Animals



43 - "Out Run" - Paradizzle



42 - "The Kings Heath" - Mark E



41 - "Tongue" - Maribou State feat. Holly Walker



40 - "Bring Me Up" - Ian Pooley feat. Dominique Keegan



39 - "Bad Kingdom" - Moderat



38 - "The Lonely Night" - Moby feat. Mark Lanegan



Próximo capítulo: As 65 Músicas de 2013 - Parte 2 (37 - 11).

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Queen


No começo dos 90, consegui com um amigo o vinil de A Night At The Opera (1975), do Queen, pra ouvir. Pura curiosidade, já que não era fã da banda. Até curtia as experiências technopop do grupo inglês (a saber, "Radio Gaga" e, especialmente, "I Want To Break Free", single de 1984 que sempre rolava na pista que eu frequentava), mas fora isso, aquilo me parecia exibicionista demais, rock de arena. Pra mim, grande apreciador da elegância, eficiência e discrição silenciosa de tecladistas como Chris Lowe (Pet Shop Boys), Dave Ball (Soft Cell) e Vince Clarke (Erasure), passava da conta aquela exuberância toda.

Enquanto ouvia os trinados de Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody", peguei o encarte pra ler. Ali, o choque estampado em caixa alta: NO SYNTHESIZERS! Ah, é? Além de espalhafatosos, preconceituosos? Subi o braço do toca discos na hora. E desisti do Queen.

Um tempo depois, o álbum The Game (1980) veio parar na minha mão (desta vez, não lembro como). A agulha pousou na faixa de abertura, "Play The Game", e eu achando péssimo. Solos de guitarra não iriam, definitivamente, me conquistar. Nem os vocais quadruplicados.

Minha relação com o Queen começou a mudar com a segunda faixa, "Dragon Attack". Peraí, tinha um balanço ali. A bateria tinha uma pegada diferente, a guitarra corria juntinho com o baixo num riff chicletaço (apesar de mais um solo que pra mim, à época, parecia desnecessário). E então, depois que minhas orelhas ficaram em pé com "Dragon Attack", veio "Another One Bites the Dust". Com um baixo totalmente inspirado em "Good Times", do Chic, uma guitarrinha funky e uma batida dançante, ali estava o Queen que eu aprendi a admirar: um grupo de músicos incrivelmente competentes, ecléticos e com um frontman impressionante.

E enquanto dava uma geral no encarte, novamente uma inscrição me chamou atenção:
"This album includes the first appearance of a synthesizer (an Oberheim OBX) on a Queen album."

Levou cinco anos pra banda ligar o "foda-se, é tudo música".


"Another One Bites the Dust": baixo pra tirar pica-pau do oco.