segunda-feira, 29 de abril de 2013

Segunda Class: Juan Atkins


 
Juans Atkins - um dos pilares do techno de Detroit - vai lançar em Junho o álbum Borderland, parceria com Moritz von Oswald - outra figura altamente influente no gênero, mas do lado germânico. Com oito faixas (três delas ultrapassando os dez minutos), Borderland não foi feito pra pista de dança. É techno minimal contemplativo com generosas doses de dub. Bom pra ouvir no sofá.

"Electric Garden" (Jazz In the Garden Mix): keep calm.

domingo, 28 de abril de 2013

Shooting Star


É foda ter que malhar um cara que eu admiro tanto quanto Tim Simenon, mas seu último single é decepcionante. Wandering Star saiu em Março e precede o novo álbum do Bomb The Bass, In The Sun, feito em parceria com Paul Conboy. Do ponto de vista técnico, Simenon continua muito acima da média - "Wandering Star" é um dub techno de bateria esparsa e pulsações de grave enérgicas - o problema são os vocais chochos e sufocados de efeito de Conboy, que se perdem no espaço sideral, indo pra bem longe do ouvinte. É um bom experimento, mas talvez uma péssima escolha para single.

"Wandering Star": pouco brilho.
 

sábado, 27 de abril de 2013

O Oráculo Estava Certo

Achou exagero quando em 2009 chamaram o Delphic de "novo New Order", né? O trio inglês debutou no comecinho de 2010 com Acolyte - que entrou pro Top 10 britânico - ganhou uma certa moral com a imprensa (especialmente a BBC) e arrebatou alguns fãs em festivais mundo afora. Ah, você nem lembra do Delphic? Não se culpe. Há poucos dias que fiquei sabendo do seu segundo disco, que saiu em Janeiro. Collections vem com a mesma indecisão do primeiro disco: guitar band com batucadas dance, ou banda dance com guitarras intrusas? Não importa. A única constatação é que o chavão "não existe hype sem música que preste" se aplica ao Delphic. Espero que vá de mãos dadas com o Two Door Cinema Club pro lugar de onde não deveriam ter saído: inferninhos indie com festas estranhas e gente esquisita.

"Baiya": nem talento, nem inspiração.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Laid Back


Reggatta de Blanc, o segundo disco do The Police (de 1979), já dava a pista: reggae de branco. A pseudo-tradução francesa de Sting era perfeita pra sintetizar aquele momento em que o ritmo jamaicano era fundido com rock e pós-punk por moleques ingleses, resultando em discos memoráveis do próprio Police, de bandas do movimento 2 Tone ou do Clash.


Não que o Laid Back tenha algo a ver com isso. A dupla dinamarquesa começou a experimentar com eletrônica no meio dos 70 até chegar ao primeiro disco em 1981, sucesso em sua terra natal. O estouro mesmo veio em 1983, com o single "Sunshine Reggae": número um em mais de vinte países. Totalmente descompromissado das mazelas do mundo, letra simplória e positivista ("o brilho do sol, reggae do brilho do sol / deixe as boas energias vibrarem!") e instrumental pendendo pro dancehall - baseado em baterias eletrônicas e sintetizadores - o Laid Back provou que dois branquelos de Copenhagen podiam sim fazer reggae sem necessariamente ter raízes na ilha. Curiosamente, nos Estados Unidos foi o lado B de "Sunshine Reggae" que tornou-se o maior hit do duo: o funk sintético "White Horse" invadiu as pistas de dança com toda sua ambiguidade lírica ("white horse" é uma gíria para heroína). Hit inesperado, a canção foi lançada logo em seguida como single, chegando ao número 26 do Hot 100 da Billboard, além de figurar nas paradas Dance e Black. Alvo de samples e inspiração para vários artistas (Bernard Sumner do New Order homenageia a forma meio cantada meio falada do estilo vocal do Laid Back em "Fine Time"), o grupo continua na ativa. Seu álbum mais recente é Cosyland, do ano passado.

"Sunshine Reggae": por que se preocupar?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

The Good, Le Mal

  

 O produtor britânico Toby Tobias continua sua saga house/disco instrumental. Boas idéias dispersas em três faixas inéditas de seu lançamento mais recente, Pathfinder EP. Recortes vocais extasiados, criatividade nas programações de bateria e baixos emborrachados com alto grau de elasticidade.

"Backbeat":




 

Já o francês Surkin - que lançou o divertidíssimo álbum USA em 2011 e a espetacular "I Want You Back" (com Todd Edwards nos vocais) ano passado - desta vez decepciona com Advanced Entertainment System EP. Peca pelo excesso de referências house noventistas perdidas em composições fracas ("Lakeside", "Warehouse") e tentativas frustradas de encontrar um som que não guarde muita semelhança com as produções atuais ("Tiger Rhythm"). No final, ele acaba se rendendo ao dubstep ("Stronger "), que realmente não é sua praia. Talento existe, Surkin, tenta de novo.

"Tiger Rhythm":


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cavaleiros da House

No currículo, mais de uma dúzia de singles e dezenas de remixes (nomes vão desde a farofada de Yolanda Be Cool até gente respeitada como Tensnake). Não é nada que vá mudar os rumos da dance music daqui pra frente, mas "I Just Want" dos suíços Round Table Knights tem um bassline muito eficiente. Curti o hi-hat bem marcadinho e os agogôs que vão repicando freneticamente durante a faixa. Eficácia deep house.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Saldão


Pra encerrar a série "Grandes Lançamentos do Record Store Day", dá uma ligada nesse sete polegadas com a parceria entre o ex-vocalista do Screaming Trees e Moby.


Só mesmo o particularíssimo vocal rouco e sorumbático de Mark Lanegan pra transformar uma canção recente de Richard Melville Hall em algo digno de nota, como "The Lonely Night". Moby anda pisando na bola, mas esse single é incrível. E ainda tem um remix do Photek, que dá uma polida nas baterias e salpica uns synths na medida certa. Dói de tão bonito.
"The Lonely Night": épica.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Segunda Class: Brian Eno, Grizzly Bear e Nicolas Jaar


E esse Record Store Day, hein? O que trouxe de coisas inusitadas (e boas) é uma grandeza. Tipo esse doze polegadas que traz no lado A o pioneiro da ambient music, Brian Eno ("Lux") e no B os maluquetes do Grizzly Bear ("Sleeping Ute"), as duas retrabalhadas por Nicolas Jaar. Eno flutua no espaço com sua "Lux", enquanto Jaar engaveta ruído, silêncio, minimalismo e cristais sintetizados que se partem aos milhares na faixa. Já "Sleeping Ute" mantém os riffs originais, só que virados do avesso. A canção ganha uma bateria condutora e uma senhora linha de baixo. Perfeito pra segunda.

Grizzly Bear, "Sleeping Ute" (Nicolas Jaar Remix):

domingo, 21 de abril de 2013

Reggae Na Velocidade do Som


É bom rever esse conceito que diz que o único reggae capaz de rivalizar com a matriz jamaicana é o inglês. O duo francês Raggasonic vem prestando bons serviços ao gênero desde meados dos 90. Formado por Big Red (Stéphane Joaquim) e Daddy Mory (Mory Samaké), a dupla já lançou três álbuns explorando todas as possibilidades da tecnologia pra turbinar seu reggae, competente o bastante pra ficar em pé de igualdade com qualquer exemplar da ilha. O terceiro disco - Raggasonic 3 - saiu em Outubro do ano passado e é dele esse single que a dupla lança agora, Mon Sound.


Uma tijolada. O raggamufin "Mon Sound" tem vocais rapeados na velocidade do som, teclados nervosos e aquele baixo de tirar pica-pau do oco. É uma vibe urgente, frenética, excessiva, compulsivamente dançante. As faixas extras trazem um remix de "Mon Sound" com bumbo reto e ênfase nas baixas frequências por Lord Zeljko & Manudigital, mais a versão original de "Monkey Star" (que não saiu em Raggasonic 3). Ainda não sei em que posição, mas já está no meu Top 25 do ano.

"Mon Sound": raggamuffin à francesa.

sábado, 20 de abril de 2013

Lysergsäurediethylamid


No mês em que o LSD completa 70 anos desde sua descoberta, o MGMT - que já foi uma banda legal - fornece uma trilha bem adequada. Psicodelia à Jefferson Airplane, o duo vêm tocando "Alien Days" nos shows há um ano. A faixa vai estar no próximo álbum da dupla, e sai exclusivamente em cassete (!), numa edição limitada lançada no Record Store Day, celebrado hoje. Com ou sem drogas, essa música do MGMT não causa nenhum outro efeito que não seja sono.



"Alien Days", versão Lollapalooza Brasil 2012.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Mysterious Art


Em 1988 o tecladista alemão Michael Krautter compôs uma canção instrumental chamada "The Omen". A faixa - house music com inclinação synthpop e embalagem darkwave - ganhou popularidade no circuito de clubes germânicos, chamando atenção do DJ Mike Staab e da gravadora CBS (atual Sony). Contrato assinado, nome escolhido, e vocais adicionados (a ótima Nicole Boeúf foi a escolhida), e o Mysterious Art lança oficialmente o single em Maio de 1989.  


"The Omen" ficou nove semanas em primeiro lugar na Alemanha e vendeu quase 500 mil cópias somente naquele país. Na ordem do dia, o grupo chegou a abrir todos os shows de Madonna (na Blonde Ambition Tour) em terras germânicas. No Brasil, a faixa foi licenciada na primeira edição da série Festa Mix, em 1990 - mixada pelo DJ Marcelo Mansur, o Memê - e ajudou o Mysterious Art a transcender o sucesso das pistas e chegar aos playlists das maiores FMs do país. Os singles subsequentes não obtiveram o mesmo sucesso, mas depois de "The Omen", eles nem precisariam fazer mais nada.

"The Omen": sinistra e incrivelmente dançante.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ambiente-se


Curte sons de vento na planície? Cascatas de sintetizadores que te fazem imaginar o céu azul infinito desse mundão de meu Deus? Efeitos que soam como uma floresta equatorial onde criaturas pulam de um lado para outro do fone de ouvido? Então temos três lançamentos que foram feitos pra você. E no caldeirão étnico desta world music contemporânea ferve downtempo, ambient house, leftfield, dub techno...

Banco de Gaia > Apollo


O britânico Toby Marks começou sua carreira tocando bateria numa banda de heavy metal até descobrir o sampler em 1989 e enveredar pelo mundo dos bits. Apollo é seu nono álbum e vai de cânticos um tanto assustadores ("Lamentations", "Acquiescence"), passa por techno de linhagem germânica ("Eternal Sunshine") e aterrissa na placidez oriental de faixas belíssimas como "For Such A Time" e "All Sleeping".

A incrível "For Such A Time", do Banco de Gaia:




Deep Forest > Deep Africa
  


O Deep Forest é um projeto de dois músicos franceses, Michel Sanchez e Eric Mouquet. Na cola do sucesso do Enigma, estourou em 1992 com o single "Sweet Lullaby" (mais de um milhão de cópias vendidas). Seus álbuns seguintes mantiveram as altas cifras, apesar do cheiro de picaretagem no ar. Acabaram de lançar Deep Africa, numa série que explora sons locais (já saíram Deep Brasil e Deep India). Em alguns momentos, o instrumental aproxima-se da dance genérica (techno em "Yelele", dubstep em "Dub Africa"), mas no geral esses vocais ininteligíveis cantados em sabe-se lá quais dialetos compensam as escorregadas.

Momento de extrema beleza: "Wasis".




Locust > You'll Be Safe Forever


Musicalmente, Mark Van Hoen descende de pioneiros dos 70 como Klaus Schulze e Jean-Michel Jarre, apesar de ter lançado seu primeiro disco somente em 1993. You'll Be Safe Forever é seu primeiro álbum em 12 anos. O disco passeia por vocais abstratos e beats pesados ("Strobes", "Just Want You"), timbres nostálgicos ("The Worn Gift"), serenidade progressiva ("Remember") e tensão pura (a enigmática "Corporal Genesis"). É o mais cabeçudo dos três, mas dá pra ouvir sem muito esforço.

"Strobes": vocais misteriosos.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Amor Incorporado


Da série "Bons Álbuns Que Você (Ainda) Não Ouviu em 2013": o Inc. é a dupla de irmãos de Los Angeles Andrew e Daniel Aged. Seu debut No World saiu em Fevereiro e condensa em quarenta minutos um R&B sutil de vocais sussurrados e fogo brando em canções sensuais (e não explicitamente sexuais). Totalmente composto, gravado e produzido pelo duo, No World mostra em 11 faixas uma produção esmerada, texturas delicadas e beats estilhaçados. Saiu pela 4AD - tradicional gravadora independente inglesa que abrigou bandas gótico/etéreas dos 80, mas só viu a cor do dinheiro com o estouro do paredão de samples "Pump Up The Volume" do M/A/R/R/S, em 1987. É soul de branco, mas sem o ranço indie de bandas como o The xx. Ótimo à meia luz.

"5 Days": devagar, com carinho.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Tyler, The Inconvenient

Wolf, terceiro e recém lançado álbum do bajulado Tyler, The Creator faz algum sentido pra um ouvinte médio como eu? Não. Musicalmente tem lá alguns momentos jazzy de pianinhos e cordas doces sustentando um rapper sem nenhum pudor verbal, mas no geral é arrastado, chapado, com beats sujos e samples bem discretinhos: "Pigs" desacelera a inesgotável "Amen, Brother" do Winstons (1969), enquanto "PartyIsntOver/ Campfire/ Bimmer" empresta alguns elementos do jazz relaxado "Invintation", de Cal Tjader (1971). A única boa surpresa aqui é a base de "Lone", toda sampleada de "Jornada", composta por Roberto Menescal e executada pelo mestre da bateria Wilson das Neves em 1969. As letras são um caso à parte. O boca suja Tyler começa e termina Wolf distribuindo gratuitamente um sem número de "fuck", em todas as variações possíveis: fuckin' isso, fuck off aquilo, fucked up, motherfucker... que ele descarregue toda sua raiva e frustração nesse disco, tudo bem - melhor do que descontar em coisas que a polícia não iria gostar - o problema é que eu nem saco de inglês o suficiente pra ver pra onde Tyler aponta sua metralhadora verborrágica, ou se as rimas são convincentes. Bom, aí obviamente é problema meu. Mas isso só prova que a música de Tyler não é pra mim, então não espere eu pagar de malaco das quebrada e dizer que é um puta álbum de rap. O que eu não entendo é a babação de ovo em cima de um cara que não traz absolutamente nada de novo pra um gênero tão maltratado ultimamente. Fora que essa capa é uma das piores que eu vi nos últimos anos. Se bem que pra geração MP3, tanto faz.
"Lone": espero que Menescal e Das Neves tenham recebido por isso.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fã Número Um


Craque do pop nacional, Guilherme Arantes acabou de lançar disco novo. Condição Humana saiu pelo seu selo, Coaxo do Sapo e dá pra ouvir inteiro na página oficial do cantor e tecladista no Soundcloud. Fora isso, tem uma ótima e esclarecedora entrevista sobre o álbum, colaborações e afins, no site da Trip, dá uma ligada lá. Entre outras coisas, Arantes rasga surpreendentes elogios para Mano Brown do Racionais MC's : "A obra de Mano Brown é maior que a de muitos poetas consagrados como Manuel Bandeira, por exemplo. Vão achar um absurdo um dizer isso. Mas imagina! Mano Brown é muito maior que Manuel Bandeira". Brown também não deixa por menos: “Você sempre agradou os pobres. Você queria ser cantor popular, ser um cantor de auditório. Você foi no Sílvio Santos, no Bolinha e no Chacrinha porque você queria agradar as meninas pobres. Todo mundo, minha mãe, minhas tias, minhas primas, meu povo do Capão. Você entra na lista de Roberto Carlos, de Amado Batista. E não é qualquer um que entra nesse mundo da gente”. Taí. Admiração mútua entre dois caras geniais.
"Condição Humana": Arantes em forma.

domingo, 14 de abril de 2013

Four Jazz Trio


Kieran Hebden (Four Tet) engata uma parceria com o duo londrino Rocketnumbernine, formado pelos irmãos Ben (teclados) e Tom Page (bateria). O vinil Roseland saiu em Fevereiro e capta o trio em duas trips jazzísticas gravadas num take só, sem overdubs nem cortes. "Roseland" é apoiada por um riff de teclado insistente e na amplitude da bateria acústica. "Metropolis" repete a criatividade de Tom Page com as baquetas, mas improvisa mais com as teclas. Não sei qual foi o papel de Four Tet na gravação, mas ao ouvir o single, lembrei do Pink Floyd pré-Dark Side Of The Moon.

"Roseland": trio afinado.
 

sábado, 13 de abril de 2013

Back To The House


Depois de um ótimo álbum lançado em 2011 (Ghost People), o holandês Martijn Deykers volta aos holofotes.


Newspeak EP saiu mês passado e traz três faixas que são uma brisa refrescante pra house music atual. O trabalho magistral e esmerado de Martyn programando as percussões ouvidas no EP fazem uma diferença enorme no resultado final: ouça a fantástica profusão de batidas no breakbeat "Oceania", emoldurada com um riff hipnótico de sintetizador e graves potentes reforçando o arranjo. "Newspeak" é uma house montada em cima de uma robusta base percussiva e uma linha de baixo gorda e minimalista. Strings tensos e o sampler captando o ritmo feminino ofegante garantem uma boa dose de volúpia à faixa. Em "What is Room 101" (referência à câmara de tortura que aparece em 1984, de George Orwell), a faixa começa com um esqueleto sacolejante de bateria e baixo sintético preenchida aos poucos com sintetizadores que crescem devagar e tornam-se abstratos no cruzamento de timbres da paleta sonora de Martyn. Criativo e altamente dançante.

"Oceania": quebradeira rebolativa.   

quinta-feira, 11 de abril de 2013

No Pescoço


Deixa ver se eu entendi: esse Bastille é uma espécie de simbiose entre o Coldplay e Florence and The Machine, com cara de indie moderninho? Mas que mistura mais indigesta. A estréia da banda, Bad Blood, debutou em primeiro lugar na Inglaterra, mês passado. Letras rasas, instrumental grandiloquente. É o disco com mais côros "ôôôô-ôôôô" do ano, ninguém tasca. E haja paciência.

"... I don’t want to hear about the bad blood anymore...". Nem eu.


quarta-feira, 10 de abril de 2013

Dançando No Escuro


Este é um daqueles momentos em que a dance music sai da pista de fininho e vai solitária pro lounge aconchegar-se num sofá.


Ainda bem que este EP do DJ e produtor alemão Nick Curly não tem nada a ver com a pilhagem que o duo dinamarquês farofa Bingo Players praticou em 2011 em cima do clássico de Brenda Russel: não contentes em copiar um trecho da letra, os Players ainda renomearam a faixa como "Cry (Just A Little)". Mas esta melancólica "Piano In The Dark" de Curly é uma deep house de percussão sexy e vocais soul (a cargo de Worthy Davis), e o piano aqui é elétrico. Pra ouvir sem estroboscópica.

"Piano In The Dark": clima de fim de festa.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Emissões, Eficiência


E esse cover dos noruegueses do Röyksopp para a gelada (sem trocadilhos) "Ice Machine" do Depeche Mode? Começa titubeante com os vocais de Susanne Sundfør, mas à medida que a faixa vai avançando, o gelo vai derretendo (ops!). Um ponto a mais pela idéia do rufar coletivo de tambores, o clima ganhou em dramaticidade. Originalmente lançada como lado B do primeiro single do Depeche ("Dreaming Of Me", de 1981), "Ice Machine" é obra do geniozinho Vince Clarke.

Xerox Tech House



Criar parece não ser problema para o prolífico Jay Lumen. O negócio é que suas idéias tem variado minimamente nos últimos singles e a quantidade de lançamentos não tem refletido na qualidade do material. 



Em Spin Like Fire, o húngaro não conseguiu nenhum gancho bom o suficiente pra tornar as três faixas identificáveis e dissociar dos trabalhos recentes (apesar do tech house competente e grooveado). Tem problema não. Semana que vem ele aparece com algo novo. 

"Spin Like Fire": Lumen começa a se repetir.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Segunda Class: Charles Bradley


Charles Bradley tem 64 anos, mas sua carreira, pouco mais de dez. Começou um trabalho às escondidas no final dos 90, como sósia de James Brown em pequenos clubes do Brooklyn, sob o nome Black Velvet. Numa dessas apresentações, foi descoberto por Gabriel Roth, co-fundador da Daptone Records - especializada em funk e soul sessentista. A Daptone gravou oito singles de Bradley até seu debut No Time For Dreaming, de 2011 e lança agora seu segundo álbum, Victim Of Love. O vozeirão de Bradley impressiona mesmo. Chega quase ao exagero na entrega visceral da faixa-título e no blues lânguido "Crying In The Chapel", mas é perfeitamente admissível dentro do contexto. Arranjos reluzentes, backing vocais amenizando o registro áspero de Bradley e composições que passam longe do mero pastiche, Victim Of Love é um senhor disco de soul music. Possivelmente o melhor do gênero do ano. Não é pouca coisa.


"Strictly Reserved For You": The Screaming Eagle of Soul.



domingo, 7 de abril de 2013

Tentando Ser Legal


Queridinho dos indies, o Phoenix passou dois anos gravando seu quinto álbum. O sucessor do exitoso Wolfgang Amadeus Phoenix (2009) sai oficialmente dia 22 de Abril.


Conforme a banda vinha anunciando, o novo trabalho pretendia lixar o verniz pop do disco anterior em favor de canções mais experimentais. Missão cumprida. Bankrupt! é chato que dói. Nada daquele descompromisso e frescor juvenil de “Lisztomania" ou "1901". Nos momentos menos dolorosos, os franceses soam como genéricos do naipe do Two Door Cinema Club em canções insossas com "Entertainment" ou "SOS In Bel Air", e quando imprimem uma certa seriedade (ou experimentalismo, como eles prometeram) às canções, saem coisas como os penosos sete minutos da faixa-título ou a sonolenta "Bourgeois". O disco ameaça entrar em combustão na batida "When Doves Cry" de "The Real Thing" ou no ótimo riff de guitarra de "Trying To Be Cool" (título sugestivo), mas duas boas faixas no meio de um álbum ruim não salvam Bankrupt!. Esse Phoenix precisa renascer.



"Trying To Be Cool": oásis.


sábado, 6 de abril de 2013

House Subterrânea


Que a melhor dance music encontrável desde sempre está longe dos holofotes você sabe, então a música sem rosto que brota de singles como este só reforça a tese. Lançado em Janeiro pelo selo francês My Love Is Underground, MLIU14 traz quatro faixas de house clássica com nomes tão desconhecidos quanto interessantes. Tem desde a pegada Chicago com vocais blueseiros do Seven Grand Housing Authority em "Jessica (It Feels Alright)", passando pela deep house do produtor americano Jay Brown e seu Groove Victim em "GSP Groove" até os misteriosos samples de voz que aparecem em "1995" de Zare. A melhor da leva é a primeira faixa, "MoTP", do produtor Henri Fontaine e seu projeto Inner Sense. Um piano ensandecido, um sax incisivo e uma linha de baixo galopante bastam pra colocar um sorriso no rosto durante seis minutos.

"MoTP", do Inner Sense. Quem?



sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Peter Kent


O cantor e produtor Peter Kent (nascido Peter Hedrich, na Alemanha) apareceu no meio dos 70 tentando a sorte no Eurovision - um concurso anual com canções de gosto pra lá de duvidoso - até conseguir um honroso terceiro lugar em 1975. Seu primeiro sucesso de fato foi "It's A Real Good Feeling", lançado em 1979. Chegou ao número um na parada alemã em Abril de 1980 e vendeu cerca de 750 mil cópias, hit massivo no Velho Continente. A faixa perambula entre a então moribunda disco (baixo e bateria) e o nascente technopop europeu (sintetizadores), com o insólito e excelente vocal efeminado de Kent. Obrigatória em qualquer festinha retrô imbuída de animação.

"It's A Real Good Feeling": disco germânica.



quinta-feira, 4 de abril de 2013

Revelação

 
 Disclosure são os irmãos Guy e Howard Lawrence, dois moleques ingleses (21 e 18 anos, respectivamente) que finalmente conseguem o hit que seu talento merecia: "White Noise" chegou a número 2 no paradão britânico em Fevereiro. Eles já haviam beliscado ano passado com a ótima "Latch" (# 11) - garage house com os vocais emotivos de Sam Smith - mas desta vez chamaram outro duo promissor (AlunaGeorge) e a parceria rendeu um pop house com um bassline insano, simplesmente irresistível. Álbum prestes a ser lançado. Vai estar entre as melhores coisas de 2013, tenha certeza.

"White Noise": vocais pop, bleeps hipnóticos.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Chvrches


Escoceses de Glasgow, o Chvrches (pronuncia-se Churches) foi criado em 2011 e não precisou mais do que dois singles lançados em 2012 pra ter seu nome incluído no BBC Sound Of 2013.


O trio soltou semana passada o EP Recover e mais uma vez a BBC parece estar certa em suas previsões. O som é um competente electropop que ganha contornos dramáticos com os vocais da gracinha Lauren Mayberry. A boa faixa-título e a razoável "ZWL" não chegam nem perto de "Now Is Not The Time", a melhor das três canções do disquinho: aqui a batida inspira passinhos dançados em câmera lenta, arpejos de sintetizador impulsionam o refrão e paradas estratégicas preparam o terreno para Mayberry desfilar sua voz frágil e segura ao mesmo tempo. Música forte, com todas as letras.

"Now Is Not The Time": time for Chvrches. 


terça-feira, 2 de abril de 2013

The Dark Knight

Mamãe passou açúcar ni mim.
"Eu estava tentando provar algo para as pessoas, tentando fazer algo para agradar os outros e também a mim mesmo, ao mesmo tempo, algo que nunca vai funcionar. Pensei que meus dois últimos álbuns eram bons, mas agora percebo que não eram. Este álbum é sobre encontrar-me novamente. "


Tio Tricky vai lançar em Maio seu False Idols, e o trecho acima foi extraído de seu site. É preciso lembrar que qualquer disco a ser lançado (quase) sempre vai ser vendido antecipadamente pelo autor como "um dos melhores que já fiz" e coisas do tipo, então não dá pra levar isso muito em conta. E olha que achei bacaninha sua coleção de canções mais recente (Mixed Race, 2010). Fato é que False Idols tem uma pista animadora com o lançamento do EP Matter Of Time. Quatro faixas, quatro vocalistas diferentes (incluindo um rap em francês com Pavement Grammar em "Frenglish"). "Matter of Time" (Liz Densmore), "I Could" (Francesca Belmonte) e "Forget" (FiFi Rong), além de boas faixas pontuadas por Tricky e seus sussurros do mal, trazem três vocalistas mais bonitas do que a realidade. Malandrão.

"Matter Of Time": revival trip-hop à vista? 



segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ex Machina


Para Karl Bartos, o mundo parou em 1980.


É assim que soa seu recente Off The Record, assumidamente retrô até na capa que retrata um Bartos ciborgue, com visual de 30 anos atrás. Primeiro álbum do ex-percussionista do Kraftwerk em dez anos, o que temos aqui é um technopop desprovido de experimentalismos: vocoders quase onipresentes, beats geométricos e sintetizadores que parecem emprestados do Kling Klang de 1981. Impossível desvencilhar Off The Record da obra de sua ex-banda. Ouça "Rhythmus" com batida à "Numbers" e melodia quase igual à de "Computer World" ou perceba que os temas escolhidos vão, obviamente, pelo mesmo caminho: "Atomium" lembra que Ralf Hütter já explorou o assunto em "Radio-Activity", "Vox Humana" tentando pegar o bastão onde a onomatopéica "Boing Boom Tschak" largou e referências que dizem respeito à cinemática pura - uma das obsessões do Kraftwerk  - como "Nachtfahrt" ("Passeio Noturno"). Pena que os bons momentos (coisas como os ritmos engrenados e quase dançantes de "Without a Trace of Emotion" e "Hausmusik") quase sejam soterrados por ingenuidades dignas de um Owl City, como na pavorosa "The Tuning of the World".

"Without a Trace of Emotion": KraftBartos