quinta-feira, 28 de maio de 2015

It's Only Words And Words Are All I Have


Queria saber qual é o método que o diretor de A&R da Get Physical (se é que eles tem um) usa pra acrescentar nomes ao cast e depois separar as faixas que entram nas compilações da gravadora alemã. Imagine dezenas de músicas entupindo seu email todo dia, com pretensos artistas que ainda não ultrapassaram musicalmente as janelas dos seus próprios quartos.

Não é o caso da recente coletânea Words Don't Come Easy, uma vez que a maioria aqui já tem uma carreira estabelecida (mesmo que grande parte ainda não tenha sentido o gostinho do mainstream) e a seleção não contenha exclusivamente lançamentos, as faixas foram pinçadas do belíssimo catálogo da Get Physical. A regra é uma só: tem que ter vocais. Daí o nome do disco, uma provável citação ao refrão do hit chumbrega "Words", de F.R. David (1982).

Abrindo os trabalhos com "Hausch", da dupla alemã andhim (em minúsculas, mesmo), dá pra sacar que a Get Physical seguiu à risca o tema, ainda que alguns cantores não tenham trabalhado exclusivamente para as faixas da seleção escolhida - porque em "Hausch", a impressão que tenho é que foi tudo extraído via sampler de velhos discos de blues e gospel. O resultado final compensou; lembra um Moby circa Play. O mesmo vale para a climática "Till The End Of...", de Anthony Middleton - embora a fonte destas vozes aparente ser outra (algum R&B que eu não conheço?). O próprio Middleton engata outra faixa no álbum, numa parceira com o DJ e produtor Luca Saporito e seu projeto Audiofly ("6 Degrees", que aparece num remix do Tale Of Us, com a voz da misteriosa Fiora).

A quarta faixa - do desconhecido Bedouin - é um crossover de pós-punk com dance music que rendeu a ótima "Walk Away". Agrada tanto na sala de estar quanto na pista de dança e é um dos melhores momentos da coletânea.



"It's All I Need", do duo mexicano Climbers, é uma surpreendente house vinda daqueles lados. Linha de baixo potente e empréstimo vocal de Judy Cheeks ("Respect", 1995). "Sunset", do belga Maxime Firket (Compuphonic), mantém o padrão alto de qualidade num tech house elegante (com vocais do cantor e violinista Marques Toliver) e com velocidade abaixo do usual.



A faixa mais pop e divertida de Words Don't Come Easy é, sem dúvida, o balaço "City Life" (com Cari Golden ao microfone e um remix espetacular de Maceo Plex). É uma merecida segunda chance para uma canção lançada originalmente em 2011.



As esquisitices também valem a pena. Excentricidades são sempre bem-vindas - como as mostradas nos pianinhos nervosos e nos vocais completamente desengonçados de "Remember Love", do duo francês Nôze (2007); nos backing vocals que emulam uma espécie de Laurie Anderson tech house (em "Crazy", da cantora pop francesa Ornette) e especialmente em "Moment" (Damian Lazarus, 2009), que começa como um pop nostálgico à Deacon Blue e termina como uma produção do DJ Koze.



Pra fechar, um remix fresquinho de uma música que já vinha pedindo uma atualizada há tempos: a clássica "Pearls" (Sade), saiu da sala de cirurgia com uma cara renovada (mesmo com poucos retoques) pelas mãos competentes do produtor Timo Jahns - que manteve inalterados os vocais extracool do original.



O saldo é altamente positivo. Não há uma faixa ruim em Words Don't Come Easy e quase tudo funciona bem tanto em casa quanto na pista - o que é sempre bom sinal. De quebra, reforça a certeza de uma posição alta pra Get Physical num hipotético Top 10 Gravadoras Mais Importantes de Dance Music dos últimos 10 anos.

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