quinta-feira, 29 de maio de 2014

Larrú


  "Let Me Down Gently" é o primeiro single promocional que brota do próximo álbum de La Roux, Trouble in Paradise (sai em Julho). A canção foi upada dia 12 de Maio no Soundcloud, mas o vídeo só estreou semana passada. Tem algo mais, hmmm, (detesto essa palavra) "maduro" no som da Elly Jackson 2014. A faixa é uma baladona emocional com uma boa performance vocal da ruiva e um climão Eurythmics épico - no sentido sintetizador da definição - especialmente a partir dos dois minutos e meio. Ainda bem que não foi só o corte de cabelo que ela mudou.

"Let Me Down Gently": "I hope it doesn't seem / Like I'm young, foolish and green".

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sexta Feira Bagaceira: The Afros


Se o mundo pop fosse um lugar justo, em 1990 o single "Feel It" dos maluquetes The Afros tinha vendido um milhão de cópias nos Estados Unidos, e não "Ice Ice Baby", de Vanilla Ice. Divertida e altamente dançante, a faixa era George Clinton com vocais de rap na medida para as pistas.

Apesar do primeiro e único álbum, Kickin' Afrolistics, ter vendido relativamente bem (numa época em que a onipresença do Public Enemy reduzia as chances de qualquer outro grupo de rap se dar bem num nível semelhante) e o trio ter ganhado certa popularidade com o vídeo da festa sem noção em "Feel It", o debut não chegou nem a disco de ouro e os Afros não tiveram fôlego pra continuar a contar suas histórias por vezes impublicáveis (Kickin' Afrolistics ganhou o carimbo moralista Parental Advisory na capa). Talvez por culpa do próprio grupo, que adotou uma postura de "palhaços que às vezes falam sério", o que pode ter deixado o público confuso. Ou fui eu que não entendi a piada.

"Feel It": Flavor Flav faz uma pontinha.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Caras Novas: Pawws


Pawws é a cantora e compositora britânica Lucy Taylor. De formação clássica (piano e flauta) e citando Fleetwood Mac, Paul Simon e Traveling Wilburys como influência, Taylor já tocou com Kele Okereke (Bloc Party) e MGMT, tem uma voz pequenininha mas agradável e, na manga, um punhado de boas canções synthpop. Seu debut Sugar EP sai dia 16 de Junho, com quatro faixas, e a julgar pelo material disponibilizado no Soundcloud, ela se sai melhor que o último da Lily Allen.

"Give You Love": uma amostra do bom pop da moça.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Dez Perguntas Para: Tonho Crocco


Tonho Crocco não para. Cantor, compositor e músico, estreou em disco como vocalista do De Falla (no álbum Top Hits, de 1996), participou de álbuns e DVDs de Nando Reis, Papas da Língua e Marcelinho da Lua (o cover de "Ela Partiu", de Tim Maia, já é um clássico do drum'n'bass nacional). Junto com seu principal projeto, a banda Ultramen, foram cinco discos lançados, vários hits e inúmeros shows Brasil afora. Durante a parada de cinco anos com o grupo, lançou um disco solo em 2010, retornou com uma série de shows ano passado com a Ultramen e já tem álbum novo previsto para o ano que vem. Seguindo à risca a estrofe da faixa "Esse é o Meu Compromisso", Crocco "bebe, fuma, cheira e injeta poesia". Rimar é um vício. A caravana não para. 
1) Tu achas que o pop nacional ainda tem chance de voltar a cair no gosto popular ou a tendência daqui pra frente é uma cena alternativa pulverizada em artistas underground, vendendo uma quantia insignificante de discos e tocando para cada vez menos público?
Uau! Que visão apocalíptica! Bom, acho que o alternativo sempre vai vender menos que o mainstream. É justamente isso que ele representa, como cultura e alternativa à musica de grandes massas. A quantidade de publico é geralmente proporcional a boçalidade de quem paga pra ouvir lixo. E não só no Brasil. Um show de jazz nos EUA ou aqui vai ter menos ouvintes/pagantes que o show da cantora da Disney. Sempre foi assim. Acho que o público alternativo está melhorando sim. E isso é mais nobre que aumentar. 
2) A facilidade em gravar e distribuir música na Internet gera terabytes de lançamentos diários. Essa superexposição do público à artistas de qualidade duvidosa pode estar criando uma geração para a qual a música não tem mais importância?
Bobagem. Agora qualquer um pode gravar e lançar. A peneira da qualidade é o ouvinte que faz. E além do download, o streaming também é remunerado. Nem comercialmente nem culturalmente a musica vai acabar. Repito: a quantidade não tem nada a ver com qualidade. 
3) Quem faz boa música, comercialmente viável, hoje no Brasil?
Nação Zumbi, B Negão, Racionais; pra citar os grandes. Emicida e Criolo, dos novos.




4) Em relação a quando tu começaste, montar uma banda e viver de música em 2014 é mais fácil ou mais difícil?


Mais fácil. A informação e as ferramentas pra materializar a criação nunca antes estiveram tão acessíveis como agora.
5) O teu trabalho com a Ultramen foi fortemente marcado pela fusão de rap e rock com a música regional gaúcha. Esse ainda é um filão a ser explorado?
Talvez. O leque de referências da Ultramen sempre foi grande. O samba, reggae e ragga por exemplo. Estamos compondo novamente e até agora não saiu nenhum rap gaudério. Vamos surpreender as pessoas com esse novo trabalho, tenho certeza. (Nota: previsão de lançamento para 2015).

6) Qual é o status atual da Ultramen? A reunião que aconteceu ano passado foi parcial (a banda fez dois shows no Opinião, em Porto Alegre) ou há planos para um novo álbum?
Temos feito show desde a volta em março de 2013. Compondo um novo disco de inéditas e finalizando o DVD gravado em 2008.
7) Como lidar com as diferenças dentro de uma banda com tantas influências e gostos diferentes na hora de compor e gravar? Como acontece o processo de escolha do que vai pro disco?
Usamos a democracia pra decidir tudo. 
8) O teu álbum solo (O Lado Brilhante da Lua, lançado em 2010) tem predominância de funk e samba-rock, gêneros sempre presentes no trabalho da Ultramen. O que tu sentiste que deveria ser diferente musicalmente nesse projeto?
Pow, tem afrobeat também. Coisa que a Ultramen nunca fez. Ao mesmo tempo o rap, reggae e rock não fizeram parte do meu primeiro registro. Quem sabe no próximo... Acho que fiz um disco bacana e verdadeiro. Não me arrependo de nada. 

9) Certa vez num programa de uma rádio local (Atlântida FM, de Porto Alegre), tu disseste que costumava chamar a faixa "A Estrada Perdida" de "reggaezinho trouxa". Porquê? Tu te arrependes de alguma música que tenhas escrito ou gravado?

A banda toda falava isso.
É uma brincadeira; beirando uma piada interna. Sempre tiramos onda da nossa própria cara. Talvez a parte "o coração do planeta ainda chora" motivou isso. Hehehe. No mais, não mudaria uma vírgula.


10) Quais os discos/artistas que mais te influenciaram?

Tim Maia, Stevie Wonder, Luis Vagner, Beastie Boys, Pau Brasil, Cartola, Defalla... vixi, a lista é grande.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Segunda Class: Parov Stelar


O austríaco Marcus Füreder pode reivindicar para si o título de "um dos criadores do electro swing", mas ultimamente anda se repetindo.


Seu recém lançado EP Clap Your Hands não arrisca mais do que ele tem gravado recentemente sob seu alter ego Parov Stelar. Para a faixa-título, Füreder não mexeu no time que vem ganhando pistas há mais de uma década: a flamejante mistura de house com samples de swing jazz circa anos 30 (nesta faixa, Stelar emprestou de Glenn Miller). Mas a coisa melhora quando ele larga o sampler e investe no formato canção, propriamente. "The Sun", com vocais inacreditáveis do neozelandês Graham Candy é a melhor faixa aqui, com lindo arranjo de cordas e piano. Mais dois números completam o EP, "The Duke" e "The Speed Demon", boas faixas, mas que variam minimamente em cima das ideias lançadas por Marcus Füreder desde seus primeiros singles.

"The Sun": acredite, o vocal é masculino. 

domingo, 18 de maio de 2014

Reeducation For The Infants


Em 2014, o trio synthpop Camouflage completa 30 anos de atividades. Provavelmente a contragosto da banda, a Polydor achou que tinha a ver jogar mais uma coletânea dos alemães no mercado - The Singles já é a quarta. Remasterizadas digitalmente e organizadas em ordem cronológica, as 20 faixas são uma boa introdução ao som do grupo e um item indispensável na coleção dos admiradores fervorosos de technopop.
Idealistas e cheios de ideias ingênuas sobre política, o Camouflage teve bons momentos no começo de carreira, mas aderiu tardiamente ao tipo de som a que se propôs. O synthpop já estava em declínio quando o grupo teve o primeiro (e até agora, maior) hit, "The Great Commandment", de 1987.


Boas canções como a delicada "That Smiling Face" e "Love Is A Shield" (com seu memorável som de oboé), conferiram popularidade ao Camouflage, assim como a ótima "Neighbours" (1988) - apesar da estrutura muito parecida com "New Dress", do Depeche Mode (1986).



A partir dos 90, o Camouflage se perde. Experimentou com bateria acústica e músicos de estúdio (no álbum Meanwhile, de 1991), volta radicalmente à eletrônica no álbum seguinte (Bodega Bohema, 93) e tenta pegar carona em sons então mais atuais, como o techno (Spice Crackers, 95), mas os acertos são cada vez mais raros e hits, nem pensar. Só em 2003, o Camouflage volta a lançar um bom single ("Me And You").



Inicialmente programado para 2014, a data de lançamento do novo álbum Greyscale foi alterada para 13 de Fevereiro de 2015, conforme comunicado no site da banda.

"Love Is a Shield":

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Banco de Reservas


Gold Zebra é o Chromatics da semana. Enquanto o titular não volta com o sucessor do incensado Kill For Love (2012), o duo canadense acaba de estrear com um álbum autointitulado pela gravadora Visage Musique (mas poderia ser pela Italians Do It Better).

O disco não é lá muito animador, o que pode ser motivo de salivação pra galera da camiseta do Unknown Pleasures. Nem tão excêntrico quanto o Glass Candy nem tão New Order quanto o Chromatics, o Gold Zebra é eletrônico (no sentido synthpop do termo) e enxuto. O tecladista JP Richard abusa de notas com tons menores (o que, obviamente, deixa o disco com o tempo nublado em todas as dez faixas) e não sai do esquema italo-disco das baterias (bumbo-caixa-bumbo-caixa). Sintetizadores lúgubres embasando as composições, algumas letras cantadas invariavelmente com um abatimento blasé pela misteriosa vocalista Julie, lembram os poemas lamentáveis redigidos por análise combinatória que escrevi pra um trabalho de Literatura, no primeiro ano do ensino médio. Sente o dramalhão de "When Words Fail": "I'm on my own / I feel this way / I'm all alone / it's all the same / the shadow wings fading away / I feel so strong / now I'm move on". Uh, que triste.

"Love, French, Better": bilíngue.

terça-feira, 13 de maio de 2014

10 Perguntas Para... Renato Lopes


O DJ paulista Renato Lopes é nome de proa na cena eletrônica brasileira. Começou a discotecar em 1986, passando por clubes como Madame Satã e Nation Disco Club (nos anos 80 e começo dos 90), Sra. Krawitz e Columbia (anos 90), até montar a agência Smartbiz (que dirigiu no período 2000-2010), representando DJs e produtores como Mau Mau e Digitaria. Já produziu, remixou, fez trilhas para desfiles, apresentou programas de rádio (Energia FM) e Web (SeeTheSound TV)... e não para de tocar. Lopes atualmente é residente no clube D-Edge (na festa Mothership, aos sábados) e Caravana da Coragem, na Trackers (eleito melhor clube de São Paulo ano passado pelo júri da Folha de São Paulo). Renato ainda é convidado regular da festa Cio, no Lions Nightclub e do after hours Insomnia. Tem ainda um projeto de Back 2 Back com o inglês Murray Richardson, chamado Electrica Salsa, que é itinerante. 

E, com a mesma simpatia e apuro que irradia da cabine, ainda arrumou tempo pra responder meu mini-questionário. 

1) Porque o Brasil ainda não emplacou um artista de dance/eletrônica em um nível Chemical Brothers da cena?
Acho que temos nomes que conseguiram uma grande projeção internacional. Marky e Gui Boratto são sem dúvidas os de maior evidência, seguidos pelo Renato Cohen, Pet Duo, Anderson Noise e Mau Mau. Quanto a alcançar o estágio do Chemical Brothers, acho que estes, assim como tantos outros artistas ingleses, contaram com o apoio da mídia especializada, que na Inglaterra sempre foi muito consistente. Ela os impulsionou no momento em que a cultura das raves, principalmente na Europa, cresceu e deu grande suporte. Muito do que se vê hoje em dia foi derivado disso. Não acho impossível que possam aparecer novos artistas brasileiros que desfrutem de um destaque maior, mas dependerão, não só do seu talento, mas também de circunstâncias favoráveis para esse momento.



2) Lançamentos de dance enchem uma lista telefônica diariamente. Como esses artistas podem tornar a atividade rentável sem fazer shows e com o download ilegal irrefreável?
Mesmo antes da revolução do MP3, a produção independente sempre inundou as lojas de discos. Mais do que no passado, hoje há uma maior facilidade em estabelecer um selo digital e não precisar passar por algum processo de seleção, além do seu próprio. Assim, há uma quantidade infinitamente maior de música circulando, boa e ruim. O modelo de comercialização que existia datou com o download ilegal mas, inegavelmente, ele é parte desse processo que ainda tentam decifrar. Viver exclusivamente de produção sem depender de apresentações pode ter se tornado mais difícil, mas não é impossível. Em tempos de redes sociais, vale a busca por formas criativas de como otimizar esse cenário. Não tem mais receita certa, precisa cada um criar a sua. A música ainda é o cartão de visitas de um artista.

3) O Isaac Hayes falou certa vez que estava preocupado com o uso do sampler pela geração de músicos da virada dos 90 pros 2000, questionando algo como “se continuar assim, quem eles vão samplear daqui vinte anos? Os samples dos samples?”. Você acha que o álbum Random Access Memories do Daft Punk tem algo a ver com isso, sobre provar que é possível fazer música de pista acessível atualmente sem recorrer a técnicas de sampleamento?

Uma parte da composição musical, independente da tecnologia que possa lhe dar suporte, pode ser baseada em trabalhos anteriores. Assim, antes do sampler existir, já havia a música incidental. No universo das pistas, pop ou underground, o sample perpetua certas referências e pode criar equívocos, como quem acha que determinado trecho seja original daquela música que está escutando. Mas isso também já acontecia anteriormente, quando trechos de peças clássicas eram citados em músicas pop. Mas há quem use o sampler de uma maneira mais criativa, além de se valer de trechos óbvios ou obscuros de outras músicas. Acho que Matthew Herbert é um bom exemplo, que busca por sons orgânicos, fora de uma coleção de discos antigos.


4) Independente do gênero, qual é o disco mais bem produzido da história?

Não sou um grande conhecedor de muitos estilos musicais, meu foco sempre foi mais o eletrônico, principalmente som de pista. O álbum que considero uma obra-prima ainda é sem dúvida o Blue Lines, do Massive Attack.

5) Outra citação: José Roberto Mahr disse em uma ocasião que (pra ele) a mixagem não era o mais importante, “senão você vira escravo dos beats”. Com a profusão de softwares existentes pra facilitar a vida de quem toca, você acha que técnica ainda é importante ou não vai demorar muito pra mixagem sair com a força do pensamento e o que vale é o que sai das caixas?

Acho que ainda vale muito uma boa mixagem, ela pode criar momentos de grande efeito numa pista. Mas o Mahr tem razão, quanto a se tornar um escravo dos beats, cabe a cada um saber se valer desse recurso. Ser criativo, arriscar e surpreender as pessoas, ainda é o que se espera de um DJ. Os softwares que estão no mercado e que cada vez mais "facilitam" a vida, na verdade são ferramentas que estão aguardando serem bem exploradas, além do que se faria comumente com um par de toca discos. Você pode utilizá-los apenas para tocar uma música após a outra, o que realmente é muito pouco. Mas também pode tirar o máximo de potencial criativo deles e isso aí demonstra a técnica a ser desenvolvida. Ainda, por um bom tempo, haverão olhos críticos para os softwares, afinal eles se opõe à discotecagem clássica, que tem o seu charme e elegância.


6) Quando não estás discotecando, o que tu ouves em casa?
Gosto muito de música clássica, mesmo sem ser um conhecedor. Amigos mais próximos sempre me apresentam pop de qualidade ou alguma faixa de MPB bacana. Também confiro o que uma pessoa ou outra publica no Facebook. Em casa, gosto de ouvir música em volume baixo a maior parte do tempo, obviamente como uma compensação aos anos de som alto.


7) Já se arrependeu de ter tocado alguma música?

Inúmeras vezes! É parte de se correr o risco numa pista, principalmente quando ainda não conheço direito determinado single ou artista, mesmo sabendo que o som é bacana. Algumas vezes foi a hora errada, em outras a música realmente não era boa e acabava descartando ela do case. Há festas em que esse exercício é mais tranqüilo e as pessoas estão mais abertas. Mas também já tive que virar rapidamente para outra música para não perder a pista. 



8) Fora o projeto Que Fim Levou Robin? (com o DJ Mauro Borges), existe algum outro que tu tenhas participado ou produzido? Tu pretendes voltar ao estúdio?

Trabalhei no passado com vários produtores, como Dudu Marote, Apollo, Suba, Renato Garga, Eraldo Palma, Franco Junior e Manoel Vanni. Atualmente faço parceira com o Dunwich, um DJ e produtor francês que vive em São Paulo. Nos damos bem no processo de criação. Temos alguns remixes lançados, mas não temos um ritmo de produção constante e em grande volume, nossas agendas não nos permite.

9) Dois Top 5: um atual e um eterno.

Atual:
Matthew Herbert - "It's Only" (DJ Koze Remix) 


The Pittsburgh Track Authority & Nice Rec - "Get Out Of Your Head"


Soulphiction - "When Radio Was Boss" (Original Mix)


Avatism - "Serpentine" (Clockwork Remix)


Optokoppler - "Function" (Sneaker My Puss 7er Remodel)


Eterno:

The Beach Boys - "God Only Knows"


Carpenters - "We've Only Just Begun"


Bee Gees - "Stayin' Alive"


Massive Attack - "Unfinished Sympathy"


The Orb - "Little Fluffy Clouds" (Live Album 1993 - Recorded in Toyko)


10) Pra onde vai a música eletrônica?

Fiz a mesma pergunta para a Ellen Alien e endosso sua resposta: o futuro da música eletrônica está nas mãos de quem domina a tecnologia em favor da criatividade.



segunda-feira, 12 de maio de 2014

Segunda Class: Skalpel


Skalpel são Marcin Cichy e Igor Pudlo, DJs e produtores de Wroclaw, Polônia. A onda deles é jazz, mas não é uma trip de músico: a dupla sampleia tudo de vinis poloneses de décadas passadas e salpica algumas batidas aqui, uns loops ali e em alguns momentos, reforça os grooves com sintetizadores, pra recriar o jazz à sua maneira.

O duo assinou com a gravadora Ninja Tune (de propriedade do Coldcut) no começo dos anos 2000, embora esse Simple EP tenha saído no começo de Maio pelo selo PlugAudio.

As quatro faixas de Simple são uma cinematográfica viagem ao passado, mas com embalagem de future jazz. Com recortes precisos (os samples de "On the Road" são brilhantes) e clima enfumaçado ("Soundtrack"), o Skalpel pratica o sampling criativo, coisa rara para os fatigados usuários do Akai MPC de hoje em dia.

"Simple":

domingo, 11 de maio de 2014

Longa Vida Ao Rei


Menos é mais. A lógica invertida se aplica ao segundo álbum póstumo de Michael Jackson, Xscape (o primeiro é Michael, de 2010). O disco é uma coletânea com oito canções inéditas gravadas entre 1983 e 1999, posteriormente retrabalhadas por um time estelar de produtores e previsto para ser lançado dia 13 de Maio. O paradoxo aqui é que as versões originais são superiores às regravações. O senso comum levaria a crer que gente como Timbaland, Babyface e Stargate deixaria faixas que estariam aparentemente datadas - como o R&B "Loving You" - com uma cara nova e atual. Numa avaliação apressada, a música soa presa ao começo dos 80, mas como atualizar a atemporalidade da beleza de uma obra que nasceu com o selo de qualidade de um cara com uma sensibilidade pop fora do normal, como Michael Jackson? Encorpar os graves e substituir a bateria por uma batida encontrável em qualquer produção R&B genérica, não passa de uma simples adequação ao público que consome T.I. e Demi Lovato. "Loving You" seria perfeitamente aceitável em 2014 se a parceria entre Jackson e Daft Punk tivesse tido tempo de acontecer e a dupla francesa a tivesse produzido, o que prova por A mais B que o pop é, mesmo, cíclico.

A "Love Never Felt So Good" original (de 1983) vem despida de adereços: só piano e estalar de dedos levando a melodia vocal cantada com um sorriso no rosto pelo então maior artista do mundo. Nesse caso, um Timbaland mais contido jogou uma bateria domesticada e um arranjo de cordas digno (há ainda uma versão com participação igualmente econômica de Justin Timberlake). A versão beta de "Slave To The Rhythm", com a eficiência charmosa dos teclados discretos e a caixa seca, deixam a voz de Jackson muito mais a vontade do que o esforço da dupla Timbaland e Babyface e sua complexidade percussiva.

Slave To The Rhythm (Original Version):

Em "Chicago", os proeminentes hi-hats e o sutil arranjo de sintetizadores com timbres de cordas originais excedem novamente a regravação, enxertada com loops e rufos de bateria. Surpreendente é a versão para o folk clássico "A Horse With No Name" (hit de 1972, do America), transformada em "A Place With No Name". Jackson aproveitou o ótimo riff de violão, adaptou a letra e entre vários "yeah" e "woah-oh" característicos, deixou o groove irresistível - muito melhor que o mix do Stargate, que limou os violões e matou a música. 

Não sei qual seria a viabilidade comercial, mas acho que o mais honesto seria lançar um Xscape com o material original e depois um álbum de remixes, aí sim, com participação dos produtores que trabalharam na revisão dos faixas. Se bem que honestidade, na indústria musical...

Fica a obviedade em constatar que um artista que tem oito sobras de estúdio desse nível, merecia mesmo o título de Rei do Pop.

"A Place With No Name (Original Version)": genial.

sábado, 10 de maio de 2014

Música da Semana: ATTAR!


Synthpop mal das pernas, repetitivo, monótono... mas aí, do nada, aparece o produtor e DJ belga Renaud Deru (ATTAR!) e derruba o quarteirão inteiro.

O que é seu single “45 Days”, que saiu essa semana pela Eskimo Recordings? Absolutamente fantástico. Bateria obsessivamente dançante, linha de baixo furiosa, uma tempestade de arpejos em espiral, vocais sussurrados num francês sexy por natureza, sintetizadores épicos. 

Esqueça os remixes de Rob Made e Douze, descarte também a versão em inglês: o original é inigualavelmente dramático e poderoso o suficiente pra se tornar hit de pista sem precisar de revisões.

Achei que não se faziam mais canções como essa hoje em dia. Felizmente, me enganei.

As quatro versões de "45 Days":

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Sexta Feira Bagaceira: Début de Soirée


Não que eu esteja duvidando do seu conhecimento sobre música pop, mas acho difícil alguém lembrar dessa. Eu mesmo, só conheço porque tenho a faixa numa coletânea em vinil de uma FM que nem sei se ainda existe (Universal FM, de Porto Alegre). O duo francês Début de Soirée vendeu mais de um milhão de cópias desse single em 1988, hit na Europa, mas desempenho modesto no resto do mundo. O vídeo é um tanto constrangedor, mas, eram os 80, afinal. "Nuit de Folie", no entanto, compensa: é um synthpop divertidíssimo, com o charme da letra em francês. De repente, na pista, todo mundo sabia entoar o "Et tu chantes chantes chantes ce refrain qui te plait" do refrão.

"Nuit de Folie": refrão ganchudo.  

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Dubrave


Já tinha gostado bastante de "There Is No Other Time", que saiu esses dias e hoje o Klaxons aparece com uma faixa novinha, "Show Me A Miracle". Com andamento de dubstep e refrão popíssimo, esse próximo álbum do grupo, Love Frequency (sai em 16 de Junho) vai criando uma expectativa bem positiva. Pra mim, ao menos.

"Show Me A Miracle": sem bass drops, ainda bem.

Perdidos Na Selva


O Tears For Fears nunca acabou, definitivamente. Curt Smith e Roland Orzabal andaram um período afastados, ambos gravaram solo, Orzabal assumiu sozinho o nome da banda e lançou dois discos entre 1993 e 1995, até a reunião no começo dos anos 2000 e no subsequente Everybody Loves a Happy Ending, de 2004.


Ready Boys & Girls? é o primeiro single da dupla, desde 2006. Mas não se anime, porque é uma edição limitada a 3 mil cópias em vinil 10 polegadas, composto de covers e feito especialmente para o Record Store Day 2014.

Temos aqui "My Girls" (dos maluquetes do Animal Collective) numa versão um tanto mais acessível que o original, mas que mantém o arpejo psicodélico do sintetizador. A soporífera "Boy From School" (Hot Chip), aparece numa levada mais, hm, "orgânica", comparada com a da banda de Joe Goddard - que eu, sinceramente, não entendo a pagação de pau de tanta gente. Já "Ready To Start" (Arcade Fire) é o crime-mor do single. Aquela pegada quase punk dos canadenses virou um jungle sinfônico que prova que esse drum'n'bass ordinário inventado pela dupla nunca foi e nunca vai ser a praia do Tears For Fears. Eles tem todo direito de gravar o quiserem, claro. Mas deviam ter vergonha, essa ficou horrível.

"Ready To Start": Orzabal e Smith perdendo a mão.

terça-feira, 6 de maio de 2014

10 Perguntas Para... Gaía Passarelli


Gaía Passarelli ajudou a fundar, em 1997, o fundamental site rraurl, um dos pilares da cena eletrônica nacional. Deixou-o em 2011 para cuidar do Goo, na MTV. Com o programa cancelado antes do ano terminar, Gaía ficou na MTV mais dois anos fazendo o MTV1, na TV e internet, que  trazia coberturas de festivais no Brasil e no exterior. A MTV Brasil fechou em setembro do ano passado e desde então Gaía tem publicado textos como freelancer e falado de música semanalmente num canal do Youtube chamado Gato&Gata, integrando ainda a equipe do site de viagens MatadorNetwork e editando a versão brasileira do mesmo em MatadorBrasil. Seu blog atual é o gaiapassarelli.com, e trata, basicamente, de música e viagens. Ufa.




1) Qual a relevância de canais como VH1 e MTV, hoje em dia?
Não sei dizer. Mas imagino que para uma televisão comercial a questão seja muito mais entreter do que ter "relevância".

2) Tu achas que o pop nacional ainda tem salvação, ou a tendência daqui pra frente é uma cena alternativa pulverizada em artistas underground, vendendo uma quantia insignificante de discos e tocando para cada vez menos público?
Claro que tem "salvação". Existem bandas boas por aí, é só procurar ouvir. É difícil vencer a barreira do comercial, mas é possível e acho que estamos muito perto de ver bandas boas tocando para público grande. Acredito que existe uma necessidade do público de encontrar algo diferente.

3) Tu foste uma das fundadoras de um dos primeiros sites dedicados à música eletrônica no Brasil (o rraurl), onde trabalhaste no período 1997/2011. Como conciliar jornalismo musical independente e captação de anunciantes para o site?
Não sei como é, porque não trabalho com isso. Sei que pra mim, na época, foi muito difícil. Tanto que deixei o rraurl na virada de 2010/2011. Eu não queria (e continuo não querendo) lidar com essa parte de captação, publicidade. É uma linguagem que não domino e pela qual não tenho nenhum interesse.

4) O rraurl atualmente está inativo (ao acessar, é possível ver o recado "rraul is dead" na página inicial). Qual a contribuição deixada pelo site para a cena eletrônica nacional?
O fato de você estar me mandando essas perguntas já responde. É enorme. Tanto que deixei o rraurl há quatro anos e continuo respondendo sobre ele.

5) Qual a tua opinião sobre a crítica musical de hoje no Brasil?
Será que existe crítica? Quem realmente faz crítica e não o apanhado comum de notícias chupinhadas dos veículos gringos e requentadas da caixa de email? Eu acompanho alguns blogs que gosto bastante e que acho que tem opinião forte e identidade, mas é exceção. No geral, nos veículos grandes, o que rola é mais do mesmo e nivelado cada vez mais por baixo. Tô fora.

6) A facilidade em gravar e distribuir música na Internet gera terabytes de lançamentos diários, pouquíssimos dignos de nota. Tu achas que essa superexposição do público à artistas de qualidade duvidosa pode estar criando uma geração para a qual a música não tem mais importância?
Não. Música merda sempre existiu, em todas as épocas. De tanto em tanto tempo aparecem artistas capazes de romper com isso, mas o que tem "qualidade duvidosa" pra você pode ser muito bom pra mim e vice-versa. Não sei se concordo com isso de "qualidade", principalmente se pensarmos em coisas que causaram impacto duradouro. Será que quem era fã do Clash em 77 tava preocupado com a "qualidade" da banda? Acho que o que importa é uma música feita com alma, com o coração. Meu pai gosta de música barroca e não vê qualidade nenhuma no New Order, que é minha banda preferida. Quem sou eu ou ele pra dizer se o MC Guimê tem "qualidade"? Ninguém.

7) Quem faz boa música hoje, no Brasil?
Garotas Suecas, Vespas Mandarinas, MC Guimê, Criolo, Thiago Petit, Apanhador Só, Karina Buhr, Carrot Green, China, Soul One, Pazes, Jaloo, Psilosamples, Vivendo do Ócio, Test, Malditos Skatistas. Deve ter muito mais, mas isso é o que eu lembro de cabeça agora.

8) Trabalhar com jornalismo musical é mais fácil ou mais difícil hoje, em relação a quando tu começaste?
Mais difícil, claro, não existe veículo. Veículo que pague o suficiente para que um repórter se sustente então, só na imaginação. Existe toda uma geração que não tem a chance de se sustentar escrevendo sobre música. É preciso equilibrar vários pratos ao mesmo tempo e praticar o tal jornalismo musical quando dá.

9) Independente do gênero, qual é o disco mais bem produzido da história?
O Sgt. Pepper's, dos Beatles? O A Love Supreme do John Coltrane, que foi gravado ao vivo? O Rumours do Fleetwood Mac? O Yeezus do Kanye West? Alguma obra de música erudita que não conheço? Não acho que dá pra responder.

10) Um nome nacional e um internacional: quem e porquê tu contratarias se tivesse uma gravadora?
Nos dois casos: alguém que arrastasse multidões para shows. Gravadora só pode ser reflexo do gosto do dono se tiver alguém botando dinheiro na história. Se tem uma coisa que aprendi é que um negócio, qualquer negócio, precisa ser comercialmente viável.